São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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SOB NOVA DIREÇÃO / PASSIVO EXTERNO

Obama começa a fechar Guantánamo

Presidente deve assinar hoje decreto determinando fechamento da prisão em um ano, com transferência ou libertação de presos

Julgamentos na base são suspensos por 120 dias, para que o governo revise casos; reunião sobre o Iraque termina sem anúncios

Pete Souza/Efe
Barack Obama conversa com seu chefe-de-gabinete, Rahm Emanuel, no seu primeiro dia de trabalho no Salão Oval da Casa Branca

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em seu primeiro dia no cargo, Barack Obama começou a cumprir uma de suas principais promessas de campanha: fechar o centro de detenção da base militar de Guantánamo. Anteontem à noite, o novo presidente dos Estados Unidos ordenou que todos os julgamentos militares por crimes de guerra fossem imediatamente suspensos por 120 dias, até que estes e a maneira pela qual os suspeitos foram tratados sejam revisados por sua equipe.
A prisão é um dos símbolos dos oito anos do governo de George W. Bush.
Criada logo após o 11 de Setembro, chegou a abrigar milhares de pessoas, capturadas na chamada "guerra ao terror". Muitos presos foram soltos depois de anos por falta de provas, outros suicidaram-se, outros ainda foram presos e torturados na volta a seus países. Hoje, há 245 prisioneiros -segundo o governo Bush, "os piores entre os piores".
Os meios de comunicação dos EUA dizem que Obama deve assinar hoje nova ordem executiva prevendo o fechamento completo de Guantánamo em até um ano, com a transferência dos presos para os EUA ou sua libertação (países europeus se dispuseram a receber alguns libertados).
Na mesma ação, o novo presidente deve banir técnicas duras de interrogatório que possam ser vistas como tortura.
Ordem executiva é o equivalente à brasileira medida provisória -decisão do presidente com força de lei que pode ser derrubada pelo Congresso ou anulada por outra ordem.
A ordem de anteontem segue "os interesses da Justiça", escreveram Obama e seu secretário da Defesa, Robert Gates, cossignatário. Já teve o efeito prático de suspender o julgamento de Omar Khadr, em andamento. O canadense é acusado de matar um soldado dos EUA no Afeganistão em 2002.
Há outros 20 julgamentos em curso, incluindo os de cinco acusados de planejar o ataque de 11 de Setembro. Todos são julgados por juízes militares, em comitês de exceção criados durante o governo Bush.
"É um excelente primeiro passo, mas é só um primeiro passo", disse Gabor Rona, da ONU Human Rights First. "É uma indicação do senso de urgência de Obama em reverter o curso destrutivo que a administração anterior tomou em sua luta contra o terrorismo."

Missa e Iraque
No fim da tarde de ontem, Obama se reuniu pela primeira vez com sua equipe de Defesa. Discutiram outra promessa: a retirada da maior parte das tropas americanas do país em 16 meses. "Pedi para a liderança militar se envolver em planejamento adicional necessário para executar uma retirada do Iraque militarmente responsável", disse ele ao final. Há ceticismo, no próprio comando americano, quanto à viabilidade de cumprir a promessa.
Obama chegou ao Salão Oval da ala oeste da Casa Branca para seu primeiro dia de trabalho às 8h35 locais (11h35 de Brasília) de ontem, menos de oito horas depois de deixar o último dos dez bailes oficiais a que foi na noite anterior com a mulher, Michelle. A nova primeira-dama visitou o marido no escritório presidencial às 9h10.
Ele telefonou para os líderes de Egito, Israel, Jordânia e da Autoridade Palestina (leia texto à pág. A11). Na primeira gaveta da escrivaninha, Bush deixara um bilhete ao sucessor, escrito no envelope "De 43º para 44º [presidente]", referência à ordem em que foram eleitos. Seu teor não foi revelado.
Além da reunião com a equipe de Defesa e outra, com a equipe econômica, o presidente teve em sua agenda uma visita de cidadãos que ganharam uma loteria cívica para visitar a Casa Branca e uma missa na Catedral Nacional de Washington, tradição inaugurada por Franklin Roosevelt em 1933. Sob Obama, o evento católico virou culto ecumênico, com muçulmanos, hindus e protestantes. Participaram vários ministros, incluindo a secretária de Estado, Hillary Clinton.


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