São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Palestinos apoiam ambição nuclear do Irã

Apesar de sujeito a graves consequências no caso de um ataque atômico a Israel, povo é exceção no mundo árabe e respalda plano de Teerã

Palestinos, rachados entre Hamas e Fatah, concordam que pressões internacionais acerca da questão nuclear devem começar por Israel


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

Na movimentada praça dos Leões, coração da cidade palestina de Ramallah, na Cisjordânia, uma placa informa com precisão a curta distância até Jerusalém: 14,63 km.
Uma ameaça nuclear a Israel provavelmente teria repercussões devastadoras aqui e no resto dos territórios palestinos, mesmo que atingisse centros urbanos israelenses mais distantes que Jerusalém.
Apesar disso, entre os palestinos as opiniões e temores em relação à possibilidade de que o Irã venha a ter a bomba atômica são bem menos categóricos que em Israel, onde ela é vista pelo governo e pela maioria da população como nada menos que uma ameaça existencial.
Rachados entre o secular Fatah, que administra a Cisjordânia, e o movimento islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza, os palestinos parecem concordar em um ponto quando falam do Irã: se é para evitar a nuclearização do Oriente Médio, a pressão deveria começar por Israel.
"Armas nucleares são má notícia em qualquer circunstância, mas o Ocidente não tem credibilidade para pressionar o Irã enquanto faz vista grossa para Israel", diz Ghassan Khatib, político veterano, atualmente diretor do escritório de imprensa da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Israel mantém uma política de ambiguidade, jamais admitindo ou negando possuir armas atômicas. Entre os especialistas há consenso de que o país é uma potência nuclear há décadas. Alguns especulam que seu arsenal poderia ter 200 ogivas nucleares ou mais.
A ANP mantém relações turbulentas com o Irã devido ao apoio de Teerã ao Hamas, que inclui o fornecimento de armas. A liderança do Hamas já declarou mais de uma vez que retaliará com violência caso Israel cumpra suas ameaças de atacar as instalações nucleares iranianas. O libanês Hizbollah, misto de milícia e partido político e outro aliado radical de Teerã, fez o mesmo alerta.
Embora a hegemonia nuclear regional de Israel incomode a vizinhança, pesquisas de opinião mostram que, na maioria dos países, a perspectiva de um Irã armado com bombas atômicas é vista com temor.
A desconfiança tem muito a ver com uma enraizada rivalidade entre árabes, em sua maioria muçulmanos sunitas, e os persas, xiitas, mas é motivada principalmente pelo projeto de supremacia regional do atual regime de Teerã.
Os palestinos são a única exceção no mundo árabe: segundo as pesquisas, a maioria apoia as ambições nucleares iranianas e desconfia do Ocidente. Sobretudo depois que os EUA invadiram o Iraque sob a justificativa de que o país tinha armas atômicas, que depois se revelaram inexistentes.
"Acho que só querem um pretexto para atacar o Irã, assim como fizeram com o Iraque", diz à Folha o professor de ensino médio Faissal, interrompendo o passo apressado no agitado centro de Ramallah.
Apesar de manifestar solidariedade com o Irã, ele descarta a tese de que Teerã evitaria um ataque a Israel por medo de atingir muçulmanos. "Eles não estão nem um pouco preocupados com os palestinos, nós somos sunitas, lembra?".


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