|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Taleban veta de música a esmalte
DA REPORTAGEM LOCAL
Na estrutura burocrática do
atual regime afegão existe o Ministério para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício, encarregado do cumprimento das
regras que o Taleban considera
como ortodoxia islâmica.
Esse ministério esteve por trás,
em março, da destruição, com explosivos e picaretas, das estátuas
gigantes do Buda na região de Bamiyan, ato de vandalismo que gerou unânime protesto no mundo.
O mesmo ministério proibiu há
seis meses que os poucos proprietários de computadores se conectassem à internet. Foi também ele
que, em 1996, quando o Taleban
se apoderou de Cabul, proibiu as
mulheres de trabalhar e estudar e
determinou a interrupção de toda
atividade artística ou cultural que
não estivesse ligada à religião.
A proibição foi codificada no
início de 1997, por meio de um decreto com 16 atividades que o novo regime considerava contrárias
à lei islâmica -como barbear-se,
para os homens, ou lavar roupa
nos rios, para as mulheres.
A segunda das proibições é intitulada "meios de erradicar a música e o canto". Afirma que será
fechada a loja e preso o lojista que
vender fitas cassete. Ou que será
confiscado o automóvel no qual o
toca-fitas estiver sendo utilizado.
A loja será reaberta e o automóvel
devolvido apenas se cinco cidadãos se tornarem, por escrito, fiadores do futuro bom comportamento da pessoa punida.
A proibição de número 13 se intitula "meios de erradicar os tambores, os cantos e as danças nas
festas de casamento". Caso a milícia islâmica -braço militar do
Ministério para a Promoção da
Virtude- dê um flagrante, o dono da casa será preso.
Este ano, em meio à reiteração
de proibições mais antigas, como
o jogo de xadrez e de cartas ou os
fogos de artifício, um decreto
proibiu esmalte para unhas, catálogos de moda, TV captada por
parabólica e CD-Rom.
Em verdade, a censura, em suas
formas mais brandas, começou
por volta de 1978, com o regime
comunista de Brabak Karmal. As
letras das músicas eram censuradas. Censura total só existia entre
os integristas islâmicos que controlavam os campos de afegãos
refugiados no Paquistão e no Irã.
"Não se pode calar os pássaros"
é o título de um relatório sobre a
repressão imposta à música pelo
Taleban. O documento foi apresentado em abril último em Londres por uma ONG especializada
na liberdade musical.
Diz o relatório: "No passado os
povos do Afeganistão foram
grandes amantes da música e usufruíam de uma vida musical muito rica. Nos últimos 23 anos o
prosseguimento dessa tradição
musical esteve sob forte ameaça".
(JBN)
Texto Anterior: Privações: Músico prevê morte da arte afegã Próximo Texto: Mujahidines iniciaram destruição de museu Índice
|