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EUROPA
Ex-premiê Cavaco Silva deve vencer no 1º turno e se tornar o 1º presidente de centro-direita da história democrática do país
Portugal deve eleger hoje "salvador da pátria"
VITORINO CORAGEM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Portugal deverá ter, pela primeira na sua história democrática,
um presidente da República de
centro-direita. Pesquisas indicam
que o ex-premiê Aníbal Cavaco
Silva vencerá hoje, no primeiro
turno, a eleição presidencial.
Num momento de crise e de
medidas impopulares do governo
socialista, a memória de estabilidade e a imagem de rigor parecem transformar Cavaco Silva no
"salvador da pátria". A pesquisa
da Eurosondagem dá ao candidato apoiado pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Partido Popular (CDS/PP) 53% das intenções de voto e coloca Mário Soares na segunda posição (16,9%).
Dez anos depois de deixar o comando do país, o antigo dirigente
do PSD voltou à política ativa. No
entanto a última década não pode
ser considerada como um afastamento. Apesar de não comentar
com freqüência e de forma direta
o estado da nação, entre livros, artigos e conferências o professor
esteve sempre por perto. Esse silêncio que marca presença foi
considerado por alguns analistas
políticos como a preparação para
o seu regresso. A atual conjuntura
não lhe podia ser mais favorável.
O pedido de demissão do então
premiê José Manual Durão Barroso, em 2004, para assumir a presidência da Comissão Européia,
abriu a porta a uma crise política.
Em 17 de julho do mesmo ano, a
maioria parlamentar de direita,
uma coligação conservadora
constituída pelo PSD e pelo CDS/
PP, nomeou um novo governo
que esteve no poder apenas seis
meses. Em novembro de 2004, o
presidente Jorge Sampaio convocou eleições antecipadas para 20
de fevereiro de 2005.
O Partido Socialista (PS), liderado por José Sócrates, obteve a
maioria absoluta e preparou-se
para enfrentar outra crise: a econômica. O desemprego, a inflação
e a necessidade de cumprir os critérios de convergência da União
Européia, principalmente o controle do déficit público de quase
7%, conduziram a uma política
econômica que feriu alguns setores da sociedade, como os militares e funcionários do Judiciário.
Nesse contexto, Cavaco Silva,
especialista em finanças públicas,
surgiu na campanha eleitoral com
imagem distante daquela que teve
nos seus últimos anos de governo.
A nação recorda-se da força do líder que foi responsável, no início
dos anos 90, pela multiplicação de
novas estradas e hospitais, pela
consolidação das finanças públicas, pela diminuição do desemprego e da mortalidade infantil.
Mas parece esquecer-se de um
Cavaco Silva autoritário e indiferente a críticas que, em 1993, se recusou a assinar a portaria que
concede o feriado de Carnaval,
gerando a mais generalizada ação
de desobediência civil de que se
tem notícia. Além disso, os poderes do presidente não são iguais
aos do premiê. O chefe de Estado
é figura indispensável para garantir a estabilidade democrática, detendo o poder de vetar leis e dissolver o Parlamento.
Contudo é ao premiê e à sua
equipe que cabe fazer reformas
estruturais. Cavaco Silva, um político de gabinete, aparece agora
no meio do povo. Afirma-se suprapartidário, mas é apoiado publicamente pelo partido do qual
foi líder (PSD) e pelo CDS/PP.
A sua estratégia passou a evitar
comentar assuntos polêmicos ou
de âmbito governamental, o que,
no entender dos seus opositores,
foi uma forma pouco democrática de não perder votos. E as pesquisas provaram que sua popularidade caiu sempre que ele foi forçado a tomar alguma posição.
Esquerda dividida
A esquerda está dividida e apresenta quatro candidatos principais. O PS venceu, desde 1985, todas as eleições presidenciais e encontra-se agora em uma posição
mais frágil. Apostou forte no seu
candidato histórico, Mário Soares. No entanto o carisma e o passado político como opositor ao
regime fascista não parecem garantir a Soares os resultados esperados: o candidato não é consenso
em seu próprio partido nem está
bem posicionado nas pesquisas.
Com 81 anos, poucos esperavam que o ex-premiê e ex-presidente estivesse disposto a enfrentar eleições e a assumir um cargo
de tanta importância. Algumas
pesquisas dão-lhe um constrangedor terceiro lugar, e vários comentarista o acusam de não promover a renovação política.
A grande surpresa da eleição foi
o escritor e poeta Manuel Alegre.
O deputado e alto dirigente do PS
concorre como independente e
ocupa o segundo lugar nas intenções de voto, segundo pesquisa da
Universidade Católica. Antes da
campanha, era apontado pela imprensa como o candidato do seu
partido. O PS acabou por optar
por Mário Soares. Alegre hesitou,
mas não desistiu. Pediu um empréstimo bancário para os custos
da campanha e arrisca-se a ser o
principal candidato da esquerda.
O conflito no interior do PS foi
evidente. A comissão política socialista começou a dizer que os
"alegristas" estavam proibidos de
usar os meios do partido na campanha presidencial.
Restam dois candidatos com
um peso político inferior, mas
que podem influenciar o resultado: Jerónimo de Sousa, do Partido
Comunista Português, e Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda.
O comunista representa 5% das
intenções de voto. Já o bloquista
Louçã, que representa 4% do eleitorado, prometeu levar a sua candidatura até o fim.
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