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ANÁLISE
EUA colhem frutos de corrida às urnas
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O afã do governo Barack
Obama em mostrar resultados
naquela que chamou de "sua
guerra" acabou por voltar-se
contra os EUA. Foi Washington que pressionou pelo pleito,
de olho no seu próprio calendário eleitoral: em 2010 haverá
importantes eleições parlamentares, o primeiro teste nas
urnas do desempenho pirotécnico do presidente.
Uma vez que colocou a região
entre Afeganistão e Paquistão
como sua prioridade estratégica e tem preconizado o diálogo
político como condição primária para a resolução de conflitos, nada mais natural que Obama tentar unir ambas as pontas
na eleição afegã.
A previsão constitucional era
que a eleição deste ano ocorreria no máximo dois meses antes do fim do mandato de Hamid Karzai, em julho. A própria
Comissão Eleitoral Independente, um órgão afegão coalhado de estrangeiros, já havia
alertado que seria mais viável
transferir o pleito para 2010.
No ano que vem haverá eleições parlamentares no país, o
que facilitaria a logística do trabalho, e haveria tempo para
tentar melhorar as condições
de segurança.
Mas os EUA bateram o pé,
prevendo que a extensão artificial do mandato do aliado poderia ser lida em casa como um
fracasso político. O resultado
foi uma lambança. Karzai ganhou mais tempo na cadeira,
permitindo estruturar uma rede de alianças que acabou por
organizar a fraude maciça de
agosto. E a imagem de um processo democrático tocado por
um governo estável em Cabul
foi exposta como ilusão que é.
O que acontece agora? O prazo para o pleito é curto, e há
poucas evidências de que não
irão ocorrer fraudes. Mas, se
houver algum tipo de controle
maior por parte dos observadores da ONU e considerando a
deteriorada situação nas áreas
pashtuns influenciadas pelo
Taleban, Karzai pode enfrentar
dificuldades. Pashtun, ele contaria com votos da etnia majoritária no país contra o tadjique
Abdullah Abdullah.
O opositor pode ser favorecido nas áreas dominadas pela etnia à qual é associado (a rigor,
ele é meio tadjique, meio pashtun, mas sempre esteve entre
os primeiros), que estão menos
conflagradas. Mas a rede de
apoios de Karzai, que inclui uzbeques e vários senhores da
guerra locais, torna isso imprevisível. E há o fator Taleban,
que tende a repetir a onda de
terror que afastou tantos eleitores no primeiro turno.
Os EUA, seus aliados e a ONU
passaram atestado de incompetência e terão de lidar com
um segundo turno caótico do
ponto de vista logístico -poucos países não torciam para que
Karzai liquidasse a fatura na
primeira rodada. Mas o grande
perdedor é o povo afegão, que
será submetido a mais violência por conta dos desmandos de
seus líderes e das conveniências políticas de estrangeiros.
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