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Protestos põem Hungria em encruzilhada política
Pressão por renúncia de premiê aumenta, mas a UE não confia na oposição
Principal opção ao socialista Ferenc Gyurcsany, que mentiu sobre contas públicas, é o líder da direita ultranacionalista
PAULO REBÊLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
BUDAPESTE
No terceiro dia de protestos
em Budapeste, com 15 mil manifestantes pedindo sua renúncia em frente ao Parlamento, o
primeiro-ministro húngaro Ferenc Gyurcsany reafirmou ontem, em entrevista coletiva,
que não deixa o cargo e que fará
o possível para conter a violência dos manifestantes nas ruas.
Em uma fita vazada à imprensa
na noite de domingo, o premiê
admitiu ter mentido e maquiado números da economia para
se reeleger, em abril passado.
A pressão popular contra
Gyurcsany põe a Hungria e a
União Européia (UE) numa encruzilhada política: a principal
alternativa à coalizão liderada
pelo Partido Socialista (ex-comunista) do premiê é a direita
nacionalista, em quem a UE
não confia para implementar o
programa de austeridade exigido para adaptar o país às regras
econômicas do bloco. A Hungria aderiu à UE em 2004.
Futuro
A atual crise está sendo
apontada como o mais dramático evento no país desde a queda do comunismo, em 1989. Paradoxalmente, a troca de regime para o capitalismo ocorreu
pacificamente.
Fontes internas do governo
dão como certo que, na eventualidade da queda de Gyurcsany, o Parlamento repassará o
cargo de primeiro-ministro ao
representante da extrema-direita, Viktor Orban, ex-primeiro-ministro e líder do Fidesz,
partido conservador sob suspeita de encorajar parte dos
manifestantes à violência.
A segunda opção seria um
primeiro-ministro da ala reformista de Guyrscany, que dificilmente teria respaldo parlamentar devido às divisões internas da coalizão. E, em última
hipótese, a convocação de eleições gerais, o que colocaria em
dúvida a capacidade de o país
atingir as metas exigidas pela
UE.
Para o conselheiro do Centro
de Jornalismo Independente
na Hungria, Sándor Orban, o
que está acontecendo hoje é
um paradoxo sem precedentes.
"Se Gyurscansy deixar o cargo,
podemos entrar em colapso
porque as reformas não serão
feitas. Se permanecer, também
podemos entrar em colapso
porque ele pode não conseguir
governar e o país pode ficar
ilhado. E, se a extrema-direita
assumir, a economia pode simplesmente ficar estagnada ou
regredir para fins populistas."
Nas ruas, o sentimento não é
muito diferente. "Gyurcsany
não é o primeiro a mentir descaradamente, não será o último, e todos nós sabemos que
todos os políticos daqui fazem
promessas que não podem
cumprir. Se ele ficar no cargo
depois de tudo o que falou, é
ruim. Se ele sair, também é
ruim. O que nos sobra?", indaga
a professora de idiomas Veronika Nagy.
Reformas
Para a UE, enquanto Guyrcsany permanecer no cargo, a
esperança é que as reformas
econômicas, que incluem aumento de impostos e cortes de
gastos sociais, sejam mantidas.
O governo deve apresentar na
próxima semana, em Bruxelas
(sede da Comissão Européia), a
versão final do plano de reestruturação econômica para os
próximos anos.
O objetivo do plano é reduzir
o déficit público, estimado hoje
em 10% do PIB (Produto Interno Bruto), para os 3% do PIB
exigidos pela UE. Foi ao mentir
sobre os números das contas
públicas que o premiê enganou
os húngaros, surpreendidos pelo aumento de impostos e cortes no funcionalismo anunciados por ele depois de reeleito.
Em um dos trechos da gravação, Gyurcsany afirmou: "Mentimos durante todo este tempo,
um ano e meio, talvez dois. E
não fizemos nada nos últimos
quatro anos".
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