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Ditador do Zimbábue resiste a deixar poder
Parlamento aprova lei para permitir a Robert Mugabe, que lidera país há 27 anos, indicar sucessor após aposentadoria
Apesar da crise política e dos relatos de abusos, Conselho de Direitos Humanos da ONU limita discussão sobre problemas do país africano
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Três minutos. Este é o tempo
que terá na 6ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da
ONU a discussão sobre a crise
no Zimbábue, em uma exposição do ativista político e advogado Tafadzwa Ralph Mugabe,
na próxima segunda-feira. Mas,
enquanto na ONU a ação é limitada, no Zimbábue o governo
não fica parado: foi aprovada
ontem no Parlamento uma lei
que abre o caminho para que o
ditador Robert Mugabe, líder
do país há 27 anos, perpetue
sua influência mesmo depois
que sair do poder.
"A comunidade internacional não age e o governo já está
preparando o caminho para o
que vai acontecer depois que
Mugabe vencer as próximas
eleições, em março de 2008",
afirmou Tafadzwa à Folha, por
telefone, de Genebra. "O governo nem considera a chance de
ele não ganhar de novo."
Mugabe, 83, é acusado de
violar os direitos humanos e
coibir a participação política e
os direitos da oposição no Zimbábue, que tem duras leis contra a liberdade de associação e
de imprensa. Ele também é
suspeito de fraudar eleições
para continuar no poder. O
presidente nega e afirma que
há um complô internacional
para derrubá-lo.
A lei aprovada ontem dá ao
Parlamento -dominado pelo
partido Zanu-PF, de Mugabe-
o direito de escolher um sucessor caso um presidente não termine seu mandato.
A medida chega dois dias depois de a ONG International
Crisis Group afirmar que, "a
seis meses da eleição, o Zimbábue está à beira do colapso".
Oposição domada
Herói nacional da luta contra
a libertação do domínio colonial britânico, Mugabe foi o primeiro -e único- presidente
do Zimbábue a partir de 1980,
depois da independência.
Para Andebrhan Giorgis,
analista sênior do International Crisis Group para a África, a
aprovação da lei ontem é mais
uma mostra da debilidade da
oposição, que enfrenta profundas divisões internas. O partido
opositor MDC votou a favor da
lei, supostamente em troca da
limitação do poder de Mugabe
para indicar congressistas.
Mugabe detém também considerável apoio entre vizinhos
do sul da África, que tradicionalmente encaram críticas estrangeiras como resquícios da
dominação colonial.
Para Giorgis, a recente ameaça do premiê britânico, Gordon
Brown, de boicotar a próxima
cúpula entre a União Européia
e a União Africana caso Mugabe esteja presente reforça a
imagem de um "complô" internacional. "Brown tentou conquistar apoio de outros membros da UE para o boicote, mas não conseguiu. Sua ameaça solitária só serve para dar uma vitória a Mugabe", disse.
Mudanças
Para Tafadzwa, membro do
MDC e que conta em Genebra
com o apoio de seis ONGs (inclusive a brasileira Conectas),
não basta promover o diálogo
entre governo e oposição. "Isso
não toca nas questões fundamentais: a falta de direitos políticos e a crise econômica."
O que promete ser crucial para forçar mudanças é a pressão
econômica, em um país com a
maior taxa de inflação do mundo -7.600% ao mês, segundo o
governo, e 13.000% ao mês, segundo estimativas independentes. O Fundo Monetário Internacional advertiu que, ao final de 2007, a inflação no ano
poderá chegar a 100.000%.
Com agências internacionais
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