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Produtos básicos escasseiam em rede popular
DO ENVIADO A CARACAS
Desde que o governo de Hugo Chávez criou os Mercais, a
rede de mercados populares, o
frango Sadia se transformou no
símbolo dos produtos vendidos
a preços subsidiados. Nos últimos dias, a ave brasileira faz
parte também da crescente lista de artigos básicos desaparecidos das prateleiras, que começou com o açúcar e hoje inclui o leite e o feijão preto.
Para analistas, a escassez e o
mercado paralelo são fruto da
pressão gerada pela inflação alta -17% no ano passado- nos
preços dos produtos básicos e
na taxa de câmbio. Tanto esses
preços quanto o câmbio são regulados pelo governo.
Num Mercal (Mercado de
Alimentos) visitado anteontem
pela Folha, o refrigerador para
frangos estava vazio. O funcionário do açougue informou que
havia recebido uma cota do
produto pela manhã que se
acabou em poucos minutos,
apesar de o racionamento ser
de um frango por pessoa. Segundo ele, a próxima entrega
só deve ocorrer na quarta-feira.
Neste Mercal, localizado ao
lado do parque Carabobo, região de comércio popular no
centro de Caracas, também faltavam açúcar, leite, feijão preto
e lentilha. Quando há, esses
produtos são vendidos de forma racionada -o açúcar, por
exemplo, está limitado a 1 kg
por pessoa. De sobra, cartazes
com grandes fotos de Chávez
-12, ao todo.
Apesar da falta de produtos,
os dois corredores do Mercal
estavam cheios de consumidores atrás de outros produtos,
como arroz, cuja embalagem
traz o desenho de um militante
chavista chutando um diabinho, representando a oposição.
No entanto, das cinco pessoas abordadas pela reportagem, nenhuma quis comentar a
escassez. A poucas quadras dali, na praça Candelária, outro
Mercal nem sequer abriu no
domingo, apesar de o horário
regular ser das 8h às 16h.
Mercado paralelo
A falta de produtos não afeta
apenas os Mercais. Num pequeno e vazio mercado particular, o dono, que pediu para não
ser identificado, disse que está
difícil comprar açúcar no atacado. Ele havia recebido uma pequena quantidade no sábado,
que se esgotou rapidamente.
De acordo com o comerciante, a venda atacadista de açúcar
e de leite em pó está cada vez
mais dominada por "máfias",
que vendem o produto em
grandes sacos sem identificação, a preços exorbitantes.
O quilo de açúcar branco, diz
o comerciante, está sendo oferecido no mercado paralelo a
5.000 bolívares (R$ 4,9), enquanto o preço está fixado pelo
governo em 1.300 (R$ 1,2). Ele
diz que só compra o produto
oficialmente e o revende pelo
equivalente a R$ 2,9 o quilo.
Nos Mercais, o produto está tabelado em R$ 1,9 o quilo.
O produto sumiu das grandes
cadeias de supermercados, mas
é encontrado mais facilmente
nos pequenos, onde é revendido em pacotes sem identificação. Também há caminhões
circulando pela cidade que param em pontos estratégicos,
onde vendem o quilo por R$ 5,8
-uma inflação de 205%.
Para comparação: uma grande rede de supermercados em
São Paulo vende o quilo de açúcar refinado por R$ 1,39. O salário mínimo no Brasil é de R$
350; na Venezuela, está em cerca de R$ 530.
(FM)
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