São Paulo, sexta-feira, 21 de setembro de 2007

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Ditador do Zimbábue resiste a deixar poder

Parlamento aprova lei para permitir a Robert Mugabe, que lidera país há 27 anos, indicar sucessor após aposentadoria

Apesar da crise política e dos relatos de abusos, Conselho de Direitos Humanos da ONU limita discussão sobre problemas do país africano

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

Três minutos. Este é o tempo que terá na 6ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU a discussão sobre a crise no Zimbábue, em uma exposição do ativista político e advogado Tafadzwa Ralph Mugabe, na próxima segunda-feira. Mas, enquanto na ONU a ação é limitada, no Zimbábue o governo não fica parado: foi aprovada ontem no Parlamento uma lei que abre o caminho para que o ditador Robert Mugabe, líder do país há 27 anos, perpetue sua influência mesmo depois que sair do poder.
"A comunidade internacional não age e o governo já está preparando o caminho para o que vai acontecer depois que Mugabe vencer as próximas eleições, em março de 2008", afirmou Tafadzwa à Folha, por telefone, de Genebra. "O governo nem considera a chance de ele não ganhar de novo."
Mugabe, 83, é acusado de violar os direitos humanos e coibir a participação política e os direitos da oposição no Zimbábue, que tem duras leis contra a liberdade de associação e de imprensa. Ele também é suspeito de fraudar eleições para continuar no poder. O presidente nega e afirma que há um complô internacional para derrubá-lo.
A lei aprovada ontem dá ao Parlamento -dominado pelo partido Zanu-PF, de Mugabe- o direito de escolher um sucessor caso um presidente não termine seu mandato.
A medida chega dois dias depois de a ONG International Crisis Group afirmar que, "a seis meses da eleição, o Zimbábue está à beira do colapso".

Oposição domada
Herói nacional da luta contra a libertação do domínio colonial britânico, Mugabe foi o primeiro -e único- presidente do Zimbábue a partir de 1980, depois da independência.
Para Andebrhan Giorgis, analista sênior do International Crisis Group para a África, a aprovação da lei ontem é mais uma mostra da debilidade da oposição, que enfrenta profundas divisões internas. O partido opositor MDC votou a favor da lei, supostamente em troca da limitação do poder de Mugabe para indicar congressistas.
Mugabe detém também considerável apoio entre vizinhos do sul da África, que tradicionalmente encaram críticas estrangeiras como resquícios da dominação colonial.
Para Giorgis, a recente ameaça do premiê britânico, Gordon Brown, de boicotar a próxima cúpula entre a União Européia e a União Africana caso Mugabe esteja presente reforça a imagem de um "complô" internacional. "Brown tentou conquistar apoio de outros membros da UE para o boicote, mas não conseguiu. Sua ameaça solitária só serve para dar uma vitória a Mugabe", disse.

Mudanças
Para Tafadzwa, membro do MDC e que conta em Genebra com o apoio de seis ONGs (inclusive a brasileira Conectas), não basta promover o diálogo entre governo e oposição. "Isso não toca nas questões fundamentais: a falta de direitos políticos e a crise econômica."
O que promete ser crucial para forçar mudanças é a pressão econômica, em um país com a maior taxa de inflação do mundo -7.600% ao mês, segundo o governo, e 13.000% ao mês, segundo estimativas independentes. O Fundo Monetário Internacional advertiu que, ao final de 2007, a inflação no ano poderá chegar a 100.000%.


Com agências internacionais


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