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Oposição tentará transformar
derrota em vitória nas urnas
Republicanos tentarão capitalizar insatisfação do eleitorado com a condução da reforma
Partido espera, assim,
repetir 1994 e conseguir
reverter desvantagem no
Congresso em eleições
legislativas de novembro
DE WASHINGTON
A aprovação de sua principal
bandeira doméstica, a reforma
do sistema de saúde, é um
triunfo inegável para o presidente Barack Obama, especialmente após um difícil primeiro
ano de governo. É cedo para dizer, porém, de que forma os
custos dessa vitória afetarão os
democratas nas eleições para o
Congresso em novembro.
Obama fez o que nenhum
presidente antes dele conseguiu -se aproximar da universalização do sistema de saúde
americano. Na última tentativa
do tipo, o ex-presidente Bill
Clinton (1993-2001) sofreu
uma derrota estrondosa, que
lhe custou o controle do Congresso nas eleições de 1994, em
fiasco que ficou conhecido como a "revolução republicana".
Um fracasso provavelmente
enfraqueceria Obama pelo resto de seus dias na Casa Branca.
Mas o debate que antecedeu a
aprovação da reforma já causou
danos consideráveis a ele e ao
Partido Democrata.
Em parte por causa das críticas às propostas para a saúde, a
popularidade de Obama caiu de
63% em janeiro para 47% hoje,
segundo a média das pesquisas
tabulada pelo site Real Clear
Politics (RCP). Pesquisas de
opinião feitas antes da votação
mostram que mais americanos
desaprovam do que aprovam a
atuação do presidente em relação à reforma -49,3% a 40,1%,
segundo o RCP.
A discussão ajudou a alimentar o movimento opositor ultraconservador "Tea Party", e
Obama passou a ser classificado como socialista e comunista
por defender maior papel do
governo na indústria da saúde.
Com as manobras e as pressões realizadas para a aprovação da reforma, há temores de
que eleitores independentes se
afastem dos democratas, possibilidade cada vez mais explorada pela oposição.
Diferentemente de outras legislações de profundo impacto
na arena social dos EUA, como
a da seguridade social e a dos
programas de saúde públicos
(Medicare, para idosos, e Medicaid, para pobres), a aprovação
ocorreu em linhas estritamente partidárias, sem um único
voto republicano.
"A última palavra sobre a reforma da saúde será dada pelos
eleitores em novembro", afirmou Michael Steele, presidente do partido oposicionista.
Newt Gingrich, ex-líder republicano da Câmara e um dos
artífices da "revolução republicana", foi mais longe. Para ele,
"com o mais radical experimento social dos tempos modernos (...), os democratas vão
destruir seu partido tanto
quanto [o presidente] Lyndon
Johnson (1963-1969) o quebrou por 40 anos" com a aprovação da legislação de direitos
civis nos anos 1960. Muitos
analistas creditam o domínio
republicano no sul dos EUA ao
realinhamento de lealdades
que a legislação dos direitos civis gerou na política nacional.
Democratas rejeitam essas
sugestões e dizem que a população está interessada na reforma, não nos procedimentos de
votação. Além disso, afirmam
que a aprovação da lei causa
muito menos danos ao partido
do que sua derrota -como
mostrou a eleição de 1994.
Por fim, o governo enfrentará desafios nos Estados: leis e
resoluções foram apresentadas
em ao menos 36 legislaturas estaduais para tentar limitar ou
barrar diversos pontos da reforma por meio de emendas locais. Um aspecto particularmente atacado é a obrigatoriedade -Estados pretendem
manter a aquisição de planos
opcional para indivíduos.
Seja qual for o resultado da
aprovação da reforma, o debate
sobre o sistema de saúde ainda
vai continuar por muito tempo.
"A divisão que temos agora não
vai desaparecer", afirmou ao
"Washington Post" o historiador Robert Dallek. "Ela vai continuar a ser parte do debate nacional."
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