São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Sem sede, governo tenta reaver controle

Palácio presidencial, Parlamento, sede do Judiciário e quase todos os ministérios haitianos desabaram em terremoto

País não conseguiu ainda fazer balanço de quantos de seus 60 mil funcionários sobreviveram; reunião de gabinete ocorre ao ar livre


Jewel Samad/France Presse
Policial haitiano bate em saqueadores em Porto Príncipe

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Funcionando de forma improvisada na sede da Polícia Nacional, o historicamente debilitado governo haitiano ficou com somente um dos 18 ministérios intacto e ainda tenta dimensionar as suas perdas.
"O Palácio Nacional, o Parlamento, o Palácio de Justiça e muitos outros prédios [do governo] caíram com todos os documentos. Portanto, é difícil trabalhar como antes", disse o presidente René Préval ontem a jornalistas, após reunião de gabinete, ao lado do reverendo e político americano Jesse Jackson.
Embora nenhum ministro tenha morrido no terremoto da semana passada, apenas o Ministério de Assuntos Sociais e do Trabalho, instalado numa antiga construção de madeira, continua de pé.
Melhor sorte tiveram os hospitais públicos -dos 13 existentes na região do terremoto, 12 estão funcionando. Apenas o da cidade histórica de Jacmel, no sudoeste, veio abaixo.
Segundo o ministro do Turismo, Patrick Delatour, o governo ainda não sabe quantos dos seus cerca de 60 mil funcionários sobreviveram à tragédia.
"Temos um problema físico, toda a nossa memória se foi. Estamos numa primeira fase, buscando cidades de tenda [acampamentos] para permitir que os ministros tenham um mínimo de espaço para começar a trabalhar", disse Delatour.
"A segunda fase será a reconstrução do aparato do Estado. Mas estamos ainda fazendo um inventário do que foi destruído", acrescentou.
A atual sede do governo tem apenas um andar com várias salas. Localizada entre o aeroporto e os escritórios da Minustah (missão da ONU no Haiti), teve o muro da entrada danificado pelo terremoto -está ligeiramente inclinado.
Ontem, quando houve um pequeno tremor, a reunião de gabinete ministerial foi momentaneamente transferida para o lado de fora.
Por causa da falta de espaço -a Polícia Nacional ainda trabalha ali-, o Ministério da Comunicação foi improvisado sob uma mangueira. É ali que os funcionários instalaram uma mesa com telefones e realizam conferências de imprensa.
A falta de capacidade de governar após o terremoto expõe ainda mais a fragilidade do Estado haitiano, mesmo após mais de cinco anos de assistência da ONU. Ontem, o presidente haitiano rebateu as críticas de que tem sido pouco presente na reação ao terremoto. "No primeiro dia, fiz um tour pela capital. Nos outros dias, fiz outras visitas", se defendeu.

Presença americana
Ontem, a presença de militares americanos ficou ainda mais visível no centro de Porto Príncipe. Ao menos duas Humvees blindadas e armadas com metralhadoras foram vistas na região central, a mais marcada pela violência após o terremoto. Um helicóptero dos EUA pousou novamente no gramado do destruído Palácio Nacional, onde os militares brasileiras planejam fazer uma grande entrega de alimentos hoje.
A justificativa americana era de que as patrulhas no centro tinham como objetivo assegurar a chegada de ambulâncias até o hospital Geral, o maior de Porto Príncipe, cuja vigilância está a cargo dos EUA.
Toda a segurança pública da região central de Porto Príncipe, além de áreas como a megafavela Cité Soleil, são de responsabilidade de militares brasileiros. Um acordo entre os EUA e a ONU, no entanto, autoriza a participação de soldados americanos em apoio a operações de assistência humanitária.


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