São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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HISTÓRIA

No século 19, presidente atendia no Willard

Lobby de hotel deu origem ao nome

DE WASHINGTON

Como quase toda instituição dos EUA, o lobby tem sementes plantadas há mais de dois séculos na vida americana, desde a Constituição de 1787. O apelido foi dado aos lobistas quase cem anos depois, pelo presidente Ulysses S. Grant, que governou o país de 1864-1869. Apreciador de um bom conhaque acompanhado de charutos para encerrar o dia, Grant era abordado por uma série de pessoas no lobby do hotel Willard todas as noites.
Pediam ajuda do presidente, numa época em que era possível abordá-lo pessoalmente, para casos envolvendo o governo. Disputas de terras, construção de pontes, coisas do tipo. No dia seguinte, ao iniciar os despachos na Casa Branca, a dois quarteirões do hotel, Grant se referia genericamente àquelas pessoas como "os lobistas do hotel Willard". Daí para a frente, o termo pegou.
Até a chegada de George W. Bush à Presidência, porém, jamais foi tão proeminente. Impulsionado pelo capital político que adquiriu após o 11 de Setembro, Bush conseguiu dominar as duas Casas do Legislativo -Câmara e Senado- com seu Partido Republicano, apenas meses depois de o democrata Bill Clinton ter ocupado a Casa Branca por dois mandatos. Os republicanos decidiram chegar para ficar.
Lançaram então o chamado "projeto rua K". De acordo com essa cartilha, o partido não dominaria apenas a cena política até 2008, com Bush na Presidência. Ou até 2010, com a hegemonia do Congresso. Mas pelas décadas seguintes. Por um lado, Bush nomearia republicanos para o segundo e terceiro escalões do governo. Por outro, as empresas de lobby, muitas delas com escritório na região noroeste da rua K, seriam influenciadas a contratar lobistas próximos aos republicanos.
A estratégia era natural e, na teoria, havia grandes possibilidades de sucesso. Na prática, porém, a política reinventa formas de destruir planejamentos. Os escândalos envolvendo líderes republicanos e a queda do megalobista Jack Abramoff refletem isso.
Dando razão à imprevisibilidade, não é possível dizer o que será da rua K no futuro próximo, apenas lembrar que, desde a chegada de Bush à Casa Branca, o número de lobistas dobrou no local. Caminhar pelas calçadas ali significa trombar com engravatados e mulheres em terninhos. A maioria ao celular, levando pastas e papéis, ou de olho no BlackBerry, aparelho portátil para o uso de e-mails. Os prédios contrastam com a arquitetura clássica de Washington, envidraçados.
O trabalho de lobby, porém, ocorre longe dali. Nos restaurantes da avenida Pensilvânia, a poucas quadras da Casa Branca. Na academia de ginástica do Congresso, onde auxiliares suam ouvindo estatísticas. E nas cafeterias da Câmara e do Senado. Nesse último caso, não é muito diferente de uma distante capital chamada Brasília. (IURI DANTAS)


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