São Paulo, terça-feira, 21 de agosto de 2007

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Pai de refém das Farc busca mediação de países vizinhos

O colombiano Gustavo Moncayo chegou ontem a Caracas para reunião com Chávez

"Depois vamos a Lula, Bachelet e Correa", afirma Moncayo, cujo filho, cabo do Exército, foi seqüestrado há dez anos pela guerrilha

SYLVIA COLOMBO
EM BOGOTÁ

No último domingo, a poucas horas de tomar um avião para Caracas atrás do apoio do presidente venezuelano Hugo Chávez, o professor Gustavo Moncayo posava para fotos do lado de fora da tenda improvisada onde vive desde o último dia 1º, na praça Bolívar, no centro da capital colombiana.
Sorridente, amarrado a correntes e vestindo uma camiseta com a foto do filho -seqüestrado pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em 1997-, Moncayo conversava com simpatizantes que aproveitaram o dia ensolarado para prestar solidariedade à sua campanha pelo acordo humanitário -que permitiria que as Farc libertassem 45 policiais, soldados, políticos e americanos seqüestrados e mantidos na selva, em troca de 500 rebeldes presos.
"Depois de Chávez, vamos pedir apoio a Lula, Bachelet (Chile) e Rafael Correa (Equador)", disse Moncayo à Folha. O professor de ciências sociais caminhou durante 46 dias os 900 quilômetros desde Sandoná (sudoeste do país) até Bogotá para pedir a devolução do filho, o cabo Pablo Emilio Moncayo, um dos prisioneiros que estão há mais tempo em poder da guerrilha.
"Meu filho não era nenhum assassino. Saiu do colégio, entrou para o Exército e, quando acabava de atingir o posto de cabo, simplesmente o levaram. Era um servidor público, e tinha apenas 18 anos. Não é possível que o povo colombiano esteja quieto enquanto pessoas como ele estão morrendo na selva, perto de nós", disse.
O cabo Moncayo foi seqüestrado em dezembro de 1997 num ataque rebelde a uma base militar na colina Patascoy (Província de Nariño, na fronteira com o Equador).
Ontem, Moncayo chegou à capital venezuelana acompanhado de outros 14 colombianos familiares de seqüestrados, como a mãe da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, Yolanda Pulecio. A audiência com Chávez ocorreria à noite, no Palácio Miraflores. Do venezuelano, Moncayo diz que espera uma mediação e, "se possível, um pedaço do território venezuelano onde seja possível colocar as partes para conversar".
A iniciativa de buscar aliança com o presidente venezuelano partiu da senadora liberal Piedad Córdoba, que teve o aval do presidente colombiano, Álvaro Uribe. "Eu não tenho motivação política, só quero ser um instrumento para fazer com que a sociedade colombiana se identifique não mais pela guerra, mas para engajar-se numa luta pela paz", disse.
O professor tem recebido caravanas que vêm do interior do país e também militantes ilustres na luta contra o fim da guerra. Familiares de reféns já prestaram apoio a Moncayo. As paredes das tendas estão cheias de cartazes e fotos de pessoas desaparecidas.

Mediação
Depois de um primeiro encontro tumultuado com Uribe, Moncayo já adota uma posição diplomática com relação ao presidente. "Eu não posso dizer à guerrilha que atue de um jeito ou de outro, não é meu papel.
Deve ser instalada uma zona desmilitarizada de convivência, em que o presidente e a guerrilha negociem. Chávez pode ser um mediador, é bom contar com os irmãos venezuelanos e até com o território venezuelano. Mas quem tem de enfrentar a questão são Uribe e as Farc." O presidente colombiano já disse estar disposto a autorizar uma zona desmilitarizada por 90 dias para a troca de reféns, mas as Farc vêm exigindo negociações prévias.
Apesar da pequena estrutura armada na praça -duas barracas com dormitório, sala de espera e cafeteria para os soldados que cuidam da segurança-, Moncayo não está passando todo tempo ali. "Vou ficar acampado na praça até que o acordo seja uma realidade. Mas também não vou passar aqui o tempo todo. Tenho uma agenda.
Estou indo a universidades, escolas, sindicatos e quero ir às prisões, tentar convencer os guerrilheiros a desistirem dessa guerra." O professor já vê resultados de sua campanha? "Sim. Quando eu saí de casa, disse para minha mulher e minhas filhas que isso não teria volta até que o acordo humanitário saísse.
Acho que estou ajudando a fazer com que o povo colombiano deixe a apatia e o medo de combater esse problema. Cada nova assinatura que recolhemos já é um sucesso."


Colaborou FABIANO MAISONNAVE , em Caracas


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