São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2008

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De Bogotá a Paris, milhares pedem libertação de reféns

Atos pelos seqüestrados na Colômbia foram os primeiros após o resgate de Ingrid

Manifestantes exigem que Farc soltem mais de 700 ainda em cativeiro; para ex-refém Clara Rojas, marcha é sinal de unidade do país


RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOGOTÁ

Centenas de milhares de pessoas tomaram ontem as principais ruas e avenidas de Bogotá em uma marcha para pedir a libertação de todos os seqüestrados por grupos ilegais colombianos, em especial os em poder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
A convocação, que coincidiu com a festa do Dia da Independência da Colômbia, reuniu na capital parentes e amigos de colombianos mortos, seqüestrados ou desaparecidos em quatro décadas de conflito armado.
A cena se repetiu por 1.100 municípios colombianos e outras 90 cidades no mundo inteiro, com manifestantes de branco e música. Libertada há 19 dias, após mais de 6 anos de cativeiro, a franco-colombiana Ingrid Betancourt comandou um ato em Paris, num palco montado em frente a torre Eiffel, ao lado do pop star colombiano Juanes e do cantor espanhol Miguel Bosé.
"Veja esta Colômbia, veja a mão estendida do presidente [Álvaro] Uribe. Entenda que já não é mais hora de derramar sangue", disse Ingrid ao novo líder das Farc, Alfonso Cano.
A ex-refém prometeu continuar mobilizada pela libertação dos ainda seqüestrados. Segundo cáculos de ONGs colombianas, são 3.500 pessoas seqüestradas na Colômbia -mais de 700 estão em poder da guerrilha.
Um dos temores de algumas famílias das pessoas ainda em cativeiro era que o tema fosse esquecido depois da libertação da seqüestrada mais célebre das Farc. Outro temor é que Bogotá lance ofensivas militares contra a guerrilha sem levar em contar a segurança dos reféns.

Esperança e mediação
Presente à Plaza Bolívar, onde a multidão se concentrou ao fim da marcha em Bogotá, a advogada colombiana e ex-assessora de Ingrid, Clara Rojas -libertada em janeiro após seis anos de cativeiro- qualificou o dia de ontem como um "sinal inequívoco" de unidade.
"Este é o momento de estarmos juntos e clamar às Farc para que tomem uma ação concreta e libertem os reféns."
À Folha, Rojas disse estar "feliz" com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua participação, ao lado de Uribe, de um ato em Letícia, na fronteira com o Brasil (leia texto nesta página).
"Estamos todos muitos felizes que Lula esteja nos acompanhando nesta união de esforços pela libertação dos seqüestrados. Tenho muito carinho por ele e espero que possamos compartilhar outros momentos importantes", disse.
Sobre o papel que o governo brasileiro poderia desempenhar no processo de pacificação, Rojas disse considerar que o país já faz um "grande esforço" neste sentido.
"É claro que sempre é possível buscar alternativas, sempre que isso ajudar a libertar outros reféns."
Lula já disse que só atuará no conflito se Uribe pedir. Mas o governo colombiano, fortalecido pelo exitoso resgate de Ingrid e outros 14 reféns no último dia 2, já declarou que buscará contato direto com a guerrilha e suspendeu a mediação de países europeus.
O policial aposentado José Villamille, 54, veio logo cedo à marcha em Bogotá. Trazia uma faixa com a foto de um colega, Luis Mendieta, seqüestrado em 1998 com outros 30 policiais. Carta de Mendieta, trazida por uma refém libertada, narrou o inferno do cativeiro na selva e emocionou a Colômbia no começo do ano.
"Ele [Mendieta] era o nosso comandante. Hoje vim trazer uma mensagem para todos eles, para que tenham confiança e para que saibam não os esquecemos", disse.
Também com camisetas e cartazes personalizados, Arturo Rubiano, 34, veio lembrar o irmão, Edgar Garzón, seqüestrado pelas Farc em 2004. Ele diz que a recente libertação de Ingrid fez renascer as esperanças da família.


Com a REDAÇÃO e agências internacionais

Por falta de opções em vôos comerciais, a reportagem fez o trecho Rio Branco-Bogotá em aeronave da FAB, à convite da Presidência



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