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REVOLUÇÃO DOS BITS
Para estudiosos, surto tecnológico dos últimos anos trouxe riqueza somente para uma pequena parte do país
Boom tecnológico amplia abismo social na Índia
LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO
O setor de tecnologia da informação (TI) é o segmento que
mais cresce na economia indiana,
tanto em números de produção
quanto de exportação.
Mas o boom que, nos últimos
dez anos, cravou o país definitivamente no mapa da tecnologia eletrônica mundial criou um paradoxo: enquanto cidades como
Bangalore, no sul, experimentam
um desenvolvimento acelerado e
a criação de milhares de empregos, a maior parte do país segue
imersa na pobreza. Para alguns
estudiosos, o surto tecnológico só
ampliou as diferenças sociais.
O governo diz estar tomando
todas as providências para tornar
a Índia uma "superpotência tecnológica global" e fez dessa bandeira uma de suas prioridades.
Entretanto especialistas entrevistados pela Folha acreditam
que os efeitos dessa empreitada
pouco serão sentidos pela maior
parte da população - afinal, como lembra Geoff Walsham, diretor de Estudos Administrativos
sobre Sistemas de Informação na
Universidade de Cambridge (Reino Unido), na Índia, o que é tratado em "milhares", é apenas uma
gota d'água num oceano.
Prioridade é exportar
Walsham aponta o fato de esse
crescimento ser quase totalmente
orientado para a exportação como o maior motivo para o boom
tecnológico indiano.
De fato, enquanto as exportações indianas de softwares e serviços ligados à TI saltaram 60% por
ano, segundo os dados mais recentes do governo indiano (2001),
e o PIB do país apresentou um
crescimento constante em torno
dos 7%, o país passou, no ranking
do Índice de Desenvolvimento
Humano listado pela ONU, do
115º lugar em 2001 para o 127º
neste ano. O Brasil é o 65º.
"A riqueza criada pela indústria
de TI ainda precisa ser traduzida
em uma melhora visível nos indicadores sociais de desenvolvimento", diz R. Nagaraj, professor
do Instituto Indira Gandhi de
Pesquisa sobre Desenvolvimento.
"O boom tecnológico na Índia
não estará completo até que o país
reforme seu setor manufatureiro,
como fez a China", afirma Sunanda Sen, da Academia de Estudos
do Terceiro Mundo da Universidade Jamia Milia, em Nova Déli.
A professora cita a melhoria da
infra-estrutura física do país, a reforma das leis trabalhistas e a busca de um maior investimento estrangeiro direto como os três
pontos cruciais para que a Índia
se torne uma história de sucesso.
O governo do premiê Atal Bihari Vajpayee e alguns governos estaduais têm tentado atrair o investimento externo por meio da melhora de infra-estrutura e de incentivos fiscais, mas os resultados
ainda são incipientes e pouco se
fazem sentir sobre a população.
Falha na educação
"Enquanto a educação e os negócios por meio da TI se expandiram enormemente, a educação
primária para as massas pobres
ainda é precária em termos de
qualidade e oferta", diz o professor de ciência política Manoranjan Mohanty, da Universidade de
Déli. "Isso também vale para a
saúde nas zonas rurais e tribais e
nas favelas em grandes cidades."
Saúde e educação, segundo os
especialistas, são os dois tópicos
mais relegados no país.
"O boom de TI e o baixo desempenho em desenvolvimento humano são, em alguns casos, dois
lados da mesma moeda", afirma
Nagaraj, lembrando que, enquanto o PIB per capita no país dobrou
os últimos 20 anos, o investimento em educação e saúde teve um
aumento discreto. "Para cada dólar gasto em educação primária,
três são gastos em educação de
terceiro grau."
Mohanty concorda com a relação. "Os obstáculos vêm da estratégia de desenvolvimento, que
nos últimos anos retirou incentivos de áreas básicas e não adequou a infra-estrutura de desenvolvimento nas regiões pobres."
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