São Paulo, terça-feira, 21 de junho de 2011

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Assad promete reformas e perseguições

Ditador sírio faz discurso em que reconhece demandas legítimas por mudanças, mas acena com mais repressão

Em diversas cidades do país, população manifesta insatisfação com teor da fala; EUA e UE também reagem

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Sob a pressão de mais de três meses de protestos, o ditador da Síria, Bashar Assad, voltou a culpar uma conspiração estrangeira pela crise.
Ele reiterou as ameaças de retaliação, mas ofereceu um esboço de plano para aplicar reformas políticas no país.
Falando ontem a simpatizantes na Universidade de Damasco, Assad estendeu a mão a um "diálogo nacional" com opositores, disse que haverá eleições parlamentares em agosto e sugeriu uma reforma na atual Constituição.
Após o discurso, centenas de pessoas protestaram nas ruas de várias cidades contra o ditador, num sinal de que as reformas prometidas serão insuficientes para abafar a revolta contra o regime.
Foi o primeiro discurso de Assad em dois meses, em meio à convulsão causada por crescentes protestos reprimidos com violência pelo governo. Cerca de 1.300 foram mortos pelas forças de segurança, segundo ativistas de direitos humanos.
Repetindo a fórmula dos dois discursos anteriores, Assad combinou ameaças com promessas vagas de reforma.
Admitiu que há demandas legítimas por mudanças, mas prometeu perseguir os "sabotadores" que se aproveitam para instalar o caos.
"A conspiração foi planejada no exterior", disse, num discurso de 70 minutos interrompido por aplausos. "Trabalharemos para perseguir e responsabilizar todo aquele que derramar sangue."
Numa visita promovida pelo ministério das Relações Exteriores sírio, diplomatas e jornalistas foram levados ontem a uma cova comum em Jisr al Shughur (noroeste), onde o governo afirma terem sido enterrados 29 soldados mortos pelos opositores.
Acusações contra conspirações externas e promessas de reforma tidas como insuficientes são o roteiro seguido por outros países sacudidos por revoltas no mundo árabe, como Tunísia e Egito -com renúncia dos ditadores.
Ao contrário desses dois países, porém, na Síria o Exército continua leal ao regime e a população parece dividida. Embora os protestos tenham se espalhado pelo país, ainda não atingiram suas principais cidades, Damasco e Aleppo, indicando uma divisão de classes.
Desorganizada e fragmentada dentro do país, a oposição tenta aumentar a pressão a partir do exterior, divulgando cenas de violência praticada pelo governo e apelando à comunidade internacional para interceder.
Convictos de que só a queda do regime permitirá a abertura do país, desdenharam das ofertas e ameaças feitas ontem por Assad.
"As pessoas estão muito desapontadas, mas também felizes porque Assad deu mais um empurrão na insurgência ao dizer as coisas erradas", disse à TV CNN Ausama Monajed, ativista sírio baseado em Londres.
EUA e União Europeia também consideraram o discurso insuficiente. O Departamento de Estado americano disse que "são necessários atos, não palavras". A UE se disse desapontada e anunciou estar preparando novas sanções contra o regime sírio.


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