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entrevista
Decisão foi política, diz advogada
SAMY ADGHIRNI
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão da Suprema Corte israelense de reverter o
banimento dos dois partidos
árabes reflete a preocupação
de não manchar ainda mais a
imagem global de Israel após
a ofensiva em Gaza, segundo
Aber Baker, advogada da
ONG árabe-israelense Adalah, autora do recurso.
Em entrevista à Folha por
telefone, ela disse que os cidadãos "devem lealdade ao
Estado, não à religião".
FOLHA - Como os advogados
conseguiram reverter a decisão
na Suprema Corte?
ABER BAKER - A Corte Suprema não detalhou a decisão.
Disse apenas que aceitou os
recursos que apresentamos.
FOLHA - A decisão pode ser vista
como prova de que a Suprema
Corte é independente das disputas políticas e eleitoreiras?
BAKER - A independência da
Suprema Corte é limitada.
No fundo, foi uma decisão
política. Os juízes são inteligentes o bastante para saber
que a reputação de Israel já
está manchada com os ataques contra Gaza, e que é
bom evitar piorar as coisas.
Mesmo sem detalhes jurídicos, sabemos que a Suprema Corte avaliou que não havia provas suficientes de que
os partidos árabes eram contrários ao caráter judaico do
Estado de Israel. Mas, e se ela
tivesse julgado que havia
provas disso? É esta a questão central. Como cidadãos,
devemos lealdade ao Estado,
não à religião.
FOLHA - Como a opinião pública
israelense, tão favorável aos ataques em Gaza, enxergava a ideia
de banir os partidos árabes?
BAKER - A moção foi apresentada em meio a fortes
tensões internas. Pelo menos 700 pessoas foram presas em protestos contra a
ofensiva em Gaza.
Mesmo assim, a decisão de
banir os partidos foi rejeitada por muita gente, incluindo imprensa e acadêmicos.
Boa parte das pessoas que
apoiaram os ataques era contrária ao banimento dos partidos árabes. Há duas explicações. A primeira é que os
israelenses não querem parecer ser contra os árabes. A
segunda é que o sujeito que
apresentou a moção, Avigdor
Lieberman, é visto como um
racista perigoso.
Este episódio evidenciou a
verdadeira cara dos trabalhistas, que apoiaram o banimento. Mesmo sabendo que
ele seria vetada na Suprema
Corte, eles quiseram mostrar
sua opinião sobre os árabes.
FOLHA - Há quem diga que os
árabes israelenses são ingratos
em relação a Israel, o país mais livre e democrático da região.
BAKER - Não escolhemos estar em Israel e estávamos
aqui havia gerações. Deveríamos ser gratos pelo quê?
Mesmo que sejamos cidadãos com direitos, não estamos felizes com esse regime,
com a pobreza, com o desemprego e com as prisões.
Lamentamos pela situação
dos cidadãos de países árabes, com quem compartilhamos muito coisa. Falo a mesma língua e tenho a mesma
cultura que os meus parentes na Síria e nada em comum com meus vizinhos israelenses judeus.
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