São Paulo, sábado, 21 de novembro de 2009

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Lula apoia Abbas contra o governo de Israel

Brasileiro deixa claro que congelamento dos assentamentos deve ser precondição para retomada do diálogo de paz

Presidente se esquiva de responder sobre eventual respaldo à intenção de declaração unilateral da independência palestina

Evaristo Sa/France Presse
O presidente Lula e Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, posam para foto após reunião em Salvador

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem as posições do colega da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, no embate com o atual governo de Israel.
Após reunir-a por quase duas horas com Abbas em um museu em Salvador, Lula pediu ao colega que recue da decisão de não disputar a próxima eleição palestina e de deixar a liderança da ANP em protesto contra a dificuldade de obter concessões de Israel.
Muitos governos temem que a decisão de Abbas possa enterrar de vez o processo de paz ao selar o fim da ANP, deixando um vácuo de poder favorável ao grupo radical Hamas, que contra a faixa de Gaza há dois anos.
Lula pediu a Abbas que "continue colocando os interesses palestinos acima dos seus próprios" e disse que o colega da ANP "é parte do patrimônio do processo de paz, por sua liderança, sua moderação e pela confiança que injeta".
Os apelos de Lula, que refletem o pensamento dominante diante de um governo israelense visto como intransigente, foram feitos no segundo dia da visita de Abbas ao Brasil. Hoje ele visita Porto Alegre.
O brasileiro, cujo apoio vem sendo cortejado por vários governos do Oriente Médio, deixou claro que concorda com a exigência de que o diálogo deve ser retomado após Israel congelar a expansão das colônias na Cisjordânia -consideradas obstáculo à criação do Estado palestino. "O Brasil entende que se deve parar imediatamente qualquer novo assentamento no território palestino."
Na semana passada, o presidente de Israel, Shimon Peres, explicou, no Brasil, que não se pode impedir o "crescimento natural" das colônias.
Ao lado de Lula, Abbas disse ontem que os assentamentos violam a legislação internacional e que Israel já se comprometera a parar as construções.
Lula não quis responder à pergunta de um jornalista sobre o pedido de apoio de Abbas ao plano de decretar a independência palestina sem consultar Israel -a Folha apurou que o Itamaraty rejeita a ideia pelos riscos de retaliação violenta do governo israelense. Mas o presidente deixou claro que não haverá paz até que seja criado um Estado palestino.
"A paz justa e duradoura na região depende do estabelecimento de um Estado palestino próspero, coeso e sem restrições, que garanta a segurança de Israel e tenha os seus direitos e os de sua população respeitados", disse.
Lula também não quis falar sobre o pedido de Abbas para que aproveite a visita a Brasília do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na segunda, para pedir o fim do apoio de Teerã ao Hamas.
O petista manteve o foco no diálogo israelo-palestino e, numa crítica velada ao governo de Israel, dominado por siglas direitistas contrárias a concessões de paz, disse que "não é possível que os interesses de uma minoria sobreponham aos interesses gerais".
Após encontro com Lula, Abbas se reuniu em seu hotel com membros da comunidade judaica brasileira a pedido do governador da Bahia, Jaques Wagner, que é judeu.


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