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Bush e Congresso rumam para confronto
Comissão da Câmara aprova intimação de Karl Rove e outros assessores presidenciais para depor sobre demissão de procuradores
Ação desafia a prerrogativa do Privilégio Executivo, pelo qual o presidente pode se recusar a dar informações ao Congresso e aos tribunais
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Subiu alguns graus nas últimas horas a temperatura do
enfrentamento entre Executivo e Legislativo, um embate a
que a capital norte-americana
não assiste igual desde pelo menos o caso Watergate, nos anos
70. Ontem, uma comissão da
Câmara dos Representantes
(deputados federais) aprovou a
intimação de Karl Rove e de outros assessores do presidente
George W. Bush para depor sobre a demissão de oito procuradores federais.
Há a suspeita de que os procuradores tenham sido demitidos por motivos políticos. Documentos e troca de e-mails já
examinados pelo Congresso
dão margem à interpretação de
que, se os motivos foram mesmo políticos, Alberto Gonzales,
secretário da Justiça de Bush, e
Karl Rove, mais importante assessor político presidencial, tiveram um papel decisivo nelas.
A ação foi tomada claramente para desafiar a prerrogativa
do Privilégio Executivo, instrumento pelo qual o presidente
norte-americano pode se recusar a revelar algumas informações para o Congresso e para os
tribunais, mesmo diante de
uma intimação. Vem menos de
24 horas depois de o Senado ter
restringido o direito do governo de nomear procuradores.
Xadrez
É mais um lance de xadrez
entre um presidente enfraquecido politicamente pela condução da Guerra do Iraque e um
Congresso dominado pela oposição democrata e de olho na
sucessão presidencial de 2008.
"Se o presidente resolver questionar nos tribunais as intimações, o caso pode durar mais do
que sua Presidência", disse o
analista legal Jeffrey Toobin.
Um subcomitê da Comissão
Judiciária aprovou medida que
convoca Rove a testemunhar
em público sobre seu papel nas
demissões; para ter efeito, a intimação ainda tem de ser votada em plenário. A Casa Branca
afirmou que aceita que seus assessores sejam entrevistados
-não intimados nem interrogados- em sessões privadas.
George W. Bush reafirmou sua
confiança em Gonzales.
"A verdadeira pergunta aqui
é, e essa é uma decisão que os
membros do Congresso terão
de tomar, vocês querem chegar
à verdade ou criar um espetáculo político?", perguntou
Tony Snow, porta-voz da Casa
Branca, em reação à decisão de
ontem. "Porque essas são as opções que estão na mesa."
Anteontem, o presidente republicano havia feito um pedido público à subcomissão para
que as entrevistas fossem feitas
particularmente, sem a presença da mídia e sem serem gravadas. Além da de Rove, foi aprovada a intimação da ex-conselheira jurídica Harriet Miers,
que já deixou a Casa Branca, e
um assessor direto do secretário da Justiça, todos para depoimentos públicos e gravados.
O Congresso resolveu investigar depois de serem reveladas
trocas de e-mails que detalham
as motivações políticas na demissão dos oito promotores,
todos considerados defensores
de posições contrárias às da Casa Branca. O caso vem de janeiro de 2005, logo após a eleição
de Bush para o segundo mandato, quando um assessor de
Gonzales fez uma lista em que
classifica todos os 93 procuradores federais de acordo com
sua fidelidade partidária.
Os cargos têm ocupantes
apontados pelo presidente e
confirmados pelo Senado. Rove
teria participado da elaboração
da lista, e a oposição se questiona se ele teria agido a pedido de
Bush. Anteontem, o presidente
lamentou o que chama de motivação política para a investigação e disse que não há provas de
que alguém tenha agido deliberadamente de má-fé.
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