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Consenso sobre presidência da UE some no primeiro dia
Escolha de belga Herman Van Rompuy, visto como inexpressivo, e de sua chanceler já é alvo de questionamentos dentro do bloco
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O consenso forjado às pressas para indicar o primeiro presidente da União Europeia e
sua chanceler durou só o jantar
no qual os líderes dos 27 países
do bloco fizeram a escolha. Tirada a mesa, sobraram críticas,
ironias e perguntas sobre a opção pelo premiê belga Herman
Van Rompuy e pela britânica
Catherine Ashton, atual comissária de comércio do bloco.
As mais intensas vieram do
Reino Unido, que fracassou em
ungir o ex-premiê Tony Blair.
Afinal, o trabalhista tem maior
ressonância, mas a extensão de
sua vida pública também rendeu mais esqueletos no armário do que a do premiê belga, há
11 meses no cargo.
Uma crítica constante dos
países menores é que a escolha
é fruto de um acordo entre alemães e franceses -que não
propuseram candidatos e se
mostram ávidos pelos postos
econômicos do bloco-, ao qual
os britânicos foram levados a
aderir em troca de um posto.
A revista "Economist", entusiasta de um nome mais forte,
se sai com uma conclusão quase psicanalítica ao dizer que os
líderes nacionais europeus ainda não estão preparados para
serem sobrepujados no palco
mundial por um presidente da
UE que lhes faça frente.
Considerando que os novos
presidente e chanceler falarão
pelo bloco -seja sua voz forte,
seja fraca- o risco é que a UE se
faça ouvir cada vez menos entre líderes proeminentes.
Tal temor cresce porque o
Tratado de Lisboa, o novo estatuto do bloco que criou os cargos, não esclarece quem terá
mais poder, se Van Rompuy ou
Ashton ou, agora analistas
aventam, o português José Manuel Durão Barroso, que segue
à frente da Comissão Europeia,
com poderes mais restritos, porém com projeção mais ampla.
E se o belga, respeitado como
conciliador, já é questionado,
mais ainda é Ashton, que nunca
se elegeu a cargo nenhum e tem
pouca experiência em política
externa (colegas de Parlamento
Europeu a descrevem como
"uma mulher que aprende rápido", e acabam aí os elogios).
Ontem ela se apressou em dizer que seu objetivo nos próximos anos é mostrar que é a pessoa mais apta para o cargo. "No
tempo em que eu não estava
sendo eleita, passei 28 anos negociando em todo tipo de fórum", afirmou à rádio BBC a
ex-líder da Câmara dos Lordes,
cargo ao qual foi apontada.
Embora envolvida em algumas negociações importantes
desde que virou comissária, há
cerca de um ano, seu nome
nunca teve a projeção do de seu
antecessor, Peter Mandelson.
Tamanha foi a brusquidão
das escolhas que a Organização
Mundial do Comércio, em Genebra, não sabia ontem se contava ainda com a presença da
comissária em sua reunião ministerial anual, do dia 30 ao dia
2 (ela pode assumir no dia 1º).
Pior é a situação da Bélgica.
Van Rompuy foi alçado a primeiro-ministro por ter conseguido, após ganhar do rei a tarefa de conciliar os dois lados do
país, evitar que o país se esfacelasse. Com sua saída -e nenhuma ideia sobre a sucessão- o
reino de valões e flamengos pode mergulhar mais uma vez na
instabilidade.
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