Porta-voz oficial diz que ele pediu demissão após atrito com o presidente Mahmoud Ahmadinejad por defender concessões

John Bolton, ex-embaixador dos EUA na ONU, afirma que presidente e negociador iam se chocar na disputa pelo legado do aiatolá Khamenei

DA REDAÇÃO

Ali Larijani, responsável por negociações com o Ocidente sobre o programa nuclear iraniano, foi afastado de seu posto, em decisão interpretada como uma vitória da linha-dura representada pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Será substituído por Said Jalili, vice-ministro do Exterior, que participará, já na terça-feira, em Roma, de encontro sobre o programa nuclear com o chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana.
A versão oficial, fornecida ontem pelo porta-voz do governo, Gholamhossein Elham, é de que Larijani já havia algumas vezes apresentado sua demissão, desta vez aceita por Ahmadinejad. Ele queria "dedicar-se a outros projetos políticos".
O porta-voz disse ainda que a substituição de Larijani não modifica a orientação do programa nuclear iraniano, que o governo reitera ter como finalidade produzir eletricidade e se enquadrar nas normas do Tratado de Não-Proliferação.

Atrito com Ahmadinejad
A BBC e a Reuters afirmam que o negociador entrou em atrito com o presidente por ser favorável a eventuais concessões no programa de enriquecimento de urânio. O Conselho de Segurança da ONU se prepara para votar em novembro um terceiro pacote de sanções, sob a suspeita de que o programa nuclear iraniano procura construir uma bomba atômica.
John Bolton, ex-embaixador americano na ONU, disse à Associated Press que o afastamento de Larijani permite que Ahmadinejad continue a ditar uma linha inflexível. Os dois homens, diz o diplomata, disputam espaço político, de olho na morte do aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã.
O currículo de Larijani não permite qualificá-lo de moderado. Próximo de Khamenei, ele foi comandante da Guarda Revolucionária, unidade de elite do regime, e ministro da Cultura e Orientação Islâmica.
Foi nomeado por Khamenei em 1994 para a Presidência da empresa estatal de rádio e TV, posto do qual comandou impiedosa campanha contra as influências ocidentais e contra a ala reformista do regime, chefiada pelo então presidente Mohammad Khatami.
Larijani foi um dos candidatos nas eleições presidenciais de 2005, vencidas por Ahmadinejad. Khamenei o nomeou secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional, um dos colegiados com grande concentração de poder na complicada hierarquia institucional do Irã.
Rumores de que Larijani estava com os dias contados circularam em Teerã na semana passada, quando ele não foi visto durante a visita do presidente russo, Vladimir Putin.
É ainda possível que a equipe de Larijani tenha vazado informações de que Putin fez propostas capazes de reaproximar o Irã do Ocidente. Jornais próximos de Ahmadinejad, no entanto, negaram a existência dessas propostas.