São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2001

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Taleban veta de música a esmalte

DA REPORTAGEM LOCAL

Na estrutura burocrática do atual regime afegão existe o Ministério para a Promoção da Virtude e a Prevenção do Vício, encarregado do cumprimento das regras que o Taleban considera como ortodoxia islâmica.
Esse ministério esteve por trás, em março, da destruição, com explosivos e picaretas, das estátuas gigantes do Buda na região de Bamiyan, ato de vandalismo que gerou unânime protesto no mundo.
O mesmo ministério proibiu há seis meses que os poucos proprietários de computadores se conectassem à internet. Foi também ele que, em 1996, quando o Taleban se apoderou de Cabul, proibiu as mulheres de trabalhar e estudar e determinou a interrupção de toda atividade artística ou cultural que não estivesse ligada à religião.
A proibição foi codificada no início de 1997, por meio de um decreto com 16 atividades que o novo regime considerava contrárias à lei islâmica -como barbear-se, para os homens, ou lavar roupa nos rios, para as mulheres.
A segunda das proibições é intitulada "meios de erradicar a música e o canto". Afirma que será fechada a loja e preso o lojista que vender fitas cassete. Ou que será confiscado o automóvel no qual o toca-fitas estiver sendo utilizado. A loja será reaberta e o automóvel devolvido apenas se cinco cidadãos se tornarem, por escrito, fiadores do futuro bom comportamento da pessoa punida.
A proibição de número 13 se intitula "meios de erradicar os tambores, os cantos e as danças nas festas de casamento". Caso a milícia islâmica -braço militar do Ministério para a Promoção da Virtude- dê um flagrante, o dono da casa será preso.
Este ano, em meio à reiteração de proibições mais antigas, como o jogo de xadrez e de cartas ou os fogos de artifício, um decreto proibiu esmalte para unhas, catálogos de moda, TV captada por parabólica e CD-Rom.
Em verdade, a censura, em suas formas mais brandas, começou por volta de 1978, com o regime comunista de Brabak Karmal. As letras das músicas eram censuradas. Censura total só existia entre os integristas islâmicos que controlavam os campos de afegãos refugiados no Paquistão e no Irã.
"Não se pode calar os pássaros" é o título de um relatório sobre a repressão imposta à música pelo Taleban. O documento foi apresentado em abril último em Londres por uma ONG especializada na liberdade musical.
Diz o relatório: "No passado os povos do Afeganistão foram grandes amantes da música e usufruíam de uma vida musical muito rica. Nos últimos 23 anos o prosseguimento dessa tradição musical esteve sob forte ameaça".
(JBN)


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