São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Paraguai chama de provocação incursão de tropas brasileiras

Em tom duro, Assunção diz que episódio é "prática recorrente de confrontação" e convoca embaixador do Brasil no país

Incidente ocorreu na última quarta, quando 30 soldados em exercício no MS cruzaram fronteira por 30 m; Itamaraty atribui texto a nacionalismo

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo do Paraguai reagiu ontem contra a entrada de militares brasileiros em território do país, acusando o Brasil de "prática e atitude recorrente de confrontação e provocação" em um "comunicado à opinião pública nacional" assinado pelo chanceler Alejandro Hamed Franco e pelo ministro da Defesa, Luis Bareiro Spaini.
"O incidente, que afeta a nossa soberania, soma-se a episódios muito recentes no mesmo sentido, no que parece uma inexplicável mas sistemática prática e atitude recorrente de confrontação e provocação", diz um dos quatro parágrafos do comunicado paraguaio.
O embaixador brasileiro em Assunção, Eduardo dos Santos, foi convocado pela Chancelaria paraguaia para prestar esclarecimentos sobre o episódio. Após conversar com Franco, o diplomata brasileiro classificou a presença de tropas brasileiras em território paraguaio como "mal-entendido". Para o embaixador, as movimentações militares são regulares e não houve violação da soberania.
Em entrevista coletiva após receber Santos, Hamed foi questionado sobre se a posição oficial havia mudado após as explicações do Brasil. "Claro que não", respondeu. O chanceler paraguaio disse, depois, acreditar na necessidade de ambas as partes coordenarem esse tipo de manobra no futuro.
O governo paraguaio não foi informado sobre o exercício com antecedência.
O estopim do incidente diplomático ocorreu anteontem, quando policiais da cidade paraguaia de Canindeyú (leste) disseram ter localizado aproximadamente 30 soldados brasileiros da 17ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, dois blindados e duas caminhonetes do Exército em uma área a 30 metros da fronteira. A brigada fica sediada na cidade Amambaí, em Mato Grosso do Sul.
Quando foi advertido sobre a entrada em território paraguaio, o capitão Pedro Porto, que comandava o treinamento, afirmou que entrou no Paraguai por desconhecimento, desculpou-se e retirou os soldados de volta ao Brasil.
O exercício foi realizado em uma área de fronteira seca, onde não há demarcação ostensiva do limite territorial dos dois países, segundo o Itamaraty.
O episódio reacendeu críticas ao Brasil na imprensa paraguaia. Desde a campanha eleitoral que levou o ex-bispo Fernando Lugo à Presidência, os chamados brasiguaios sofrem hostilidades no país.
Atualmente, o Brasil e o Paraguai discutem como os dois países podem aprofundar a cooperação na área econômica para promover maior industrialização no país vizinho. Os paraguaios também insistem em revisar o tratado da usina binacional de Itaipu, mas o Brasil discorda.
A assessoria de imprensa do Itamaraty atribuiu a dureza da nota de Assunção a "manifestações de apelo nacionalista por parte da imprensa paraguaia". Segundo a Chancelaria brasileira, tratava-se de um "exercício de rotina de adestramento e formação militar para os pelotões de fronteira".
Recentemente, a imprensa paraguaia especulou que o governo Lula poderia ocupar militarmente a usina caso houvesse algum conflito com Lugo.
A assessoria do chanceler Celso Amorim disse não ter havido, "em nenhum momento, sentido de provocação ou confrontação. O que prevalece nas relações das Forças Armadas é a cooperação e a amizade."
Procurado pela Folha, o Ministério da Defesa informou que não iria se pronunciar.


Com a Efe


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