São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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Cerca de 55 mil páginas que já haviam sido liberadas ao público voltam a ser consideradas sigilosas

Governo Bush retira documentos de arquivos

SCOTT SHANE
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Num programa de sete anos implantado nos Arquivos Nacionais, agências de inteligência têm retirado do acesso público milhares de documentos históricos disponíveis havia vários anos, incluindo alguns já publicados pelo Departamento de Estado e outros fotocopiados por historiadores.
A restauração da condição de sigiloso a mais de 55 mil páginas que já haviam sido liberadas começou em 1999, quando a CIA (Agência Central de Inteligência) e cinco outras agências se opuseram ao que foi considerada uma divulgação apressada de informação sensível. Esse movimento se acelerou com o governo George W. Bush, sobretudo depois do 11 de Setembro, de acordo com os registros dos arquivos.
Mas, devido ao fato de o programa de reclassificação estar ele mesmo envolvido em mistério -regido por um memorando ainda sigiloso que proíbe os Arquivos Nacionais até de dizer quais as agências envolvidas-, a prática seguiu despercebida até dezembro. Foi quando o historiador Matthew M. Aid notou que dezenas de documentos que havia copiado anos atrás foram retirados dos arquivos abertos.
Aid ficou impressionado pelo conteúdo aparentemente inócuo dos documentos -na maioria, relatórios do Departamento de Estado datados de décadas atrás sobre a Guerra da Coréia e a Guerra Fria. Ele descobriu que oito documentos retirados haviam sido publicados na série de história do Departamento de Estado.
"O material que eles recolheram nunca deveria ter sido retirado", disse Aid. "Alguns são banais; outros são simplesmente ridículos."
Depois que Aid e outros historiadores reclamaram, o Escritório de Vigilância de Informações de Segurança, que supervisiona a classificação do governo, começou uma auditoria, informou o seu diretor, J. William Leonard.
Ele disse que, depois de a auditoria ter revisado uma amostra de 16 documentos retirados, nenhum deles deveria ser sigiloso.
"Se esses documentos da amostra foram retirados porque alguém pensou que eles eram sigilosos, estou chocado e desapontado", disse Leonard, em entrevista.
Um grupo de historiadores, incluindo representantes da Coalizão Nacional pela História e a Sociedade dos Historiadores de Relações Estrangeiras Americanas, escreveu a Leonard na sexta demonstrando preocupação sobre o programa, o qual eles crêem ter bloqueado o acesso a documentos de bibliotecas presidenciais.
Entre os 50 documentos retirados que Aid encontrou em seus próprios arquivos está um memorando de 1948 da CIA sobre um plano de empregar balões para distribuir folhetos de propaganda em países atrás da cortina de ferro. O documento foi colocado em sigilo em 2001 apesar de ter sido publicado pelo Departamento de Estado em 1996.
Pela regra vigente, um documento governamental deve deixar de ser sigiloso depois de 25 anos, a não ser que exista uma razão específica para mantê-lo em segredo. Embora algumas escolhas feitas pelo revisores dos arquivos sejam perturbadoras, outras decisão parecem orientadas por um velho reflexo burocrático: encobrir constrangimentos, mesmo ocorridos 50 anos atrás.
Um documento que voltou a ser sigiloso, por exemplo, é uma avaliação de 12 de outubro de 1950 feita pela CIA segundo a qual uma intervenção chinesa na Guerra da Coréia "não era provável" naquele ano. Duas semanas mais tarde, cerca de 300 mil soldados chineses chegavam à Coréia.


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