São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Gasto público é trunfo dos Kirchner

Governo argentino usa subsídios e medidas econômicas para tentar vitória em eleições legislativas

Pleito do próximo domingo é vital para o casal governista, que desde o conflito com o campo e a crise perdeu em popularidade e arrecadação

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Terça-feira, 2 de junho. Sem mencionar a disputa eleitoral em curso na Argentina, o governador de Buenos Aires e candidato à Câmara dos Deputados, Daniel Scioli, visita sete cidades do interior. Pelo percurso de 900 km, distribui R$ 830 mil em subsídios, R$ 8,8 milhões em obras, 11 carros de polícia, 59 escrituras de posse.
Desde o registro das candidaturas ao Congresso, em 9 de maio, são R$ 8,9 milhões em subsídios entregues nas chamadas "jornadas de trabalho" do principal aliado do casal presidencial Néstor e Cristina Kirchner. De helicóptero oficial, Scioli passou por 54 cidades (40% do total da Província).
O gasto público é um dos trunfos do kirchnerismo para as eleições legislativas do próximo domingo, que renovam metade da Câmara e um terço do Senado. Aos subsídios de Scioli soma-se o uso de recursos econômicos federais.
O pleito é decisivo para os Kirchner, que perderam metade da popularidade -hoje em 30%- desde o conflito tributário com o campo, em 2008. Sem a economia a favor, o governo antecipou a votação e lançou Néstor e Scioli à Câmara pela Província de Buenos Aires.
"O uso do recursos públicos com fins políticos é chave das lealdades na política argentina. Sempre existiu, mas é maior nessa eleição", diz o analista político Rosendo Fraga.
O dinheiro também joga contra os Kirchner no pleito. O principal rival do governo na Província é o deputado federal Francisco De Narváez, dono de meios de comunicação e herdeiro de R$ 315 milhões.
Os gastos públicos federais seguem em alta, mesmo com a economia em desaceleração: cresceu 24% de janeiro a abril deste ano, enquanto a receita avançou 13%. As despesas em subsídios de Scioli superam, por exemplo, o limite legal de R$ 8,1 milhões por partido na eleição. "A lei proíbe o uso de fundos públicos em campanha, mas eles fazem parecer atos de governo", diz Manuel Garrido, diretor da ONG Cippec.
Scioli ampliou o respaldo do caixa provincial em maio, por um decreto que permitiu elevar o teto de subsídios para ajuda social "sem verificação posterior": de R$ 7.800 a R$ 15,6 mil para pessoas e de R$ 15,6 mil a R$ 31,3 mil para entidades.

Anúncios econômicos
O período eleitoral também é cenário de anúncios econômicos do governo. Em maio, vieram reajustes de 15% para o funcionalismo público federal e docentes universitários - cerca de 250 mil pessoas. Ao aumento se seguiram créditos para casa própria, anúncio sob medida à classe média urbana, em geral avessa aos Kirchner.
Pressionado pela crise, o governo começou em 2008 a desativar seu esquema de subsídios, vigente desde a megacrise econômica de 2001-2002. O chamado "tarifaço" -reajustes em transporte público (25%), pedágios (até 110%), luz (até 350%) e gás- se tornou cavalo de batalha da oposição.
Para a analista Graciela Römer, o impacto da "carteira eleitoral" do kirchnerismo é relativo: serve só para sustentar seu eleitorado cativo. "O clientelismo é histórico no país", diz, e aposta que o governo deve perder maioria no Congresso.
Atento à contenda com o campo, o kirchnerismo reforça sua estratégia: na quarta-feira, Scioli distribuiu 19 cheques a prefeitos de municípios rurais da Província, na forma de crédito agropecuário de R$ 78 milhões. Pediu ajuda aos prefeitos para "despolitizar" o conflito. "Mais além da campanha, sejamos objetivos", afirmou.


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