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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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REVOLUÇÃO DOS BITS

Para estudiosos, surto tecnológico dos últimos anos trouxe riqueza somente para uma pequena parte do país

Boom tecnológico amplia abismo social na Índia

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

O setor de tecnologia da informação (TI) é o segmento que mais cresce na economia indiana, tanto em números de produção quanto de exportação.
Mas o boom que, nos últimos dez anos, cravou o país definitivamente no mapa da tecnologia eletrônica mundial criou um paradoxo: enquanto cidades como Bangalore, no sul, experimentam um desenvolvimento acelerado e a criação de milhares de empregos, a maior parte do país segue imersa na pobreza. Para alguns estudiosos, o surto tecnológico só ampliou as diferenças sociais.
O governo diz estar tomando todas as providências para tornar a Índia uma "superpotência tecnológica global" e fez dessa bandeira uma de suas prioridades.
Entretanto especialistas entrevistados pela Folha acreditam que os efeitos dessa empreitada pouco serão sentidos pela maior parte da população - afinal, como lembra Geoff Walsham, diretor de Estudos Administrativos sobre Sistemas de Informação na Universidade de Cambridge (Reino Unido), na Índia, o que é tratado em "milhares", é apenas uma gota d'água num oceano.

Prioridade é exportar
Walsham aponta o fato de esse crescimento ser quase totalmente orientado para a exportação como o maior motivo para o boom tecnológico indiano.
De fato, enquanto as exportações indianas de softwares e serviços ligados à TI saltaram 60% por ano, segundo os dados mais recentes do governo indiano (2001), e o PIB do país apresentou um crescimento constante em torno dos 7%, o país passou, no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano listado pela ONU, do 115º lugar em 2001 para o 127º neste ano. O Brasil é o 65º.
"A riqueza criada pela indústria de TI ainda precisa ser traduzida em uma melhora visível nos indicadores sociais de desenvolvimento", diz R. Nagaraj, professor do Instituto Indira Gandhi de Pesquisa sobre Desenvolvimento.
"O boom tecnológico na Índia não estará completo até que o país reforme seu setor manufatureiro, como fez a China", afirma Sunanda Sen, da Academia de Estudos do Terceiro Mundo da Universidade Jamia Milia, em Nova Déli.
A professora cita a melhoria da infra-estrutura física do país, a reforma das leis trabalhistas e a busca de um maior investimento estrangeiro direto como os três pontos cruciais para que a Índia se torne uma história de sucesso.
O governo do premiê Atal Bihari Vajpayee e alguns governos estaduais têm tentado atrair o investimento externo por meio da melhora de infra-estrutura e de incentivos fiscais, mas os resultados ainda são incipientes e pouco se fazem sentir sobre a população.

Falha na educação

"Enquanto a educação e os negócios por meio da TI se expandiram enormemente, a educação primária para as massas pobres ainda é precária em termos de qualidade e oferta", diz o professor de ciência política Manoranjan Mohanty, da Universidade de Déli. "Isso também vale para a saúde nas zonas rurais e tribais e nas favelas em grandes cidades."
Saúde e educação, segundo os especialistas, são os dois tópicos mais relegados no país.
"O boom de TI e o baixo desempenho em desenvolvimento humano são, em alguns casos, dois lados da mesma moeda", afirma Nagaraj, lembrando que, enquanto o PIB per capita no país dobrou os últimos 20 anos, o investimento em educação e saúde teve um aumento discreto. "Para cada dólar gasto em educação primária, três são gastos em educação de terceiro grau."
Mohanty concorda com a relação. "Os obstáculos vêm da estratégia de desenvolvimento, que nos últimos anos retirou incentivos de áreas básicas e não adequou a infra-estrutura de desenvolvimento nas regiões pobres."


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