São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

Próximo Texto | Índice

Milhares vão a La Paz contra troca de capital boliviana

Constituintes querem transferir sede do Executivo para Sucre, que já abriga Judiciário

Com apoio no altiplano, governo diz que medida tenta dividir país; oposição, nas terras altas, afirma que Sucre é o berço boliviano

Prefeitura de La Paz/Reuters
Protesto em El Alto, que organização diz ter atraído 1 milhão


DA REDAÇÃO

Em uma das maiores manifestações da história da Bolívia, centenas de milhares de pessoas tomaram ontem as ruas de El Alto e de La Paz, no altiplano boliviano, em uma marcha contra a proposta de transferência da sede do governo para a cidade de Sucre, em discussão na Assembléia Constituinte.
Liderados pelo governo local, os manifestantes deram um ultimato aos constituintes para que descartem a proposta que, segundo eles, representa um "gasto desnecessário" e um "risco para a unidade do país", além de provocar prejuízos econômicos à região.
"Damos à Assembléia Constituinte prazo até 6 de agosto para que elimine de maneira definitiva o tratamento do tema da sede do governo em todas as suas instâncias", diz resolução aprovada em uma espécie de assembléia popular dos manifestantes.
"Caso contrário, será dado início a uma greve departamental indefinida e uma mobilização geral e nacional, incluindo uma vigília permanente na Assembléia Constituinte", acrescentou.
O protesto foi liderado pelo governo do departamento de La Paz e pelas prefeituras locais, que estimaram a multidão em mais de 1 milhão de pessoas.
"A resposta da população foi maior do que imaginávamos", disse o governador José Luis Paredes.

Rivalidades
Local de fundação da Bolívia em 1825, Sucre foi capital do país até perder uma guerra civil para La Paz, e hoje abriga apenas o Poder Judiciário. Os demais Poderes, Executivo e Legislativo, têm sede em La Paz.
Os constituintes do departamento de Chuquisaca, onde fica Sucre, argumentam que a cidade teria melhores condições de representar a totalidade do país, já que fica na zona central, além de ser seu berço histórico.
Mas a proposta acabou acirrando rivalidades regionais entre os simpatizantes do presidente Evo Morales, no pobre altiplano, e seus adversários nas terras baixas, mais prósperas. O próprio governo Morales se manifestou contra a transferência da capital.
"Viemos dizer àqueles que querem nos separar, que querem a divisão de nosso país, que suas tentativas vão fracassar", disse à multidão o presidente da Câmara Municipal de La Paz, Luis Revilla.
O empresariado local também se somou ao protestos. "É impensável pretender que haja uma mudança de sede", disse o presidente da Federação de Empresários Privados de La Paz, Juan Enrique García.
Sob o lema "a sede não se move", milhares de camponeses, indígenas e moradores locais se deslocaram em quatro colunas, em uma marcha que se estendeu por vários quilômetros, e se concentraram na cabeceira da rodovia que liga La Paz a El Alto para a assembléia final.
As duas cidade amanheceram paralisadas. Empresas, órgãos públicos e bancos fecharam suas portas, e o tráfego era mínimo.
Instalada há um ano em Sucre, a Assembléia Constituinte até agora não conseguiu aprovar nem um único artigo. O prazo para a redação da nova Carta, já estendido anteriormente, é 14 de dezembro.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.