São Paulo, segunda-feira, 21 de agosto de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

ONU alerta para "abismo de violência"

Para Terje Roed-Larsen, enviado da organização ao Líbano, nova violação da trégua levará a "derramamento de sangue'

Premiê Olmert recusa força de paz com países que não mantêm relação com Israel; UE convoca reunião para discutir situação na região

DA REDAÇÃO

A ONU afirmou ontem que o cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hizbollah pode facilmente fracassar e cair em "um abismo de violência e derramamento de sangue", caso seja violado novamente, como ocorreu anteontem. Para o enviado da organização ao Líbano, o norueguês Terje Roed-Larsen, a trégua dá uma oportunidade ao governo libanês de fazer valer sua autoridade em todo o país. Roed-Larsen deu a declaração em Beirute, pouco antes de rumar para Israel.
Em telefonema a seu colega italiano Romano Prodi, o premiê israelense, Ehud Olmert, pediu que a Itália lidere a força de paz da ONU no Líbano, segundo comunicado emitido por seu gabinete. "É importante que a Itália lidere essa força e envie soldados também para supervisionar a fronteira do Líbano com a Síria", diz o texto. A França havia se oferecido para a missão, mas prometeu apenas mais 200 homens, além dos 200 que já estão no Líbano. Roma não deixou claro quantos soldados pretende enviar.
Olmert também disse que não aceitará a presença de soldados que venham de países que não mantêm relações diplomáticas com o seu. A decisão atinge Indonésia, Malásia e Bangladesh, todos países islâmicos, e complica os esforços da ONU para reunir 15 mil homens na força de paz.
Na véspera, a ONU condenara o ataque realizado por Israel contra o Hizbollah no leste do Líbano, que violou o cessar-fogo negociado pela organização após 34 dias de conflito em que mais de mil pessoas morreram -quase 900 do lado libanês. Roed-Larsen afirmou que quaisquer outros ataques irão desencorajar os países que compõem a força internacional a enviarem soldados à região.
Para Israel, o ataque foi defensivo e portanto não violou a trégua, pois visava a interromper o fornecimento de armas ao Hizbollah a partir de Irã e Síria.
Já o governo libanês, que vem se recusando a desarmar o Hizbollah, prometeu "esmagar" qualquer tentativa, do seu lado da fronteira, de romper a trégua, afirmando que quem o fizer será considerado traidor.
"O Exército será muito duro em casos assim", afirmou o ministro da Defesa, Elias Murr. "Qualquer foguete disparado do Líbano irá beneficiar Israel", sugerindo que isso serviria de pretexto para Israel atacar.

Reuniões
A França pediu à União Européia que convoque uma reunião dos países-membros sobre o Líbano. Segundo uma autoridade da Finlândia, que ocupa a presidência rotativa do bloco, o Comitê de Segurança e Política da UE deve se reunir na quarta.
Até agora, poucos países fizeram contribuições significativas para a força de paz, pois entendem que as regras sob as quais seus soldados irão operar estão mal definidas. Mas Vijay Nambiar, outro enviado da ONU ao Líbano, disse que elas já estão "quase finalizadas".
Muito criticado, Olmert anunciou que irá formar um grupo para estudar a atuação do governo e das Forças Armadas no conflito, mas não especificou sua composição e seus objetivos. Seus críticos afirmam que Israel avaliou de forma pouco clara os desdobramentos da guerra e tergiversou quando decisões-chave precisariam ter sido tomadas (leia texto ao lado).
Os ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe convocaram ontem uma reunião de emergência para discutir como financiar a reconstrução do Líbano e tentar diminuir o crescente desacordo entre os árabes moderados e a Síria, que apóia o Hizbollah. A Arábia Saudita disse que já doou US$ 500 milhões, e o Kuwait planeja doar US$ 800 milhões. O Irã disse estudar um pacote.
Também ontem, o ministro da Justiça israelense, Haim Ramon, renunciou após a Justiça do país anunciar que levará a cabo ações contra ele por assédio sexual. Ele teria beijado uma militar contra a vontade dela em uma festa no início da ofensiva. Ramon nega.


Com agências internacionais



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