São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Bush e Congresso rumam para confronto

Comissão da Câmara aprova intimação de Karl Rove e outros assessores presidenciais para depor sobre demissão de procuradores

Ação desafia a prerrogativa do Privilégio Executivo, pelo qual o presidente pode se recusar a dar informações ao Congresso e aos tribunais

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Subiu alguns graus nas últimas horas a temperatura do enfrentamento entre Executivo e Legislativo, um embate a que a capital norte-americana não assiste igual desde pelo menos o caso Watergate, nos anos 70. Ontem, uma comissão da Câmara dos Representantes (deputados federais) aprovou a intimação de Karl Rove e de outros assessores do presidente George W. Bush para depor sobre a demissão de oito procuradores federais.
Há a suspeita de que os procuradores tenham sido demitidos por motivos políticos. Documentos e troca de e-mails já examinados pelo Congresso dão margem à interpretação de que, se os motivos foram mesmo políticos, Alberto Gonzales, secretário da Justiça de Bush, e Karl Rove, mais importante assessor político presidencial, tiveram um papel decisivo nelas.
A ação foi tomada claramente para desafiar a prerrogativa do Privilégio Executivo, instrumento pelo qual o presidente norte-americano pode se recusar a revelar algumas informações para o Congresso e para os tribunais, mesmo diante de uma intimação. Vem menos de 24 horas depois de o Senado ter restringido o direito do governo de nomear procuradores.

Xadrez
É mais um lance de xadrez entre um presidente enfraquecido politicamente pela condução da Guerra do Iraque e um Congresso dominado pela oposição democrata e de olho na sucessão presidencial de 2008. "Se o presidente resolver questionar nos tribunais as intimações, o caso pode durar mais do que sua Presidência", disse o analista legal Jeffrey Toobin.
Um subcomitê da Comissão Judiciária aprovou medida que convoca Rove a testemunhar em público sobre seu papel nas demissões; para ter efeito, a intimação ainda tem de ser votada em plenário. A Casa Branca afirmou que aceita que seus assessores sejam entrevistados -não intimados nem interrogados- em sessões privadas. George W. Bush reafirmou sua confiança em Gonzales.
"A verdadeira pergunta aqui é, e essa é uma decisão que os membros do Congresso terão de tomar, vocês querem chegar à verdade ou criar um espetáculo político?", perguntou Tony Snow, porta-voz da Casa Branca, em reação à decisão de ontem. "Porque essas são as opções que estão na mesa."
Anteontem, o presidente republicano havia feito um pedido público à subcomissão para que as entrevistas fossem feitas particularmente, sem a presença da mídia e sem serem gravadas. Além da de Rove, foi aprovada a intimação da ex-conselheira jurídica Harriet Miers, que já deixou a Casa Branca, e um assessor direto do secretário da Justiça, todos para depoimentos públicos e gravados.
O Congresso resolveu investigar depois de serem reveladas trocas de e-mails que detalham as motivações políticas na demissão dos oito promotores, todos considerados defensores de posições contrárias às da Casa Branca. O caso vem de janeiro de 2005, logo após a eleição de Bush para o segundo mandato, quando um assessor de Gonzales fez uma lista em que classifica todos os 93 procuradores federais de acordo com sua fidelidade partidária.
Os cargos têm ocupantes apontados pelo presidente e confirmados pelo Senado. Rove teria participado da elaboração da lista, e a oposição se questiona se ele teria agido a pedido de Bush. Anteontem, o presidente lamentou o que chama de motivação política para a investigação e disse que não há provas de que alguém tenha agido deliberadamente de má-fé.


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