São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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Israel completa retirada de Gaza

Diante de denúncias reiteradas, país diz que investigará uso ilegal de munição de fósforo na guerra

Chanceler israelense sofre pressão dos líderes da UE para suspender bloqueio ao território palestino e reabrir fronteiras ao comércio

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ASHKELON (ISRAEL)

O Exército de Israel completou ontem a retirada de suas tropas da faixa de Gaza, e o governo prometeu que irá investigar o suposto uso ilegal de bombas incendiárias contra populações civis durante a ofensiva de 22 dias contra o grupo extremista Hamas.
Enquanto seus últimos soldados deixavam o território, Israel ameaçou reagir a novos ataques com força ainda maior que a usada nas últimas semanas, quando deixou 1.300 mortos e mais de 4.000 casas destruídas em Gaza.
"A equação é simples", disse o presidente da Comissão de Defesa do Parlamento, Tzachi Hanegbi. "Se os foguetes recomeçarem, responderemos com tanta força que eles terão saudade do dia em que a aviação começou a atacar."
Criticado por usar força excessiva e desproporcional, Israel enfrenta ainda acusações de uso ilegal de armas. Permitido pela lei internacional para iluminar regiões de combate e produzir fumaça, o fósforo branco é considerado ilegal contra populações civis.
De acordo com o jornal "Haaretz", uma brigada de reservistas disparou 20 ataques com o armamento contra uma área urbana no norte de Gaza. O Exército reagiu repetindo que Israel só usou armas aceitas pela lei internacional, mas admitiu que uma investigação foi aberta sobre o assunto.
Organizações humanitárias, citando testemunhos de moradores de Gaza, já haviam acusado o uso de fósforo branco em áreas civis, inclusive no ataque que atingiu a sede da ONU.
"Em resposta às queixas de organizações não governamentais e da imprensa estrangeira sobre o uso de fósforo branco e com o objetivo de remover qualquer ambiguidade, uma equipe de investigação foi estabelecida para examinar o assunto", afirmou o Exército.
No direito internacional, as bombas de fósforo branco são consideradas ilegais quando usadas como "armas incendiárias" contra áreas civis. A Convenção sobre Certas Armas Convencionais (1980), da qual Israel faz parte, "proíbe em todas as circunstâncias fazer da população civil objeto de ataques de armas incendiárias".
Mesmo afirmando ter respeitado a lei internacional, Israel não esconde a preocupação com possíveis processos por crimes de guerra.
Segundo o site israelense de notícias Ynet, o governo chegou a considerar o cancelamento da viagem da chanceler Tzipi Livni ontem à Bélgica, devido a rumores de que ela poderia sofrer uma ação legal em Bruxelas. Livni acabou mantendo a viagem à capital belga.
Na diplomacia, porém, a ministra sofreu pressão dos chanceleres da União Europeia para levantar o bloqueio sobre Gaza e abrir as passagens de fronteira. Depois de manifestar apoio inequívoco a Israel logo após o cessar-fogo, a UE agora considera uma prioridade aliviar a crise humanitária no território.
Disposto a mostrar que mantém o controle de Gaza, apesar de quase todos os prédios de seu governo terem virado ruínas, o Hamas retomou a perseguição a "colaboradores" de Israel. Membros do Fatah, partido secular rival, disseram ser os alvos. "O serviço de segurança interna foi instruído a localizar colaboradores e atingi-los com força", disse Ehab al Ghsain, do Ministério do Interior do Hamas. Na guerra, testemunhas disseram que membros do Fatah foram executados em Gaza.


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