São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Antes de visita, Netanyahu desafia EUA

Em meio a divergência em torno de assentamentos, premiê compara construções em Jerusalém Oriental às de Tel Aviv

Na véspera de viagem a EUA, israelense afirma que sua posição sobre construções na cidade, reivindicada por palestinos, está "muito clara"

DA REDAÇÃO

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, disse ontem que, a despeito de toda a pressão imposta por seu principal aliado, os Estados Unidos, não vai interromper as construções em Jerusalém Oriental. Horas antes de embarcar rumo a Washington para um encontro com Barack Obama, Netanyahu disse, em discurso aos ministros, que "a posição de Israel está muito clara" e "ficará clara na viagem à capital americana".
"Nossa política sobre Jerusalém é a mesma seguida por todos os governos israelenses há 42 anos. Para nós, construir em Jerusalém é o mesmo que fazê-lo em Tel Aviv", disse, antes de acrescentar que escreveu uma carta à secretária de Estado Hillary Clinton, deixando clara sua posição.
A divergência entre Israel e os EUA em relação às construções israelenses em regiões palestinas ocupadas na Guerra dos Seis Dias (1967) veio à tona no dia 9, quando Israel anunciou, no meio de uma visita do vice de Obama, Joe Biden, que construiria mais 1.600 imóveis em Jerusalém Oriental.
O anúncio causou constrangimento a Biden e abalou a disposição palestina de retomar a negociação de paz -parada há 15 meses- por vias indiretas. Hillary chegou a dizer que o anúncio foi um "insulto".
Os palestinos têm o fim das construções israelenses na Jerusalém Oriental como requisito para o diálogo porque reivindicam a cidade como capital de seu futuro Estado. Para eles e para boa parte da comunidade internacional, o avanço urbano israelense é ilegal e impõe um obstáculo para a paz.
Desde o conturbado anúncio, Netanyahu conversou com Hillary por telefone, diminuindo a tensão. Ontem, ele se encontrou com o enviado de Obama para o Oriente Médio, George Mitchell. Em Washington, ele se reúne hoje com o grupo pró-Israel Aipac (Comitê Americano de Assuntos Públicos de Israel) e, segundo um assessor, na terça-feira, com Obama.
Em Washington, como meio de compensar a rusga na questão dos assentamentos, Netanyahu indica que cederá na preferência por um diálogo direto com os palestinos e aceitará a mediação de Mitchell no debate de questões do conflito consideradas centrais, como fronteiras e refugiados, além do futuro de Jerusalém.
Nabil Abu Rdainah, assessor de Mahmoud Abbas, presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), disse ontem que a comparação de Netanyahu entre Jerusalém Oriental a Tel Aviv "não contribui para a retomada das negociações" e acusou o governo israelense de minar os esforços de paz dos EUA e do chamado Quarteto (que inclui, além dos EUA, a Rússia, a ONU e a União Europeia).
Hoje, Mitchell irá se encontrar com Abbas, na Jordânia.
Para o assessor de Abbas, a escalada de violência na Cisjordânia "e o assassinato diário de palestinos são a mensagem do governo de Israel aos árabes e aos esforços americanos".
Em 24 horas, quatro palestinos foram mortos por militares de Israel na Cisjordânia. No sábado, soldados atiraram contra dois irmãos adolescentes num protesto contra obras israelenses. Um morreu na hora e outro morreu ontem. Outros dois palestinos foram mortos quando, segundo o Exército israelense, tentavam atacar soldados. Autoridades palestinas, no entanto, afirmaram que eles tinham sido presos antes.
O diretor-executivo do Instituto Washington das Políticas do Oriente Médio, Robert Satloff, disse ontem que a crise dos aliados é "séria" e "real". "Quando [a crise] se resolver -e acho que está em via disso- , deixará feridas de ambos os lados, inclusive, creio, nos mais altos níveis", afirmou.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Milhares fazem protesto por reforma migratória nos EUA
Próximo Texto: Visita: Em Gaza, secretário-geral da ONU pede fim de bloqueio israelense
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.