São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Oposição tentará transformar derrota em vitória nas urnas

Republicanos tentarão capitalizar insatisfação do eleitorado com a condução da reforma

Partido espera, assim, repetir 1994 e conseguir reverter desvantagem no Congresso em eleições legislativas de novembro

DE WASHINGTON

A aprovação de sua principal bandeira doméstica, a reforma do sistema de saúde, é um triunfo inegável para o presidente Barack Obama, especialmente após um difícil primeiro ano de governo. É cedo para dizer, porém, de que forma os custos dessa vitória afetarão os democratas nas eleições para o Congresso em novembro.
Obama fez o que nenhum presidente antes dele conseguiu -se aproximar da universalização do sistema de saúde americano. Na última tentativa do tipo, o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) sofreu uma derrota estrondosa, que lhe custou o controle do Congresso nas eleições de 1994, em fiasco que ficou conhecido como a "revolução republicana".
Um fracasso provavelmente enfraqueceria Obama pelo resto de seus dias na Casa Branca. Mas o debate que antecedeu a aprovação da reforma já causou danos consideráveis a ele e ao Partido Democrata.
Em parte por causa das críticas às propostas para a saúde, a popularidade de Obama caiu de 63% em janeiro para 47% hoje, segundo a média das pesquisas tabulada pelo site Real Clear Politics (RCP). Pesquisas de opinião feitas antes da votação mostram que mais americanos desaprovam do que aprovam a atuação do presidente em relação à reforma -49,3% a 40,1%, segundo o RCP.
A discussão ajudou a alimentar o movimento opositor ultraconservador "Tea Party", e Obama passou a ser classificado como socialista e comunista por defender maior papel do governo na indústria da saúde.
Com as manobras e as pressões realizadas para a aprovação da reforma, há temores de que eleitores independentes se afastem dos democratas, possibilidade cada vez mais explorada pela oposição.
Diferentemente de outras legislações de profundo impacto na arena social dos EUA, como a da seguridade social e a dos programas de saúde públicos (Medicare, para idosos, e Medicaid, para pobres), a aprovação ocorreu em linhas estritamente partidárias, sem um único voto republicano.
"A última palavra sobre a reforma da saúde será dada pelos eleitores em novembro", afirmou Michael Steele, presidente do partido oposicionista.
Newt Gingrich, ex-líder republicano da Câmara e um dos artífices da "revolução republicana", foi mais longe. Para ele, "com o mais radical experimento social dos tempos modernos (...), os democratas vão destruir seu partido tanto quanto [o presidente] Lyndon Johnson (1963-1969) o quebrou por 40 anos" com a aprovação da legislação de direitos civis nos anos 1960. Muitos analistas creditam o domínio republicano no sul dos EUA ao realinhamento de lealdades que a legislação dos direitos civis gerou na política nacional.
Democratas rejeitam essas sugestões e dizem que a população está interessada na reforma, não nos procedimentos de votação. Além disso, afirmam que a aprovação da lei causa muito menos danos ao partido do que sua derrota -como mostrou a eleição de 1994.
Por fim, o governo enfrentará desafios nos Estados: leis e resoluções foram apresentadas em ao menos 36 legislaturas estaduais para tentar limitar ou barrar diversos pontos da reforma por meio de emendas locais. Um aspecto particularmente atacado é a obrigatoriedade -Estados pretendem manter a aquisição de planos opcional para indivíduos.
Seja qual for o resultado da aprovação da reforma, o debate sobre o sistema de saúde ainda vai continuar por muito tempo. "A divisão que temos agora não vai desaparecer", afirmou ao "Washington Post" o historiador Robert Dallek. "Ela vai continuar a ser parte do debate nacional."


Texto Anterior: Congresso aprova a reforma da saúde e dá a Obama maior vitória
Próximo Texto: Milhares fazem protesto por reforma migratória nos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.