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Morte de aiatolá antirregime mobiliza a oposição iraniana
Arquiteto da Revolução Islâmica, Montazeri chamou eleição de junho de fraudulenta
Simpatizantes e tropas de choque já se concentram em Qom, onde deve ocorrer hoje o funeral do clérigo, vítima de ataque cardíaco
DA REDAÇÃO
Foi anunciada ontem a morte do grão-aiatolá Hossein Ali
Montazeri, um dos arquitetos
da Revolução Islâmica de 1979
e um crítico da eleição ocorrida
em junho passado -a que chamou de fraudulenta.
Sua morte, em decorrência
de um ataque cardíaco, coincide com o aumento da tensão no
país, seis meses após o pleito
que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad e mergulhou o país em
uma crise política.
O site moderado Parlemannews noticiou que partidários
de Montazeri, que tinha 87
anos, rumavam para a cidade
sagrada de Qom para aguardar
seu funeral, previsto para hoje.
Tropas de choque da polícia
circulavam em Qom (125 km ao
sul de Teerã), onde Montazeri
vivia e morreu, enquanto oposicionistas também se reuniam
nas praças de Teerã.
Centenas de simpatizantes
de Montazeri também tomaram as ruas de sua cidade natal,
Najafabad. As lojas fecharam e
fixaram nas portas cartazes
com a imagem do clérigo.
De acordo com o site reformista Jaras, os líderes oposicionistas Mir Hossein Mousavi e
Mehdi Karoubi disseram a seus
partidários que hoje será um
dia de luto nacional.
Segundo o especialista em
Irã Baqer Moin, baseado em
Londres, o funeral de hoje deverá ser palco de manifestações
da oposição reformista, o que
preocupa as autoridades.
"A quantidade de apoio em
seu funeral irá animar a oposição, que estará lamentando sua
perda", disse Moin.
O aiatolá Ali Khamenei, líder
supremo do Irã e sucessor do
aiatolá Khomeini após sua
morte, em 1989, expressou suas
condolências.
Mike Hammer, porta-voz do
Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, também
manifestou condolências. "Ele
era internacionalmente conhecido e respeitado por seu comprometimento intransigente
com os direitos universais",
disse Hammer.
Voz da oposição
Montazeri era considerado o
acadêmico religioso mais sábio
do Irã e chegou-se a cogitar que
se tornaria o líder supremo do
país, até cair em desgraça com o
aiatolá Ruhollah Khomeini
-líder da revolução de 1979 e
dirigente máximo do Irã até sua
morte, em 1989.
Montazeri passou cinco anos
em prisão domiciliar até 2002.
Embora raramente deixasse
sua casa depois disso, permaneceu uma importante voz da
oposição até sua morte.
Karim Sadjadpour, do Fundo
Carnegie para a Paz Internacional, disse que Montazeri era
o "padrinho religioso" do movimento reformista no país.
"Dada sua idade avançada e
seu isolamento, ele não tinha
como prover uma liderança estratégica para a oposição, mas
era muito mais difícil para o regime pintar o movimento verde
como "anti-islâmico" com
Montazeri a seu lado", disse.
Montazeri era um aliado próximo de Khomeini antes da Revolução Islâmica e foi detido
várias vezes pela polícia do xá
Reza Pahlevi.
Nos últimos tempos, contudo, Montazeri chegou a se desculpar pelo apoio à ocupação da
Embaixada dos EUA em Teerã,
em 1979. Afirmou também que
a República Islâmica não é nem
república nem islâmica e que o
líder supremo Khamenei perdeu sua legitimidade.
"Independência", disse ele
num recente discurso sobre
ética, "é ser livre da intervenção
estrangeira, e liberdade é dar ao
povo a liberdade de expressar
suas opiniões -não ser posto
na prisão por cada protesto que
se proferir".
Com agências internacionais
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