São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Morte de aiatolá antirregime mobiliza a oposição iraniana

Arquiteto da Revolução Islâmica, Montazeri chamou eleição de junho de fraudulenta

Simpatizantes e tropas de choque já se concentram em Qom, onde deve ocorrer hoje o funeral do clérigo, vítima de ataque cardíaco

DA REDAÇÃO

Foi anunciada ontem a morte do grão-aiatolá Hossein Ali Montazeri, um dos arquitetos da Revolução Islâmica de 1979 e um crítico da eleição ocorrida em junho passado -a que chamou de fraudulenta.
Sua morte, em decorrência de um ataque cardíaco, coincide com o aumento da tensão no país, seis meses após o pleito que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad e mergulhou o país em uma crise política.
O site moderado Parlemannews noticiou que partidários de Montazeri, que tinha 87 anos, rumavam para a cidade sagrada de Qom para aguardar seu funeral, previsto para hoje.
Tropas de choque da polícia circulavam em Qom (125 km ao sul de Teerã), onde Montazeri vivia e morreu, enquanto oposicionistas também se reuniam nas praças de Teerã.
Centenas de simpatizantes de Montazeri também tomaram as ruas de sua cidade natal, Najafabad. As lojas fecharam e fixaram nas portas cartazes com a imagem do clérigo.
De acordo com o site reformista Jaras, os líderes oposicionistas Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karoubi disseram a seus partidários que hoje será um dia de luto nacional.
Segundo o especialista em Irã Baqer Moin, baseado em Londres, o funeral de hoje deverá ser palco de manifestações da oposição reformista, o que preocupa as autoridades.
"A quantidade de apoio em seu funeral irá animar a oposição, que estará lamentando sua perda", disse Moin.
O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã e sucessor do aiatolá Khomeini após sua morte, em 1989, expressou suas condolências.
Mike Hammer, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, também manifestou condolências. "Ele era internacionalmente conhecido e respeitado por seu comprometimento intransigente com os direitos universais", disse Hammer.

Voz da oposição
Montazeri era considerado o acadêmico religioso mais sábio do Irã e chegou-se a cogitar que se tornaria o líder supremo do país, até cair em desgraça com o aiatolá Ruhollah Khomeini -líder da revolução de 1979 e dirigente máximo do Irã até sua morte, em 1989.
Montazeri passou cinco anos em prisão domiciliar até 2002. Embora raramente deixasse sua casa depois disso, permaneceu uma importante voz da oposição até sua morte.
Karim Sadjadpour, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, disse que Montazeri era o "padrinho religioso" do movimento reformista no país.
"Dada sua idade avançada e seu isolamento, ele não tinha como prover uma liderança estratégica para a oposição, mas era muito mais difícil para o regime pintar o movimento verde como "anti-islâmico" com Montazeri a seu lado", disse.
Montazeri era um aliado próximo de Khomeini antes da Revolução Islâmica e foi detido várias vezes pela polícia do xá Reza Pahlevi.
Nos últimos tempos, contudo, Montazeri chegou a se desculpar pelo apoio à ocupação da Embaixada dos EUA em Teerã, em 1979. Afirmou também que a República Islâmica não é nem república nem islâmica e que o líder supremo Khamenei perdeu sua legitimidade.
"Independência", disse ele num recente discurso sobre ética, "é ser livre da intervenção estrangeira, e liberdade é dar ao povo a liberdade de expressar suas opiniões -não ser posto na prisão por cada protesto que se proferir".


Com agências internacionais

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