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AMÉRICA DO SUL
Ajuda dos EUA para combate ao tráfico na Bolívia diminui; analistas vêem influência da vitória de Morales
Cresce fluxo de droga boliviana ao Brasil
DO ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Relatório divulgado na semana
passada pela agência antidrogas
boliviana revela que o Brasil -e
não os EUA- é, cada vez mais, o
principal destino e corredor de
entorpecentes bolivianos, com
tendência de aumento para o ano
que vem.
O balanço das apreensões realizadas de 1º de janeiro a 17 de dezembro deste ano mostra que elas
já aumentaram 476% com relação
ao ano de 2004 no departamento
de Santa Cruz, principal corredor
para o Brasil, contra 24% em toda
a Bolívia no mesmo período. Esse
departamento foi aquele em que
mais se apreenderam drogas neste ano. Cerca de 90% desse total tinha o Brasil como destino, segundo a Felcn (Força Especial de Luta
contra o Narcotráfico), cujo orçamento é composto em 98% por
ajuda financeira americana, reduzida de atuais US$ 100 milhões para US$ 92 milhões em 2006.
A maior parte desse salto se deve a apreensões de maconha
(1.295%), seguidas pela pasta de
coca, que subiu de 2,3 toneladas
para 3,7 toneladas - aumento de
60%. Já o cloridrato, a cocaína
mais pura, manteve-se praticamente estável.
Nos outros dois departamentos
fronteiriços, as apreensões de pasta de coca duplicaram em Beni
(de 102 kg para 208 kg) e triplicaram em Pando (de 66 kg para 181
kg). No departamento de Beni, o
maior aumento ocorreu na
apreensão de cloridrato de cocaína, pulando de apenas 3,8 kg, em
2004, para 338 kg neste ano. Esse
departamento é usado principalmente como corredor da produção peruana em direção ao Brasil.
Por outro lado, a apreensão de
maconha caiu de 10,3 toneladas
para apenas 6 kg em 2005.
Problema brasileiro
Procurada pela Folha, a Embaixada dos EUA na Bolívia afirmou
concordar com a avaliação da
Felcn de que o Brasil é o principal
mercado da droga e também a rota preferida para chegar aos mercados europeus. "A cocaína boliviana praticamente deixou de
chegar aos EUA", afirmou um
funcionário da embaixada.
O governo americano diz que a
redução da ajuda à Bolívia se deve
estritamente a cortes no Orçamento, mas muitos analistas viram o corte sob a perspectiva da
vitória do líder cocaleiro Evo Morales nas eleições presidenciais.
Em entrevista à Folha no domingo, em La Paz, o assessor internacional da Presidência do
Brasil, Marco Aurélio Garcia, discordou da avaliação de que a cocaína boliviana é um problema
mais brasileiro que americano. "A
política dos EUA em relação à
droga não é só ligada ao mercado
americano. Além disso, nada indica que a cocaína daqui que vai
para o Brasil não seja para o país
ou outros mercados, que funcionam de forma articulada. Portanto, o interesse dos EUA é global."
Garcia, que concedeu a entrevista horas antes da vitória de Morales, disse que o Brasil não está
preocupado com um governo liderado por ele em relação à cocaína: "Está claro que a posição do
Evo é de um combate firme à produção de cocaína".
A avaliação de Garcia difere da
da Polícia Federal, que anteontem
previu um aumento das plantações e, assim, da produção de pasta de coca no governo Morales.
(FABIANO MAISONNAVE)
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