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IRAQUE OCUPADO
Entre os mortos há 17 crianças; cerca de 200 pessoas foram feridas nas cinco explosões sincronizadas
Atentados matam ao menos 68 em Basra
DA REDAÇÃO
Uma série coordenada de atentados terroristas com carros-bomba deixou ontem ao menos
68 mortos em Basra, no sul do Iraque, sendo 17 deles crianças. A
ação, que feriu cerca de 200 pessoas, rompe um período de 50
dias sem ataques no país onde,
desde agosto, 753 pessoas foram
mortas em incidentes similares.
As explosões ocorreram pouco
após as 7h, no horário do rush. Os
terroristas detonaram quatro carros carregados com TNT em frente a uma academia de polícia e a
três delegacias, uma delas vizinha
ao maior mercado de rua da cidade. Uma hora depois, um quinto
veículo explodiu em frente a uma
delegacia em um subúrbio sunita
da cidade, a maior do majoritariamente xiita sul do país, região sob
jurisdição britânica na ocupação.
A explosão mais dramática
ocorreu em frente à delegacia do
bairro de Saudia, abrindo uma
cratera de dois metros de profundidade e atingindo dois microônibus escolares. Ao menos dez
crianças da pré-escola e sete meninas com idades entre 10 e 15
anos morreram carbonizadas.
Quando soldados britânicos
acorreram ao local, foram impedidos de prestar socorro por uma
multidão que os acusava de fracassar em garantir a segurança.
As características dos ataques
-alto grau de coordenação e
grande número de civis atingidos- levaram as autoridades iraquianas a citar a Al Qaeda, a rede
responsável pelo 11 de Setembro,
como principal suspeita. A administração americana no país acredita que a organização terrorista
comandada por Osama bin Laden
tenha forte presença no Iraque.
A polícia descobriu outros três
carros-bomba que ainda não haviam sido detonados e prendeu
três suspeitos dos ataques.
"Novamente, atentados nos
mostram que os terroristas querem matar o maior número possível de pessoas, indiscriminadamente", disse o líder da administração americana no Iraque, Paul
Bremer. "Eles têm uma visão distorcida do futuro do Iraque."
Guerra civil
Os ataques de ontem preservam
duas características já vistas em
ataques, ambas aparentemente
talhadas para acirrar as tensões
internas, dificultando tanto a ocupação quanto a transição política.
A primeira delas é o fato de o alvo primário serem policiais -dez
deles morreram ontem. Analistas
citam duas causas para isso: o fato
de a polícia ser vista como aliada
das forças americanas, logo considerada traidora pelos insurgentes, e a intenção de solapar as já
débeis forças de segurança iraquianas instituídas pelos EUA.
Nesta semana, autoridades americanas afirmaram não ver nessas
forças a capacidade necessária para conter a insurgência.
A outra característica a ser ressaltada no ataque é o fato de ele ter
ocorrido na maior cidade xiita do
país, Basra, relativamente tranqüila sob a presença das tropas
britânicas. Depois das delegacias,
o segundo alvo iraquiano mais visado pela insurgência -e pelos
terroristas estrangeiros, caso se
confirme a suspeita sobre a Al
Qaeda- são as mesquitas. Além
disso, os últimos grandes atentados visaram os xiitas, inclusive o
maior deles, ocorrido em 2 de
março último, que matou 171 pessoas em Bagdá e Karbala.
Analistas apontam esse fator
como uma tentativa de instigar os
xiitas -que perfazem 60% da população iraquiana e passaram os
35 anos da ditadura do partido
Baath reprimidos- contra a minoria sunita, detonando uma
guerra civil e inviabilizando a
transição. Essa percepção ganhou
corpo em janeiro, quando as forças dos EUA apreenderam uma
carta atribuída a um militante da
Al Qaeda na qual ele pedia ajuda
para fomentar tal confronto.
O ministro do Interior iraquiano, Samir Shaker Mahmoud al
Sumeidi, comparou o ataque de
ontem ao do dia 2 de março e ao
duplo atentado nas sedes de partidos curdos em Irbil, que matou
109 pessoas em 1º de fevereiro.
Um funcionário do governo
britânico que falou sob condição
de anonimato disse "estar certo
de que os atentados foram provocados por terroristas estrangeiros
ou por sunitas" que faziam parte
do regime deposto. "Se há uma
coisa da qual tenho certeza é de
que não foram os xiitas", disse.
Bush e Blair
Em Londres, o premiê Tony
Blair disse que não pretende reforçar a presença militar britânica
no país, atualmente de 11 mil homens, apesar dos atentados. O líder britânico, principal aliado dos
EUA na operação iraquiana, também declarou que a determinação
da coalizão de reconstruir o país
não seria abalada.
"A maioria do povo iraquiano
quer um Iraque estável e democrático", disse Blair na Câmara
dos Comuns. "Esses terroristas
querem nos deter, e nós, todos
nós na comunidade internacional, temos de nos unir à maioria
iraquiana para assegurar que eles
não sejam bem-sucedidos e que a
democracia prevaleça", declarou.
Em Washington, seu aliado
George W. Bush fez comentários
semelhantes, mas admitiu que as
últimas semanas no Iraque
-marcadas por seqüestros de civis estrangeiros e levantes contra
a ocupação em Najaf e Fallujah - foram
"especialmente difíceis. "O povo
iraquiano está olhando para os
americanos e perguntando: vocês
vão sair correndo? Nós não vamos sair correndo enquanto eu
estiver no governo", afirmou.
Com agências internacionais
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