São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

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Chávez assume estatizada antes de pagar indenização

Na TV, presidente instrui ministro a nomear nova direção de empresa telefônica

Empresa foi "presenteada" pelo Estado, diz Chávez; presidente anuncia também o primeiro aumento da gasolina em oito anos


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem em seu programa de TV que o Estado assumirá a direção da empresa de telecomunicações Cantv "o mais rápido possível" e questionou o valor a ser pago no futuro pela nacionalização, já que a empresa foi "presenteada" ao ser vendida ao setor privado, em 1991. O principal acionista da Cantv é hoje a empresa americana Verizon.
"Quem tem de pagar antes [de assumir a Cantv]? Estão loucos? Não pago antes nada. Pago quando a lei me disser, e na forma em que o Estado decidir", disse Chávez no primeiro "Alô, Presidente" do ano. O programa durou seis horas sem intervalos e foi praticamente um monólogo do venezuelano.
Ele disse que a indenização aos atuais proprietários da Cantv será paga, "claro", mas "não a preços internacionais". Deverão ser descontadas, disse, as "dívidas da empresa com os trabalhadores e os pensionistas". A Cantv é hegemônica na telefonia fixa e na internet e a Verizon tem 28,5% das ações.
Chávez se dirigiu ao ministro das Telecomunicações, Jesse Chacón, e mandou que ele redija um decreto nomeando uma nova direção para a telefônica. "Jesse, já tomamos a Cantv? Vamos chamar os chefes [da Cantv], vamos nomear uma diretoria nossa agora. Senão passará um mês, depois dois meses e dirão que o presidente não falou mais nada. É preciso atuar, já foi dada a instrução."
Com a Lei Habilitante, que deverá ser aprovada em segunda votação amanhã na Assembléia Nacional, Chávez ganhará poder para governar por decreto durante 18 meses. A decisão de nacionalizar a Cantv foi anunciada por Chávez no último dia 8.
Chávez contou com um pequeno público no estúdio, boa parte formado por membros de seu novo gabinete. Estava ainda o ministro da Informação da Síria, Mohsen Bilal. "Estaremos sempre com a Síria e o Irã", disse.
Como havia feito na sexta-feira no Rio de Janeiro, Chávez voltou a atacar o jornal brasileiro "O Globo". Pegou um exemplar na mão e criticou a manchete, que relacionava um documento do Mercosul sobre respeito à democracia a medidas adotadas por ele consideradas autoritárias. "Isso é todos os dias", disse Chávez, "quando o que ocorreu foi uma ratificação da revolução bolivariana".
O presidente venezuelano contou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o convidou a passar o Carnaval no Rio ou em Pernambuco, disse que as mulheres brasileiras "parecem umas deusas, as deusas da nossa América", cantarolou a música "Soy loco por ti, America", de Gilberto Gil e Capinam, e insultou os EUA.

Gasolina
Chávez também anunciou várias medidas de governo. A principal delas é o aumento da gasolina, o primeiro em oito anos. Na Venezuela, o litro é vendido ao equivalente a quatro centavos de dólar. "Melhor seria dá-la de presente", disse Chávez, que pediu ao ministro das Finanças uma proposta "que não afete o preço dos alimentos nem a inflação".
Uma das poucas pessoas a falar no programa foi a porta-voz de um conselho comunitário, que Chávez quer reforçar dentro da reorganização política do país. Sem conseguir se articular, ela foi interrompida por Chávez, que lhe perguntou por que estava nervosa: "É que falar com o senhor é como falar com Deus. Deus na terra".
Somando os 262 programas anteriores, o "Alô, presidente" acumula o equivalente a mais de 65 dias de transmissão.


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