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Medidas pró-EUA levam Prodi à renúncia
Soldados no Afeganistão e base americana racham base governista e senado italiano veta proposta de política externa
Presidente pode convocar nova eleição ou nomear outro premiê; Prodi estava havia nove meses no cargo, e há temor de instabilidade
DA REDAÇÃO
O primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, renunciou
ontem ao cargo. Após ser derrotado na tentativa de aprovar
no Senado a proposta de política externa do governo, Romano
Prodi, da coalizão de centro-esquerda União, foi ao palácio
presidencial entregar seu cargo
ao presidente Giorgio Napolitano, que o aceitou.
Napolitano tem agora diversas opções para tentar resolver
a crise; entre elas estão a nomeação de um outro premiê
saído da coalizão governista ou
a convocação de novas eleições
parlamentares. O presidente
deve conversar hoje com lideranças políticas italianas a fim
de embasar sua decisão.
Afeganistão e Vicenza
O texto cuja rejeição pelo Senado italiano derrubou Prodi
tratava das diretrizes que o governo, iniciado há apenas nove
meses, adotaria na política externa. Descrita pelo próprio governo como uma política inspirada no repúdio à guerra e no
respeito pelo papel da União
Européia e da ONU nos conflitos mundiais, ela tinha, porém,
dois pontos que provocaram
polêmica na Itália -e que, em
última instância, causaram a
sua rejeição. São eles a manutenção do contingente de cerca
de 1.900 soldados italianos no
Afeganistão e a permissão da
expansão de uma base militar
americana em Vicenza, no norte da Itália.
A manutenção dessas medidas na proposta fez com que
Prodi perdesse o apoio de parlamentares de extrema esquerda -comunistas e verdes- que
compunham sua frágil base.
"Eu sou contra a guerra no
Afeganistão e contra a base em
Vicenza", declarou o senador
Franco Turigliatto, da Refundação Comunista, antes da sessão no Senado.
O resultado da votação de ontem foi apertado: o governo
precisava de 160 votos para
vencer, mas obteve 158. Houve
24 abstenções, o que, no Senado italiano, conta como voto
contra.
Um sinal de que a política externa em si não era do agrado
dos conservadores foi o fato de
136 parlamentares da oposição
terem votado contra ela. No entanto os dois pontos controversos claramente favorecem os
EUA, já que o presidente George W. Bush tem reclamado recentemente uma maior participação e empenho dos países
que compõem a Otan (aliança
militar ocidental, da qual a Itália faz parte) na missão no Afeganistão. Existem hoje 35 mil
militares no país, 24 mil dos
quais americanos.
Equilíbrio delicado
A sessão de ontem no Parlamento não foi um episódio desconexo do histórico do breve
mandato de Romano Prodi.
Nas eleições do ano passado,
a União ganhou maioria no Senado com apenas um voto de
diferença -voto esse obtido
entre as cadeiras dos senadores
eleitos pelos italianos que vivem no exterior.
As dificuldades que Prodi teria para governar um país com
o Parlamento dividido ficaram
bastante claras quando da
aprovação de seu pacote de reforma orçamentária no Senado, no fim do ano passado. A
proposta, que busca colocar o
déficit orçamentário italiano
dentro do patamar estabelecido pelo Banco Central Europeu
-menos de 3% do PIB-, estabelece o aumento de impostos
da camada da população que
tem renda e salários mais altos.
Ela passou no Senado por 162 a
157. Já naquela época a imprensa e a oposição italianas
avaliavam que uma derrota do
pacote derrubaria o premiê.
Vislumbrando o resultado da
votação de ontem, o chanceler
Massimo d'Alema, que é também o vice-premiê italiano,
alertou anteontem os dissidentes da base governista que se
opunham à manutenção de tropas no Afeganistão, dizendo
que o governo deveria renunciar caso não conseguisse apoio
para sua política externa.
"Revogar a autorização [da
expansão da base militar] seria
um ato hostil de nossa parte
contra os EUA", declarou D'Alema, justificando que o governo estava sendo compelido a
permitir a expansão das instalações americanas em Vicenza.
Já o ex-premiê italiano Silvio
Berlusconi celebrou a renúncia
de Prodi: "A política externa
envolve o papel e a imagem da
Itália no mundo, além da vida
de nossos soldados comprometidos com as missões de paz internacionais". "Ele [Prodi] tinha obrigação de renunciar",
disse o ex-premiê, conservador, em cujo governo foram
despachadas as tropas italianas
para o Afeganistão e foram
aprovados os planos de expansão da base em Vicenza.
Com agências internacionais
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