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Pai de refém das Farc busca mediação de países vizinhos
O colombiano Gustavo Moncayo chegou ontem a Caracas para reunião com Chávez
"Depois vamos a Lula, Bachelet e Correa", afirma Moncayo, cujo filho, cabo do Exército, foi seqüestrado há dez anos pela guerrilha
SYLVIA COLOMBO
EM BOGOTÁ
No último domingo, a poucas
horas de tomar um avião para
Caracas atrás do apoio do presidente venezuelano Hugo Chávez, o professor Gustavo Moncayo posava para fotos do lado
de fora da tenda improvisada
onde vive desde o último dia 1º,
na praça Bolívar, no centro da
capital colombiana.
Sorridente, amarrado a correntes e vestindo uma camiseta
com a foto do filho -seqüestrado pelas Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia)
em 1997-, Moncayo conversava com simpatizantes que
aproveitaram o dia ensolarado
para prestar solidariedade à
sua campanha pelo acordo humanitário -que permitiria que
as Farc libertassem 45 policiais, soldados, políticos e americanos seqüestrados e mantidos na selva, em troca de 500
rebeldes presos.
"Depois de Chávez, vamos
pedir apoio a Lula, Bachelet
(Chile) e Rafael Correa (Equador)", disse Moncayo à Folha.
O professor de ciências sociais
caminhou durante 46 dias os
900 quilômetros desde Sandoná (sudoeste do país) até Bogotá para pedir a devolução do filho, o cabo Pablo Emilio Moncayo, um dos prisioneiros que
estão há mais tempo em poder
da guerrilha.
"Meu filho não era nenhum
assassino. Saiu do colégio, entrou para o Exército e, quando
acabava de atingir o posto de
cabo, simplesmente o levaram.
Era um servidor público, e tinha apenas 18 anos. Não é possível que o povo colombiano
esteja quieto enquanto pessoas
como ele estão morrendo na
selva, perto de nós", disse.
O cabo Moncayo foi seqüestrado em dezembro de 1997
num ataque rebelde a uma base
militar na colina Patascoy
(Província de Nariño, na fronteira com o Equador).
Ontem, Moncayo chegou à
capital venezuelana acompanhado de outros 14 colombianos familiares de seqüestrados,
como a mãe da ex-candidata
presidencial Ingrid Betancourt, Yolanda Pulecio. A audiência com Chávez ocorreria à
noite, no Palácio Miraflores.
Do venezuelano, Moncayo
diz que espera uma mediação e,
"se possível, um pedaço do território venezuelano onde seja
possível colocar as partes para
conversar".
A iniciativa de buscar aliança com o presidente
venezuelano partiu da senadora liberal Piedad Córdoba, que
teve o aval do presidente colombiano, Álvaro Uribe.
"Eu não tenho motivação política, só quero ser um instrumento para fazer com que a sociedade colombiana se identifique não mais pela guerra, mas
para engajar-se numa luta pela
paz", disse.
O professor tem recebido caravanas que vêm do interior do
país e também militantes ilustres na luta contra o fim da
guerra. Familiares de reféns já
prestaram apoio a Moncayo. As
paredes das tendas estão cheias
de cartazes e fotos de pessoas
desaparecidas.
Mediação
Depois de um primeiro encontro tumultuado com Uribe,
Moncayo já adota uma posição
diplomática com relação ao
presidente. "Eu não posso dizer
à guerrilha que atue de um jeito
ou de outro, não é meu papel.
Deve ser instalada uma zona
desmilitarizada de convivência, em que o presidente e a
guerrilha negociem. Chávez
pode ser um mediador, é bom
contar com os irmãos venezuelanos e até com o território venezuelano. Mas quem tem de
enfrentar a questão são Uribe e
as Farc." O presidente colombiano já disse estar disposto a
autorizar uma zona desmilitarizada por 90 dias para a troca
de reféns, mas as Farc vêm exigindo negociações prévias.
Apesar da pequena estrutura
armada na praça -duas barracas com dormitório, sala de espera e cafeteria para os soldados que cuidam da segurança-, Moncayo não está passando todo tempo ali. "Vou ficar acampado na praça até que o acordo
seja uma realidade. Mas também não vou passar aqui o tempo todo. Tenho uma agenda.
Estou indo a universidades, escolas, sindicatos e quero ir às
prisões, tentar convencer os
guerrilheiros a desistirem dessa guerra."
O professor já vê resultados
de sua campanha? "Sim. Quando eu saí de casa, disse para minha mulher e minhas filhas que
isso não teria volta até que o
acordo humanitário saísse.
Acho que estou ajudando a fazer com que o povo colombiano
deixe a apatia e o medo de combater esse problema. Cada nova
assinatura que recolhemos já é
um sucesso."
Colaborou FABIANO MAISONNAVE , em Caracas
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