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SOB NOVA DIREÇÃO / PASSIVO EXTERNO
Obama começa a fechar Guantánamo
Presidente deve assinar hoje decreto determinando fechamento da prisão em um ano, com transferência ou libertação de presos
Julgamentos na base são suspensos por 120 dias, para que o governo revise casos; reunião sobre o Iraque termina sem anúncios
Pete Souza/Efe
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Barack Obama conversa com seu chefe-de-gabinete, Rahm Emanuel, no seu primeiro dia de trabalho no Salão Oval da Casa Branca
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em seu primeiro dia no cargo, Barack Obama começou a
cumprir uma de suas principais
promessas de campanha: fechar o centro de detenção da
base militar de Guantánamo.
Anteontem à noite, o novo presidente dos Estados Unidos ordenou que todos os julgamentos militares por crimes de
guerra fossem imediatamente
suspensos por 120 dias, até que
estes e a maneira pela qual os
suspeitos foram tratados sejam
revisados por sua equipe.
A prisão é um dos símbolos
dos oito anos do governo de
George W. Bush.
Criada logo após o 11 de Setembro, chegou a abrigar milhares de pessoas, capturadas
na chamada "guerra ao terror".
Muitos presos foram soltos depois de anos por falta de provas,
outros suicidaram-se, outros
ainda foram presos e torturados na volta a seus países. Hoje,
há 245 prisioneiros -segundo
o governo Bush, "os piores entre os piores".
Os meios de comunicação
dos EUA dizem que Obama deve assinar hoje nova ordem
executiva prevendo o fechamento completo de Guantánamo em até um ano, com a transferência dos presos para os
EUA ou sua libertação (países
europeus se dispuseram a receber alguns libertados).
Na mesma ação, o novo presidente deve banir técnicas duras de interrogatório que possam ser vistas como tortura.
Ordem executiva é o equivalente à brasileira medida provisória -decisão do presidente
com força de lei que pode ser
derrubada pelo Congresso ou
anulada por outra ordem.
A ordem de anteontem segue
"os interesses da Justiça", escreveram Obama e seu secretário da Defesa, Robert Gates,
cossignatário. Já teve o efeito
prático de suspender o julgamento de Omar Khadr, em andamento. O canadense é acusado de matar um soldado dos
EUA no Afeganistão em 2002.
Há outros 20 julgamentos
em curso, incluindo os de cinco
acusados de planejar o ataque
de 11 de Setembro. Todos são
julgados por juízes militares,
em comitês de exceção criados
durante o governo Bush.
"É um excelente primeiro
passo, mas é só um primeiro
passo", disse Gabor Rona, da
ONU Human Rights First. "É
uma indicação do senso de urgência de Obama em reverter o
curso destrutivo que a administração anterior tomou em sua
luta contra o terrorismo."
Missa e Iraque
No fim da tarde de ontem,
Obama se reuniu pela primeira
vez com sua equipe de Defesa.
Discutiram outra promessa: a
retirada da maior parte das tropas americanas do país em 16
meses. "Pedi para a liderança
militar se envolver em planejamento adicional necessário para executar uma retirada do
Iraque militarmente responsável", disse ele ao final. Há ceticismo, no próprio comando
americano, quanto à viabilidade de cumprir a promessa.
Obama chegou ao Salão Oval
da ala oeste da Casa Branca para seu primeiro dia de trabalho
às 8h35 locais (11h35 de Brasília) de ontem, menos de oito
horas depois de deixar o último
dos dez bailes oficiais a que foi
na noite anterior com a mulher,
Michelle. A nova primeira-dama visitou o marido no escritório presidencial às 9h10.
Ele telefonou para os líderes
de Egito, Israel, Jordânia e da
Autoridade Palestina (leia texto à pág. A11). Na primeira gaveta da escrivaninha, Bush deixara um bilhete ao sucessor, escrito no envelope "De 43º para
44º [presidente]", referência à
ordem em que foram eleitos.
Seu teor não foi revelado.
Além da reunião com a equipe de Defesa e outra, com a
equipe econômica, o presidente teve em sua agenda uma visita de cidadãos que ganharam
uma loteria cívica para visitar a
Casa Branca e uma missa na
Catedral Nacional de Washington, tradição inaugurada por
Franklin Roosevelt em 1933.
Sob Obama, o evento católico
virou culto ecumênico, com
muçulmanos, hindus e protestantes. Participaram vários ministros, incluindo a secretária
de Estado, Hillary Clinton.
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