|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Palestinos apoiam ambição nuclear do Irã
Apesar de sujeito a graves consequências no caso de um ataque atômico a Israel, povo é exceção no mundo árabe e respalda plano de Teerã
Palestinos, rachados entre Hamas e Fatah, concordam que pressões internacionais acerca da questão nuclear devem começar por Israel
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
Na movimentada praça dos
Leões, coração da cidade palestina de Ramallah, na Cisjordânia, uma placa informa com
precisão a curta distância até
Jerusalém: 14,63 km.
Uma ameaça nuclear a Israel
provavelmente teria repercussões devastadoras aqui e no
resto dos territórios palestinos,
mesmo que atingisse centros
urbanos israelenses mais distantes que Jerusalém.
Apesar disso, entre os palestinos as opiniões e temores em
relação à possibilidade de que o
Irã venha a ter a bomba atômica são bem menos categóricos
que em Israel, onde ela é vista
pelo governo e pela maioria da
população como nada menos
que uma ameaça existencial.
Rachados entre o secular Fatah, que administra a Cisjordânia, e o movimento islâmico
Hamas, que controla a faixa de
Gaza, os palestinos parecem
concordar em um ponto quando falam do Irã: se é para evitar
a nuclearização do Oriente Médio, a pressão deveria começar
por Israel.
"Armas nucleares são má notícia em qualquer circunstância, mas o Ocidente não tem
credibilidade para pressionar o
Irã enquanto faz vista grossa
para Israel", diz Ghassan Khatib, político veterano, atualmente diretor do escritório de
imprensa da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Israel mantém uma política
de ambiguidade, jamais admitindo ou negando possuir armas atômicas. Entre os especialistas há consenso de que o
país é uma potência nuclear há
décadas. Alguns especulam que
seu arsenal poderia ter 200 ogivas nucleares ou mais.
A ANP mantém relações turbulentas com o Irã devido ao
apoio de Teerã ao Hamas, que
inclui o fornecimento de armas. A liderança do Hamas já
declarou mais de uma vez que
retaliará com violência caso Israel cumpra suas ameaças de
atacar as instalações nucleares
iranianas. O libanês Hizbollah,
misto de milícia e partido político e outro aliado radical de
Teerã, fez o mesmo alerta.
Embora a hegemonia nuclear regional de Israel incomode a vizinhança, pesquisas
de opinião mostram que, na
maioria dos países, a perspectiva de um Irã armado com bombas atômicas é vista com temor.
A desconfiança tem muito a
ver com uma enraizada rivalidade entre árabes, em sua
maioria muçulmanos sunitas, e
os persas, xiitas, mas é motivada principalmente pelo projeto
de supremacia regional do
atual regime de Teerã.
Os palestinos são a única exceção no mundo árabe: segundo as pesquisas, a maioria apoia
as ambições nucleares iranianas e desconfia do Ocidente.
Sobretudo depois que os EUA
invadiram o Iraque sob a justificativa de que o país tinha armas atômicas, que depois se revelaram inexistentes.
"Acho que só querem um
pretexto para atacar o Irã, assim como fizeram com o Iraque", diz à Folha o professor de
ensino médio Faissal, interrompendo o passo apressado
no agitado centro de Ramallah.
Apesar de manifestar solidariedade com o Irã, ele descarta
a tese de que Teerã evitaria um
ataque a Israel por medo de
atingir muçulmanos. "Eles não
estão nem um pouco preocupados com os palestinos, nós
somos sunitas, lembra?".
Texto Anterior: Campo: Milícia protegerá pores de ação de fazendeiros, diz venezuelano Próximo Texto: EUA dizem que irão pressionar Teerã sobre programa nuclear Índice
|