São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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EUA treinam africanos contra extremistas

Forças americanas conduzem exercícios no Mali, que pode ajudar a catalisar a estratégia de luta antiterror na região

Democrático e com bons laços com vizinhos, país cujo norte é visado pela Al Qaeda recebe recursos militares e educacionais do Pentágono

ERIC SCHMITT
DO "NEW YORK TIMES", EM KATI, MALI

A milhares de quilômetros do Iraque e do Afeganistão, um outro lado da guerra contra o terrorismo se desenrola na África ocidental. Soldados americanos treinam exércitos africanos para vigiar as fronteiras e patrulhar áreas desérticas contra a Al Qaeda, para que os EUA não precisem fazê-lo. Um exercício conduzido recentemente por militares dos EUA em Kati, no Mali, fez parte de um plano amplo, traçado após o 11 de Setembro, para levar assistência e treinamento a países fora do Oriente Médio.
Na África, uma parceria de cinco anos e US$ 500 milhões entre os Departamentos de Estado e da Defesa abrange Argélia, Chade, Mauritânia, Mali, Marrocos, Níger, Nigéria, Senegal e Tunísia -e Líbia em breve. Os esforços dos EUA para combater o terrorismo na região também incluem programas não-militares, como formação de professores e treinamento profissional para jovens muçulmanos que poderiam ser alvos das campanhas de recrutamento de militantes. Uma meta do programa é agir nesses países antes que o terrorismo se entrincheire neles como já fez na Somália. E, diferentemente da Somália, o Mali se dispõe a ter dezenas de treinadores militares europeus e americanos.
Ex-colônia francesa, o país é uma democracia relativamente estável, embora frágil, cujos líderes estão preocupados com os militantes que se refugiaram em seu desértico norte depois de expulsos da vizinha Argélia. A maior ameaça vem de cerca de 200 combatentes da Al Qaeda no Magreb Islâmico. O Pentágono teme que o grupo lance um ataque na Argélia ou na Mauritânia para se firmar. A Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) deve gastar neste ano US$ 9 milhões em programas antiterrorismo no Mali. Uma parte do dinheiro ampliará um programa existente de capacitação de microempresários; outra formará professores de escolas islâmicas visando conter o antiamericanismo.
Diplomatas dizem que o Mali é um dos poucos países da região que tem boas relações com seus vizinhos, o que o torna um catalisador da cooperação mais ampla de segurança regional que os EUA procuram fomentar. O país poderia usar seus soldados em conjunto com exércitos vizinhos mais bem equipados, como a Argélia.
Mas há obstáculos. O Pentágono ainda precisa explicar melhor o papel de seu novo Comando África, criado em outubro para supervisionar as atividades militares no continente. As autoridades americanas dizem que sua estratégia é conter a ameaça da Al Qaeda e treinar exércitos africanos. "Este é um esforço de longo prazo", diz o tenente-coronel Jay Connors, das forças especiais americanas. "É um processo de engatinhar, caminhar e correr, e, por ora, ainda estamos engatinhando."

Tradução de CLARA ALLAIN


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