São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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EUROPA

Ex-premiê Cavaco Silva deve vencer no 1º turno e se tornar o 1º presidente de centro-direita da história democrática do país

Portugal deve eleger hoje "salvador da pátria"

VITORINO CORAGEM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Portugal deverá ter, pela primeira na sua história democrática, um presidente da República de centro-direita. Pesquisas indicam que o ex-premiê Aníbal Cavaco Silva vencerá hoje, no primeiro turno, a eleição presidencial.
Num momento de crise e de medidas impopulares do governo socialista, a memória de estabilidade e a imagem de rigor parecem transformar Cavaco Silva no "salvador da pátria". A pesquisa da Eurosondagem dá ao candidato apoiado pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Partido Popular (CDS/PP) 53% das intenções de voto e coloca Mário Soares na segunda posição (16,9%).
Dez anos depois de deixar o comando do país, o antigo dirigente do PSD voltou à política ativa. No entanto a última década não pode ser considerada como um afastamento. Apesar de não comentar com freqüência e de forma direta o estado da nação, entre livros, artigos e conferências o professor esteve sempre por perto. Esse silêncio que marca presença foi considerado por alguns analistas políticos como a preparação para o seu regresso. A atual conjuntura não lhe podia ser mais favorável.
O pedido de demissão do então premiê José Manual Durão Barroso, em 2004, para assumir a presidência da Comissão Européia, abriu a porta a uma crise política. Em 17 de julho do mesmo ano, a maioria parlamentar de direita, uma coligação conservadora constituída pelo PSD e pelo CDS/ PP, nomeou um novo governo que esteve no poder apenas seis meses. Em novembro de 2004, o presidente Jorge Sampaio convocou eleições antecipadas para 20 de fevereiro de 2005.
O Partido Socialista (PS), liderado por José Sócrates, obteve a maioria absoluta e preparou-se para enfrentar outra crise: a econômica. O desemprego, a inflação e a necessidade de cumprir os critérios de convergência da União Européia, principalmente o controle do déficit público de quase 7%, conduziram a uma política econômica que feriu alguns setores da sociedade, como os militares e funcionários do Judiciário.
Nesse contexto, Cavaco Silva, especialista em finanças públicas, surgiu na campanha eleitoral com imagem distante daquela que teve nos seus últimos anos de governo. A nação recorda-se da força do líder que foi responsável, no início dos anos 90, pela multiplicação de novas estradas e hospitais, pela consolidação das finanças públicas, pela diminuição do desemprego e da mortalidade infantil.
Mas parece esquecer-se de um Cavaco Silva autoritário e indiferente a críticas que, em 1993, se recusou a assinar a portaria que concede o feriado de Carnaval, gerando a mais generalizada ação de desobediência civil de que se tem notícia. Além disso, os poderes do presidente não são iguais aos do premiê. O chefe de Estado é figura indispensável para garantir a estabilidade democrática, detendo o poder de vetar leis e dissolver o Parlamento.
Contudo é ao premiê e à sua equipe que cabe fazer reformas estruturais. Cavaco Silva, um político de gabinete, aparece agora no meio do povo. Afirma-se suprapartidário, mas é apoiado publicamente pelo partido do qual foi líder (PSD) e pelo CDS/PP.
A sua estratégia passou a evitar comentar assuntos polêmicos ou de âmbito governamental, o que, no entender dos seus opositores, foi uma forma pouco democrática de não perder votos. E as pesquisas provaram que sua popularidade caiu sempre que ele foi forçado a tomar alguma posição.

Esquerda dividida
A esquerda está dividida e apresenta quatro candidatos principais. O PS venceu, desde 1985, todas as eleições presidenciais e encontra-se agora em uma posição mais frágil. Apostou forte no seu candidato histórico, Mário Soares. No entanto o carisma e o passado político como opositor ao regime fascista não parecem garantir a Soares os resultados esperados: o candidato não é consenso em seu próprio partido nem está bem posicionado nas pesquisas.
Com 81 anos, poucos esperavam que o ex-premiê e ex-presidente estivesse disposto a enfrentar eleições e a assumir um cargo de tanta importância. Algumas pesquisas dão-lhe um constrangedor terceiro lugar, e vários comentarista o acusam de não promover a renovação política.
A grande surpresa da eleição foi o escritor e poeta Manuel Alegre. O deputado e alto dirigente do PS concorre como independente e ocupa o segundo lugar nas intenções de voto, segundo pesquisa da Universidade Católica. Antes da campanha, era apontado pela imprensa como o candidato do seu partido. O PS acabou por optar por Mário Soares. Alegre hesitou, mas não desistiu. Pediu um empréstimo bancário para os custos da campanha e arrisca-se a ser o principal candidato da esquerda.
O conflito no interior do PS foi evidente. A comissão política socialista começou a dizer que os "alegristas" estavam proibidos de usar os meios do partido na campanha presidencial.
Restam dois candidatos com um peso político inferior, mas que podem influenciar o resultado: Jerónimo de Sousa, do Partido Comunista Português, e Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda. O comunista representa 5% das intenções de voto. Já o bloquista Louçã, que representa 4% do eleitorado, prometeu levar a sua candidatura até o fim.


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