|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"No Brasil não conhecem nossa realidade", diz Daniel, 19, soldado israelense no front
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
AVIVIM (FRONTEIRA ISRAEL-LÍBANO)
São garotos de 18 a 21 anos,
com sonhos de viajar pelo
mundo e de voltar para a casa
da mãe, encontrar a namorada
e sair para se divertir. Há uma
semana estão acampados em
barracas verdes, dormindo
pouco, em média quatro horas
por noite, e comendo rações
militares. E disparando com artilharia pesada contra o sul do
Líbano. Sabem que suas bombas podem atingir civis.
"Estou defendendo o meu
país. É claro que me sinto mal
se ouço que morreram civis do
outro lado. Mas acho que eles
não ligam muito se estão mirando os Katyushas contra as
nossas cidades", diz um deles,
em referência aos foguetes usados pelo Hizbollah.
É preciso fazer a mesma pergunta quatro vezes até que o jovem soldado ouça. "Sabe como
é, uma semana disparando,
com todo este barulho...", explica, antes de retirar os tampões
de ouvido, que pouco ajudam a
aliviar os estrondos.
Quando um jornalista chega
perto, os rapazes se reúnem,
curiosos. Eles têm a guerra nos
rostos, uma expressão de preocupação que some quando ainda surgem sorrisos juvenis. Estão cercados por montes de
munições e barracas militares.
São puro suor, fedem a 35 C.
Mas querem mostrar que são
meninos, e um deles começa a
cantar uma música. Alguns
acompanham e batem palmas,
outros só observam.
A conversa varia de futebol a
política e a morte de civis. Daniel, de 19 anos, um rapaz gorducho de pele morena, quer saber o que acham da guerra no
Brasil, mas logo diz: "Acho que
no Brasil não conhecem a nossa
realidade aqui".
Outro, que está nos últimos
três meses de serviço militar,
diz que não liga para o que
mundo pensa.
"Só me importa a situação
dos cidadãos de Israel neste
momento. Se não estivéssemos
aqui, os terroristas estariam no
nosso lugar", opina.
Os canhões de artilharia estão posicionados em um campo
agrícola no norte de Israel. É
proibido divulgar a localização
exata. "Somos um alvo estático", analisa um oficial.
Os meninos são alvos estáticos e sabem que podem matar
civis, tema que volta sempre.
"Não quero pensar nisso, me
sinto mal", diz outro soldado.
Nenhum deles diz ter medo.
Todos repetem que estão prontos a lutar até quando for necessário, mesmo sentindo falta
da mãe, da cama e da namorada, em nome da defesa do país.
Mas sabem que estão fazendo
guerra de verdade, e o medo se
revela em suas faces.
(MG)
Texto Anterior: Piora conflito em terra; mortos vão a 363 Próximo Texto: Guerra no Oriente Médio: Annan cobra cessar-fogo; Israel o rejeita Índice
|