São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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"No Brasil não conhecem nossa realidade", diz Daniel, 19, soldado israelense no front

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM AVIVIM (FRONTEIRA ISRAEL-LÍBANO)

São garotos de 18 a 21 anos, com sonhos de viajar pelo mundo e de voltar para a casa da mãe, encontrar a namorada e sair para se divertir. Há uma semana estão acampados em barracas verdes, dormindo pouco, em média quatro horas por noite, e comendo rações militares. E disparando com artilharia pesada contra o sul do Líbano. Sabem que suas bombas podem atingir civis.
"Estou defendendo o meu país. É claro que me sinto mal se ouço que morreram civis do outro lado. Mas acho que eles não ligam muito se estão mirando os Katyushas contra as nossas cidades", diz um deles, em referência aos foguetes usados pelo Hizbollah.
É preciso fazer a mesma pergunta quatro vezes até que o jovem soldado ouça. "Sabe como é, uma semana disparando, com todo este barulho...", explica, antes de retirar os tampões de ouvido, que pouco ajudam a aliviar os estrondos.
Quando um jornalista chega perto, os rapazes se reúnem, curiosos. Eles têm a guerra nos rostos, uma expressão de preocupação que some quando ainda surgem sorrisos juvenis. Estão cercados por montes de munições e barracas militares. São puro suor, fedem a 35 C.
Mas querem mostrar que são meninos, e um deles começa a cantar uma música. Alguns acompanham e batem palmas, outros só observam.
A conversa varia de futebol a política e a morte de civis. Daniel, de 19 anos, um rapaz gorducho de pele morena, quer saber o que acham da guerra no Brasil, mas logo diz: "Acho que no Brasil não conhecem a nossa realidade aqui".
Outro, que está nos últimos três meses de serviço militar, diz que não liga para o que mundo pensa.
"Só me importa a situação dos cidadãos de Israel neste momento. Se não estivéssemos aqui, os terroristas estariam no nosso lugar", opina.
Os canhões de artilharia estão posicionados em um campo agrícola no norte de Israel. É proibido divulgar a localização exata. "Somos um alvo estático", analisa um oficial.
Os meninos são alvos estáticos e sabem que podem matar civis, tema que volta sempre. "Não quero pensar nisso, me sinto mal", diz outro soldado.
Nenhum deles diz ter medo. Todos repetem que estão prontos a lutar até quando for necessário, mesmo sentindo falta da mãe, da cama e da namorada, em nome da defesa do país. Mas sabem que estão fazendo guerra de verdade, e o medo se revela em suas faces. (MG)


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