São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Líder supremo do Irã aceita debater Iraque com os EUA; sargento é condenado por maus-tratos em Abu Ghraib

Bush diz que retirada caberá a sucessor

DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que as tropas americanas podem permanecer no Iraque depois do fim de seu mandato, em janeiro de 2009, mas voltou a dizer que o país não atravessa uma guerra civil.
A Casa Branca tem resistido a estabelecer um prazo para a retirada. Funcionários do governo têm excluído a possibilidade de que isso comece logo, e muitos dos aliados republicanos de Bush estão ansiosos para que haja progressos antes das eleições parlamentares de novembro.
Apesar dos alertas de líderes iraquianos e da própria diplomacia americana sobre o risco iminente de guerra civil, os mais de 130 mil militares americanos são vistos por muitos como imprescindíveis para conter a violência.
Questionado sobre quando as tropas americanas deixarão o Iraque, Bush afirmou, em entrevista coletiva na Casa Branca: "Isso será decidido pelos futuros presidentes [dos EUA] e pelos futuros governos do Iraque".
Enquanto Bush responde aos questionamentos dos americanos três anos depois da invasão, os iraquianos reclamam das supostas matanças de civis cometidas por tropas dos EUA.
Já as forças iraquianas treinadas pelos EUA para que assumam a maior parte das operações de segurança sofreram mais um duro golpe ontem, quando insurgentes mataram ao menos 22 pessoas -na maioria, policiais- e soltaram 30 prisioneiros de uma delegacia. A ação foi realizada por cerca de cem insurgentes em Moqdadiya, nordeste de Bagdá. Dez deles teriam sido mortos, segundo fontes iraquianas.
Também ontem, um soldado americano foi morto a tiros em Bagdá, elevando o número de baixas dos EUA para 2.319.

Sem guerra civil
Bush rejeitou os comentários do ex-premiê iraquiano Iyad Allawi de que o país já vive uma guerra civil, ao afirmar que é bom sinal que um ataque, realizado um mês atrás contra uma importante mesquita xiita em Samarra, tenha falhado em desencadear um conflito total: "Da forma como eu vejo, os iraquianos avaliaram e decidiram não ceder à guerra civil".
Em Bagdá, uma delegação de senadores americanos expressou a impaciência americana com o fracasso dos líderes iraquianos em formar um governo três meses após as eleições.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse ontem, pela primeira vez, que aprova a realização de consultas entre representantes de seu país e americanos sobre o Iraque, mas advertiu que os EUA não devem tentar "intimidar" o Irã. EUA e Irã não têm laços diplomáticos desde 1979.
Ontem, o presidente americano disse que é favor do diálogo, no qual os EUA mostrariam ao Irã "o que é certo ou errado em suas atividades dentro do Iraque".
Khamenei disse que, "se os representantes do Irã puderem fazer com que os EUA entendam alguns temas sobre o Iraque, não há problema com as negociações. Mas, se a conversa significa abrir uma oportunidade para intimidação ou imposição pela parte desonesta, então será proibida."

Condenação
O sargento americano Michael Smith, 24, foi condenado ontem por ter cometido maus-tratos contra prisioneiros iraquianos na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá. Até o fechamento desta edição, a sentença não havia sido pronunciada -ele pode pegar até oito anos e nove meses de prisão.
Smith foi acusado de usar seu cachorro para molestar e ameaçar prisioneiros para que urinassem ou defecassem neles mesmos, entre 2003 e 2004.
Fotos perturbadoras de presos sendo intimidados ou humilhados por cachorros foram tornadas públicas em 2004, minando os esforços de Washington para conseguir apoio à guerra. Várias dessas fotos foram usadas como evidência contra Smith.


Com agências internacionais

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