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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Informante era considerado "coordenador de logística" do ex-ditador; americanos matam 3 policiais iraquianos

"Braço direito" entregou Saddam, dizem EUA

DA REDAÇÃO

Um homem de meia-idade, calvo, um tanto acima do peso e conquistador, que os militares americanos descreveram como "o braço direito de Saddam Hussein durante os últimos oito meses", foi o responsável pelo maior triunfo americano no Iraque desde a tomada de Bagdá, em abril.
Preso no último dia 12 na capital após três tentativas infrutíferas, o veterano da Organização Especial de Segurança de Saddam levou apenas algumas horas para dizer o paradeiro do ex-ditador, capturado no dia 13.
"É um tipo desprezível, que deveria apodrecer na cadeia", disse o major Stan Murphy, chefe de inteligência da 4ª Divisão de Infantaria. O homem, cuja identidade não foi revelada, não estava na lista dos 200 iraquianos mais procurados pelos EUA.
O informante trabalhava para Saddam desde o fim de sua adolescência e fazia parte de uma das cinco famílias mais próximas do ex-ditador, que durante seu regime eram conhecidas como fontes de comandantes militares, ministros e chefes de segurança.
Com outros quatro iraquianos pertencentes a um desses clãs, que os americanos apelidaram de "viabilizadores", o homem acompanhava todos os passos do ex-ditador durante os oito meses em que ele eludiu as forças dos EUA ficando, segundo Murphy, no máximo dois dias em cada esconderijo e se deslocando em táxis.
Era por esses "viabilizadores" que Saddam recebia informações sobre a insurgência iraquiana, que como o comando americano descreveu esta semana, lhe prestava contas "como um filho dá satisfações a um pai". Também eram eles que faziam chegar aos insurgentes armas e dinheiro dados por Saddam, além de ordens rudimentares como o pedido para aumentar os ataques.
Para chegar ao "braço direito", aquele que os militares dizem ter sido por oito meses o "confidente" de Saddam e seu "coordenador de logística", os serviços de inteligência americanos trabalharam mais de seis meses em um organograma com a rede de aliados do ex-ditador, que atuava durante o regime e estaria em ação também após sua derrocada.
A confecção do diagrama começou em junho com quatro nomes. Em dezembro já tinha 250, com uma lista anexa de mais de 9.000 pessoas ligadas de alguma forma ao regime e investigadas pelos EUA. Mas foi só em novembro que constataram a importância do "braço direito" e começaram a se empenhar em sua captura.
Segundo Murphy, ele não receberá a recompensa de US$ 25 milhões por pistas do ex-ditador.

Dia tranquilo
O Iraque teve um dia relativamente tranquilo ontem. A surpresa foi a visita do premiê espanhol, José María Aznar, a suas tropas.
No norte do país, na região de Kirkuk, três policiais iraquianos foram mortos e outros dois foram feridos por soldados dos EUA que os confundiram com supostos contrabandistas de antiguidades durante uma patrulha.
Segundo a polícia de Kirkuk, os soldados abriram fogo contra os dois carros em que os iraquianos estavam. O incidente ocorreu pouco após a meia-noite. Os EUA não comentaram.
Em Najaf, cidade sagrada para os xiitas no sul do país, uma criança e um ex-membro do extinto partido Baath, ao qual Saddam pertencia, foram mortos em ataques distintos. Outro ex-integrante foi ferido.
A professora Dhamya Abbas, alvo do primeiro ataque, sobreviveu, mas seu filho de oito anos morreu. "Eu estava levando meu filho para a escola quando pessoas numa motocicleta começaram a atirar com rifles Kalashnikov", disse. "Eu deixei o Baath há cinco anos."
Ali Kassem, também um ex-integrante do partido que trabalhava no serviço secreto de Saddam, foi morto a tiros em outro ataque.
Os ataques geram temores de uma onda de violência sectária no país. Nos 35 anos que esteve no poder, o Baath reprimiu a maioria xiita em prol da minoria sunita.
Na última quinta-feira, outro integrante do Baath foi linchado até a morte em Najaf.
Além disso, ataques a mesquitas e a políticos xiitas, considerados colaboradores dos EUA, se tornaram constantes. Nesta semana, um prédio do maior grupo político xiita do país foi alvo de uma bomba, e um membro do partido foi assassinado.


Com agências internacionais


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