São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

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Medidas pró-EUA levam Prodi à renúncia

Soldados no Afeganistão e base americana racham base governista e senado italiano veta proposta de política externa

Presidente pode convocar nova eleição ou nomear outro premiê; Prodi estava havia nove meses no cargo, e há temor de instabilidade

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, renunciou ontem ao cargo. Após ser derrotado na tentativa de aprovar no Senado a proposta de política externa do governo, Romano Prodi, da coalizão de centro-esquerda União, foi ao palácio presidencial entregar seu cargo ao presidente Giorgio Napolitano, que o aceitou.
Napolitano tem agora diversas opções para tentar resolver a crise; entre elas estão a nomeação de um outro premiê saído da coalizão governista ou a convocação de novas eleições parlamentares. O presidente deve conversar hoje com lideranças políticas italianas a fim de embasar sua decisão.

Afeganistão e Vicenza
O texto cuja rejeição pelo Senado italiano derrubou Prodi tratava das diretrizes que o governo, iniciado há apenas nove meses, adotaria na política externa. Descrita pelo próprio governo como uma política inspirada no repúdio à guerra e no respeito pelo papel da União Européia e da ONU nos conflitos mundiais, ela tinha, porém, dois pontos que provocaram polêmica na Itália -e que, em última instância, causaram a sua rejeição. São eles a manutenção do contingente de cerca de 1.900 soldados italianos no Afeganistão e a permissão da expansão de uma base militar americana em Vicenza, no norte da Itália.
A manutenção dessas medidas na proposta fez com que Prodi perdesse o apoio de parlamentares de extrema esquerda -comunistas e verdes- que compunham sua frágil base.
"Eu sou contra a guerra no Afeganistão e contra a base em Vicenza", declarou o senador Franco Turigliatto, da Refundação Comunista, antes da sessão no Senado.
O resultado da votação de ontem foi apertado: o governo precisava de 160 votos para vencer, mas obteve 158. Houve 24 abstenções, o que, no Senado italiano, conta como voto contra.
Um sinal de que a política externa em si não era do agrado dos conservadores foi o fato de 136 parlamentares da oposição terem votado contra ela. No entanto os dois pontos controversos claramente favorecem os EUA, já que o presidente George W. Bush tem reclamado recentemente uma maior participação e empenho dos países que compõem a Otan (aliança militar ocidental, da qual a Itália faz parte) na missão no Afeganistão. Existem hoje 35 mil militares no país, 24 mil dos quais americanos.

Equilíbrio delicado
A sessão de ontem no Parlamento não foi um episódio desconexo do histórico do breve mandato de Romano Prodi.
Nas eleições do ano passado, a União ganhou maioria no Senado com apenas um voto de diferença -voto esse obtido entre as cadeiras dos senadores eleitos pelos italianos que vivem no exterior.
As dificuldades que Prodi teria para governar um país com o Parlamento dividido ficaram bastante claras quando da aprovação de seu pacote de reforma orçamentária no Senado, no fim do ano passado. A proposta, que busca colocar o déficit orçamentário italiano dentro do patamar estabelecido pelo Banco Central Europeu -menos de 3% do PIB-, estabelece o aumento de impostos da camada da população que tem renda e salários mais altos. Ela passou no Senado por 162 a 157. Já naquela época a imprensa e a oposição italianas avaliavam que uma derrota do pacote derrubaria o premiê.
Vislumbrando o resultado da votação de ontem, o chanceler Massimo d'Alema, que é também o vice-premiê italiano, alertou anteontem os dissidentes da base governista que se opunham à manutenção de tropas no Afeganistão, dizendo que o governo deveria renunciar caso não conseguisse apoio para sua política externa.
"Revogar a autorização [da expansão da base militar] seria um ato hostil de nossa parte contra os EUA", declarou D'Alema, justificando que o governo estava sendo compelido a permitir a expansão das instalações americanas em Vicenza.
Já o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi celebrou a renúncia de Prodi: "A política externa envolve o papel e a imagem da Itália no mundo, além da vida de nossos soldados comprometidos com as missões de paz internacionais". "Ele [Prodi] tinha obrigação de renunciar", disse o ex-premiê, conservador, em cujo governo foram despachadas as tropas italianas para o Afeganistão e foram aprovados os planos de expansão da base em Vicenza.


Com agências internacionais


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