São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

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Jornais se preparam para pedido de prisão

Proprietários de "La Nación" e "Clarín" são processados por governo argentino

Diários são processados em razão da compra de empresa de papel-jornal durante a mais recente ditadura, nos anos 70

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

Os jornais "Clarín" e "La Nación", principais veículos impressos da Argentina, prometem reagir a um pedido de prisão preventiva contra seus dirigentes que estaria sendo preparado pelo governo Cristina Kirchner.
A presidente, que mantém um conflito aberto contra os dois veículos, anunciou em agosto a intenção de denunciá-los por crimes contra a humanidade ocorridos na década de 1970.
Essa denúncia viria acompanhada de um pedido de "prisão imediata" contra três diretores nos próximos dias, segundo publicado no fim de semana pelo jornal "Perfil".
Procurado pela Folha, o governo argentino não confirmou nem desmentiu a informação.
A legislação argentina permite um pedido de prisão feito pelo governo -no caso, pela Procuradoria do Tesouro, órgão equivalente à Advocacia Geral da União. O juiz, antes de decidir, tem de levar em conta também a opinião do Ministério Público.
Conforme a versão do governo, os dirigentes foram cúmplices do último regime militar do país (1976-1983) e se aproveitaram da condição de fragilidade de uma família perseguida pela ditadura para comprar ações da Papel Prensa, empresa que hoje produz 75% do papel-jornal consumido na Argentina.
O diretor de Negócios do "La Nación", Eduardo Lomanto, diz que o governo usa o poder do Estado "para manipular a história" e tenta "criminalizar" dirigentes de veículos que não se submeteram a seus interesses.
A linha editorial dos jornais é crítica ao governo.
Segundo Lomanto, os dois veículos estão preparados para tomar as medidas judiciais necessárias para "preservar a liberdade dos diretores", já que existe uma "grande possibilidade" de que o governo entre com pedidos de prisão preventiva.
O gerente de Comunicações Externas do "Clarín", Martín Etchevers, disse que não quer "corroborar algo que ainda não ocorreu", mas afirma que o departamento jurídico levantou testemunhas e provas para refutar os argumentos do governo.
"Temos os recibos de pagamento [das ações da Papel Prensa], desmontamos a versão ponto por ponto. Caso isso se confirme, será uma aberração judicial que confirmará que se trata de uma perseguição", diz Etchevers.

LISTA DE CRIMES
Conforme documentos obtidos pelo "Perfil", os principais acionistas do "Clarín", Ernestina Herrera de Noble e Héctor Magnetto, e o diretor de redação do "La Nación", Bartolomé Mitre, serão denunciados como "partícipes necessários" em crimes de extorsão, ameaça, privação ilegítima de liberdade, sequestro e homicídio, todos relacionados com a compra.
No mesmo documento, o governo denunciará como "autores e coautores" dos crimes os ex-ditadores do país e dirigentes militares que, em maioria, já estão presos.
Caso a Justiça aceite a denúncia e os dirigentes dos jornais sejam julgados, eles podem ser condenados à prisão perpétua.
As vítimas são integrantes da família Graiver, que acabaram presos e torturados meses depois de venderem sua parte na Papel Prensa.
A denúncia contra os jornais está sendo preparada pela Secretaria de Direitos Humanos do governo e pela Procuradoria do Tesouro.


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