|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Analistas veem obstáculos para unificar voz latina em Cancún
DA REPORTAGEM LOCAL
A aposta latino-americana e
caribenha de criar até amanhã
no México um fórum multilateral praticamente hemisférico
-apenas sem os EUA e o Canadá- deve encontrar obstáculos
em sua implementação, dada a
diversidade política e de projetos de desenvolvimento.
A ideia é, na prática, promover a ampliação, com a incorporação do Caribe, do Grupo do
Rio, mecanismo de concertação política cujo embrião nasceu nos anos 80 para promover
uma solução latino-americana
para as guerras civis centro-americanas.
Mas se, à época , os países defendiam objetivos claros comuns, como a demanda pela diminuição da presença militar
americana na região, agora o
quadro é mais complexo, apontam os analistas.
O próprio Grupo do Rio, que
teve momentos de destaque
nos últimos dois anos, como na
crise entre Colômbia e Equador em 2008, passará por um
teste agora. Uma das incógnitas
é saber como o mecanismo se
comportará sob comando do
Chile, que receberá do México
a presidência pro-tempore da
organização.
Daqui a poucas semanas, tomará posse o novo presidente
chileno, o conservador Sebastián Piñera, que ao lado da atual
ocupante do cargo, Michelle
Bachelet, fará sua estreia em
eventos internacionais justamente na cúpula de Cancún.
Piñera já deu declarações que
indicam uma atitude distinta
da moderadora Bachelet. Na
campanha e depois, criticou várias vezes o presidente venezuelano, Hugo Chávez, por ter
ordenado o fechamento de rádios e TVs, por exemplo.
Mas há no corpo diplomático
brasileiro quem avalie que essa
retórica de Piñera será ajustada
aos objetivos de Estado do Chile, que incluiria não criar mais
pontos de atrito -já os têm
com Bolívia e Peru. Com o primeiro, por causa da saída ao
mar. Com o segundo, pela definição dos limites marítimos.
Energia brasileira
Os analistas americanos Peter Hakim, do "think tank" Diálogo Inter-americano, e Christopher Sabatini, do Conselho
das Américas, são, em geral, céticos quanto à iniciativa.
"Confio menos na Calc [Cúpula da América Latina e Caribe] do que na Unasul ou Mercosul -que envolvem menos países e um grupo mais homogêneo", aponta Hakim.
O americano acredita que o
Brasil está desperdiçando
energia: "Há um ano, o Brasil
sugeriu que nem o hemisfério
nem a América Latina eram
unidades apropriadas para a integração -o país buscaria se
concentrar na América do Sul e
nos desafios globais. Por quê
está promovendo a Calc? Não
entendo, francamente".
Já para o México, a cúpula
tem um dividendo: uma nova
oportunidade para o governo
de Felipe Calderón, conservador, aprofundar a relação com a
região e mostrar diferenças ante ao alinhamento automático
com os EUA de seu antecessor,
Vicent Fox.
(FLÁVIA MARREIRO)
Texto Anterior: Prospecção nas Malvinas mobiliza cúpula regional Próximo Texto: Visita a Cuba: Prisioneiros políticos pedem ajuda a Lula Índice
|