São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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"EUA estão prontos para mulher presidente"

Paglia vê aceitação maior de Hillary do que de Obama, mas não crê que senadora vença eleição em 2008

DO COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS

Crítica do feminismo em seu país, Camille Paglia considera, no entanto, que os Estados Unidos estão mais prontos para ter uma mulher na Presidência do que um negro. Ela, porém, acredita que Hillary Clinton não será eleita.
A seguir, na segunda parte da entrevista que concedeu à Folha, Paglia também afirma ser uma ilusão a evolução de gênero. (UIRÁ MACHADO)



FOLHA - Essa espécie de feminismo "opressor" a sra. também vê na rejeição à hipótese levantada pelo ex-reitor da Universidade Harvard, Lawrence Summers, segundo quem diferenças inatas poderiam explicar por que menos mulheres são bem-sucedidas nas carreiras científicas?
PAGLIA
- Ele estava só levantando uma hipótese para o número baixo de mulheres em carreiras científicas. Mas as militantes feministas imediatamente ficaram furiosas. Algumas disseram que queriam vomitar. A reação mostra o quanto de fascismo e stalinismo existe no feminismo acadêmico. Esse tipo de reação convém ao ponto contrário ao delas. Um cientista deveria ser capaz de sentar na platéia, ouvir cada hipótese e produzir argumentos racionais contrários.
Eu digo que os gêneros são influenciados por uma intersecção entre natureza e sociedade. A idéia de que a biologia não tem nenhum papel nos gêneros é um completo absurdo, mas é a teoria dominante. A influência social é importante, claro, mas hormônios existem e têm forte influência no jeito que a mente funciona. Há uma supressão do pensamento livre nesses assuntos.

FOLHA - O que a sra. acha da afirmação de Umberto Veronesi, cientista italiano, segundo quem, devido à evolução dos hormônios, a humanidade deve ser bissexual no futuro?
PAGLIA
- O fato de homens e mulheres estarem fazendo o mesmo tipo de trabalho nas classes média e alta pode nos fazer pensar que se trata de uma evolução da própria humanidade. No entanto, nas classes baixas, em que a força e a resistência física são necessárias, há uma divisão muito maior de papel de gêneros. Simplesmente porque homens têm a força física necessária para fazer certos trabalhos duros -construção, por exemplo.
A aparência de uma evolução de gênero é uma ilusão reproduzida pelas muitas vantagens da nossa sociedade. De novo, lembremos a Roma antiga. Eu vejo a história da humanidade como um ciclo. Cometemos um erro quando olhamos ao nosso redor, na nossa classe social, e acreditamos que somos o ponto mais alto da civilização e do desenvolvimento humano.

FOLHA - Está satisfeita com a possibilidade de Hillary Clinton ser a primeira presidente dos EUA?
PAGLIA
- Se Hillary for a indicada do Partido Democrata, voto nela. Mas eu queria que tivéssemos melhores candidatos. Essa insanidade da campanha nacional, que requer muito tempo e ainda mais dinheiro, expulsa os melhores candidatos. Estou muito preocupada, não acho que meu partido vai ganhar. As pessoas pensam na impopularidade do [presidente George W.] Bush, mas ele não vai concorrer. Haverá um novo candidato Republicano, e todos os líderes deles são mais fortes em assuntos de segurança nacional. Nós somos muito fracos em assuntos como terrorismo.

FOLHA - Considerando um candidato "A" negro e uma candidata "B", ambos do seu partido e ambos abstratos, qual deveria vencer?
PAGLIA
- Em circunstâncias normais, uma mulher teria mais facilidades que um negro. Acho que o país como um todo está pronto para uma mulher presidente. Seria mais fácil, as pessoas já se tornaram habituadas à idéia, já houve mulheres candidatas, há mulheres líderes de outros países. Mas o problema é a questão de ser chefe das Forças Armadas. Isso é o que deixa os EUA tão atrás em ter uma mulher presidente.

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