|
Próximo Texto | Índice
Chávez assume estatizada antes de pagar indenização
Na TV, presidente instrui ministro a nomear nova direção de empresa telefônica
Empresa foi "presenteada" pelo Estado, diz Chávez; presidente anuncia também o primeiro aumento da gasolina em oito anos
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, disse ontem em
seu programa de TV que o Estado assumirá a direção da empresa de telecomunicações
Cantv "o mais rápido possível"
e questionou o valor a ser pago
no futuro pela nacionalização,
já que a empresa foi "presenteada" ao ser vendida ao setor
privado, em 1991. O principal
acionista da Cantv é hoje a empresa americana Verizon.
"Quem tem de pagar antes
[de assumir a Cantv]? Estão
loucos? Não pago antes nada.
Pago quando a lei me disser, e
na forma em que o Estado decidir", disse Chávez no primeiro
"Alô, Presidente" do ano. O
programa durou seis horas sem
intervalos e foi praticamente
um monólogo do venezuelano.
Ele disse que a indenização
aos atuais proprietários da
Cantv será paga, "claro", mas
"não a preços internacionais".
Deverão ser descontadas, disse,
as "dívidas da empresa com os
trabalhadores e os pensionistas". A Cantv é hegemônica na
telefonia fixa e na internet e a
Verizon tem 28,5% das ações.
Chávez se dirigiu ao ministro
das Telecomunicações, Jesse
Chacón, e mandou que ele redija um decreto nomeando uma
nova direção para a telefônica.
"Jesse, já tomamos a Cantv?
Vamos chamar os chefes [da
Cantv], vamos nomear uma diretoria nossa agora. Senão passará um mês, depois dois meses
e dirão que o presidente não falou mais nada. É preciso atuar,
já foi dada a instrução."
Com a Lei Habilitante, que
deverá ser aprovada em segunda votação amanhã na Assembléia Nacional, Chávez ganhará
poder para governar por decreto durante 18 meses. A decisão
de nacionalizar a Cantv foi
anunciada por Chávez no último dia 8.
Chávez contou com um pequeno público no estúdio, boa
parte formado por membros de
seu novo gabinete. Estava ainda o ministro da Informação da
Síria, Mohsen Bilal. "Estaremos sempre com a Síria e o
Irã", disse.
Como havia feito na sexta-feira no Rio de Janeiro, Chávez
voltou a atacar o jornal brasileiro "O Globo". Pegou um exemplar na mão e criticou a manchete, que relacionava um documento do Mercosul sobre
respeito à democracia a medidas adotadas por ele consideradas autoritárias. "Isso é todos
os dias", disse Chávez, "quando
o que ocorreu foi uma ratificação da revolução bolivariana".
O presidente venezuelano
contou ainda que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva o convidou a passar o Carnaval no
Rio ou em Pernambuco, disse
que as mulheres brasileiras
"parecem umas deusas, as deusas da nossa América", cantarolou a música "Soy loco por ti,
America", de Gilberto Gil e Capinam, e insultou os EUA.
Gasolina
Chávez também anunciou
várias medidas de governo. A
principal delas é o aumento da
gasolina, o primeiro em oito
anos. Na Venezuela, o litro é
vendido ao equivalente a quatro centavos de dólar. "Melhor
seria dá-la de presente", disse
Chávez, que pediu ao ministro
das Finanças uma proposta
"que não afete o preço dos alimentos nem a inflação".
Uma das poucas pessoas a falar no programa foi a porta-voz
de um conselho comunitário,
que Chávez quer reforçar dentro da reorganização política do
país. Sem conseguir se articular, ela foi interrompida por
Chávez, que lhe perguntou por
que estava nervosa: "É que falar
com o senhor é como falar com
Deus. Deus na terra".
Somando os 262 programas
anteriores, o "Alô, presidente"
acumula o equivalente a mais
de 65 dias de transmissão.
Próximo Texto: Frase Índice
|