São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

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Produtos básicos escasseiam em rede popular

DO ENVIADO A CARACAS

Desde que o governo de Hugo Chávez criou os Mercais, a rede de mercados populares, o frango Sadia se transformou no símbolo dos produtos vendidos a preços subsidiados. Nos últimos dias, a ave brasileira faz parte também da crescente lista de artigos básicos desaparecidos das prateleiras, que começou com o açúcar e hoje inclui o leite e o feijão preto.
Para analistas, a escassez e o mercado paralelo são fruto da pressão gerada pela inflação alta -17% no ano passado- nos preços dos produtos básicos e na taxa de câmbio. Tanto esses preços quanto o câmbio são regulados pelo governo.
Num Mercal (Mercado de Alimentos) visitado anteontem pela Folha, o refrigerador para frangos estava vazio. O funcionário do açougue informou que havia recebido uma cota do produto pela manhã que se acabou em poucos minutos, apesar de o racionamento ser de um frango por pessoa. Segundo ele, a próxima entrega só deve ocorrer na quarta-feira.
Neste Mercal, localizado ao lado do parque Carabobo, região de comércio popular no centro de Caracas, também faltavam açúcar, leite, feijão preto e lentilha. Quando há, esses produtos são vendidos de forma racionada -o açúcar, por exemplo, está limitado a 1 kg por pessoa. De sobra, cartazes com grandes fotos de Chávez -12, ao todo.
Apesar da falta de produtos, os dois corredores do Mercal estavam cheios de consumidores atrás de outros produtos, como arroz, cuja embalagem traz o desenho de um militante chavista chutando um diabinho, representando a oposição.
No entanto, das cinco pessoas abordadas pela reportagem, nenhuma quis comentar a escassez. A poucas quadras dali, na praça Candelária, outro Mercal nem sequer abriu no domingo, apesar de o horário regular ser das 8h às 16h.

Mercado paralelo
A falta de produtos não afeta apenas os Mercais. Num pequeno e vazio mercado particular, o dono, que pediu para não ser identificado, disse que está difícil comprar açúcar no atacado. Ele havia recebido uma pequena quantidade no sábado, que se esgotou rapidamente.
De acordo com o comerciante, a venda atacadista de açúcar e de leite em pó está cada vez mais dominada por "máfias", que vendem o produto em grandes sacos sem identificação, a preços exorbitantes.
O quilo de açúcar branco, diz o comerciante, está sendo oferecido no mercado paralelo a 5.000 bolívares (R$ 4,9), enquanto o preço está fixado pelo governo em 1.300 (R$ 1,2). Ele diz que só compra o produto oficialmente e o revende pelo equivalente a R$ 2,9 o quilo. Nos Mercais, o produto está tabelado em R$ 1,9 o quilo.
O produto sumiu das grandes cadeias de supermercados, mas é encontrado mais facilmente nos pequenos, onde é revendido em pacotes sem identificação. Também há caminhões circulando pela cidade que param em pontos estratégicos, onde vendem o quilo por R$ 5,8 -uma inflação de 205%.
Para comparação: uma grande rede de supermercados em São Paulo vende o quilo de açúcar refinado por R$ 1,39. O salário mínimo no Brasil é de R$ 350; na Venezuela, está em cerca de R$ 530. (FM)


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