São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Analistas veem obstáculos para unificar voz latina em Cancún

DA REPORTAGEM LOCAL

A aposta latino-americana e caribenha de criar até amanhã no México um fórum multilateral praticamente hemisférico -apenas sem os EUA e o Canadá- deve encontrar obstáculos em sua implementação, dada a diversidade política e de projetos de desenvolvimento.
A ideia é, na prática, promover a ampliação, com a incorporação do Caribe, do Grupo do Rio, mecanismo de concertação política cujo embrião nasceu nos anos 80 para promover uma solução latino-americana para as guerras civis centro-americanas.
Mas se, à época , os países defendiam objetivos claros comuns, como a demanda pela diminuição da presença militar americana na região, agora o quadro é mais complexo, apontam os analistas.
O próprio Grupo do Rio, que teve momentos de destaque nos últimos dois anos, como na crise entre Colômbia e Equador em 2008, passará por um teste agora. Uma das incógnitas é saber como o mecanismo se comportará sob comando do Chile, que receberá do México a presidência pro-tempore da organização.
Daqui a poucas semanas, tomará posse o novo presidente chileno, o conservador Sebastián Piñera, que ao lado da atual ocupante do cargo, Michelle Bachelet, fará sua estreia em eventos internacionais justamente na cúpula de Cancún.
Piñera já deu declarações que indicam uma atitude distinta da moderadora Bachelet. Na campanha e depois, criticou várias vezes o presidente venezuelano, Hugo Chávez, por ter ordenado o fechamento de rádios e TVs, por exemplo.
Mas há no corpo diplomático brasileiro quem avalie que essa retórica de Piñera será ajustada aos objetivos de Estado do Chile, que incluiria não criar mais pontos de atrito -já os têm com Bolívia e Peru. Com o primeiro, por causa da saída ao mar. Com o segundo, pela definição dos limites marítimos.

Energia brasileira
Os analistas americanos Peter Hakim, do "think tank" Diálogo Inter-americano, e Christopher Sabatini, do Conselho das Américas, são, em geral, céticos quanto à iniciativa.
"Confio menos na Calc [Cúpula da América Latina e Caribe] do que na Unasul ou Mercosul -que envolvem menos países e um grupo mais homogêneo", aponta Hakim.
O americano acredita que o Brasil está desperdiçando energia: "Há um ano, o Brasil sugeriu que nem o hemisfério nem a América Latina eram unidades apropriadas para a integração -o país buscaria se concentrar na América do Sul e nos desafios globais. Por quê está promovendo a Calc? Não entendo, francamente".
Já para o México, a cúpula tem um dividendo: uma nova oportunidade para o governo de Felipe Calderón, conservador, aprofundar a relação com a região e mostrar diferenças ante ao alinhamento automático com os EUA de seu antecessor, Vicent Fox. (FLÁVIA MARREIRO)


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