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Itália se mobiliza por escritor que a Camorra quer matar
Roberto Saviano publicou livro sobre a Máfia
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Aos 29 anos, Roberto Saviano se tornou uma espécie de
Salman Rushdie italiano. Se o
escritor indiano está ameaçado
de morte por uma sentença religiosa, a ameaça a Saviano vem
de poderes mais terrenais -e
muito mais eficazes no cumprimento de suas determinações,
a Camorra napolitana.
Tanto se teme a eficácia dessa ala regional da Máfia que o
"La Repubblica" publicou ontem uma carta de apoio a Saviano, que, até o meio da tarde, já
havia recebido 69 mil assinaturas, entre elas a de três prêmios
Nobel de Literatura, o turco
Orhan Pamuk, o alemão Günter Grass e o italiano Dario Fo.
Assinaram ainda dois Nobel da
Paz, Mikhail Gorbatchev, o homem que começou a desmontar o comunismo, e o sul-africano Desmond Tutu, figura crucial para o fim do "apartheid".
Assina igualmente Rita Levi
Montalcini, italiana que ganhou o Nobel de Medicina.
O texto descreve sem exageros a situação do escritor: "Estão ameaçadas sua liberdade,
sua autonomia de escritor, a
possibilidade de encontrar-se
com a família, de ter vida social,
de tomar parte na vida pública,
de mover-se em seu país".
Saviano é o autor de "Gomorra", livro-reportagem (transformado em obra de teatro e
em filme, em exibição na 32ª
Mostra Internacional de Cinema de SP), que conta o funcionamento do clã dos Casalesi,
considerado o mais poderoso e
também o mais violento da
Campanha, no Sul italiano.
Desde a publicação, há dois
anos, Saviano vive protegido as
24 horas do dia por uma equipe
de cinco "carabinieri", a polícia
italiana, pois Carmine Schiavone, parente próximo do chefe
do clã Casalesi, Francesco
Schiavone, contou aos policiais
que os Casalesi acham que o "livro fez demasiado ruído" e, por
isso, decidiu eliminá-lo.
Carmine deu até detalhes:
antes do Natal, uma explosão
mataria o escritor e seus guarda-costas na rodovia A-1, que liga Roma ao Sul. O crime organizado italiano já matou dois
juizes em atentados parecidos,
além de uma fieira de mortos
em outros tipos de violência.
O texto no "La Repubblica"
pede que o Estado "faça todos
os esforços para protegê-lo",
mas acrescenta que não se trata
só de um problema policial. "É
um problema da democracia. A
liberdade em segurança de Saviano diz respeito a todos nós,
como cidadãos", afirma. Termina dizendo que "é intolerável que tudo isso possa acontecer na Europa e em 2008".
A mobilização do jornal, do
qual Saviano é articulista, se
deve ao fato de que ele disse, em
entrevista na semana passada,
que estava pensando em abandonar a Itália. "Não vejo nenhuma razão para obstinar-me
a viver desta maneira, como
prisioneiro de mim mesmo, de
meu livro e de meu êxito. Quero
uma vida. Quero uma casa."
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