São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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Afeganistão terá segundo turno em 17 dias

Após comissão apoiada pela ONU invalidar cerca de 1 milhão de seus votos, Karzai concorda com nova votação no próximo dia 7

Autoridades eleitorais se agilizam para organização do pleito, que corre o risco de sofrer com fraudes e violência, como no 1º turno

Romeo Gacad/France Presse
Afegãos assistem em restaurante a pronunciamento do presidente
Hamid Karzai, no qual ele aceitou participar de segundo turno


DA REDAÇÃO

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, concordou ontem em participar do segundo turno da eleição presidencial do país, marcado para 7 de novembro, contra o ex-ministro do Exterior Abdullah Abdullah. O anúncio foi feito dois meses após a realização do pleito e depois de investigações sobre fraudes terem anulado quase um terço de seus votos.
Karzai fez o pronunciamento ao lado do presidente do Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA, John Kerry, e do chefe da ONU no Afeganistão, Kai Eide -sinal da intensa pressão internacional que sofria para aceitar as conclusões das investigações.
O segundo turno foi marcado depois de a Comissão Eleitoral de Apelações (CEA), apoiada pelas Nações Unidas, ter ordenado que mais de 1 milhão de votos fossem invalidados -a maioria era de Karzai.
A Comissão Eleitoral Independente (CEI), responsável pela apuração, anulou então a vitória do presidente, já que ele caiu dos 54,6% anunciados preliminarmente para 49,7% dos votos válidos -menos do que os 50% mais um necessários para evitar uma nova votação. Abdullah passou de 28% para 32% -ele teve mais de 200 mil votos também anulados.
Ontem, o presidente não comentou as irregularidades. Disse apenas que "este é o momento de seguir adiante, em direção à estabilidade e à unidade nacional". Karzai reconheceu que o resultado final é "legítimo, legal e de acordo com a Constituição do Afeganistão".
O porta-voz de Abdullah, Sayed Fazil Sancharki, disse que o candidato opositor também concorda com a nova votação.
Líderes de diversos países ocidentais cujas tropas participam da guerra afegã comemoraram o anúncio.
Em comunicado, o presidente dos EUA, Barack Obama -que deixara claro não ter planos de enviar mais tropas ao Afeganistão sem um governo confiável em Cabul-, congratulou Karzai por seu comprometimento com a lei. "As ações construtivas do presidente Karzai estabeleceram um importante precedente para a nova democracia no Afeganistão."
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, destacaram que Karzai, ao aceitar o segundo turno, demonstrou ser um "estadista".

Problemas
Com o fim das investigações, as autoridades eleitorais afegãs terão de apressar-se para organizar a nova votação. Se houver qualquer atraso, o pleito pode ser prejudicado pelo inverno, que é rigoroso no Afeganistão e deixa o norte do país inacessível por causa da neve.
Há ainda sérias preocupações de que o segundo turno -no qual Karzai entra como favorito- possa sofrer as mesmas fraudes que mancharam a votação de 20 de agosto.
Sobre isso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez ontem um alerta. "Vamos aconselhar a CEI a não recrutar novamente as pessoas que provavelmente estiveram envolvidas no processo eleitoral fraudulento", afirmou. "E vamos garantir todas [as medidas] administrativas e técnicas para que essa eleição seja realizada da maneira mais justa e transparente."
A votação também sofre a ameaça da violência. No primeiro turno, o Taleban atacou locais de votação e prédios do governo, matando mais de 20 pessoas -e afugentando tantas outras que não votaram.
O problema foi enfatizado no pronunciamento de Karzai: "Tenho esperanças de que a comunidade internacional, o governo afegão e todos os outros [que estão] preocupados irão tomar todas as medidas possíveis para garantir a segurança aos cidadãos. Então, quando eles votarem, a votação não será chamada de fraude".


Com agências internacionais e o "Financial Times"

Leia coluna de Clóvis Rossi sobre o Afeganistão
www.folha.com.br/092933



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