São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Destituição foi precedida de ações inusitadas no Congresso do país

BRUNO FIUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM QUITO

A destituição do presidente Lucio Gutiérrez pelo Congresso equatoriano na quarta-feira, dia 20, foi precedida por ações inusitadas por parte dos deputados da oposição.
Pela manhã, diante da inversão da pauta que tirou a prioridade da votação da reforma do poder judiciário promovida pelo presidente da casa, deputado Omar Quintana do Partido Roldosista Equatoriano, por volta das 11h os 45 deputados que formam o bloco de oposição ao governo, em uma iniciativa inesperada, anunciaram que estavam se retirando do recinto e dirigiam-se ao prédio do Ciespal para continuar a seção. Até então os parlamentares estavam na sede do Banco Central do Equador, onde se reúne o Congresso desde que sua sede original foi alvo de um incêndio no final do ano passado.
Ao chegarem ao Ciespal a primeira atitude dos deputados foi votar a destituição do presidente Omar Quintana sob a acusação de que o presidente estaria gerando o caos no Congresso, e nomear a deputada Cynthia Viteri do Partido Social Cristão para presidir a sessão. O deputado Salvador Quispe, do partido indígena Pachakutik, afirma que a decisão foi o resultado de um longo histórico de dificuldades entre a oposição e Quintana, a quem acusa de insistentemente ter imposto a pauta sem consultar os demais legisladores. Quispe afirma ainda que essa era uma estratégia deliberada articulada entre Quintana e o governo para gerar o caos na casa e assim sujar sua imagem, justificando uma eventual dissolução.
Após a destituição de Quintana, os deputados reunidos no Ciespal passaram a trabalhar na destituição do próprio presidente Gutiérrez. Além dos 45 deputados de oposição, outros 17 juntaram-se ao grupo que foi ao Ciespal. Os 62 deputados então passaram a discutir a moção apresentada pelo deputado Ramiro Rivera, da Democracia Popular, que pedia a destituição do presidente por abandono do cargo e violação da Constituição por interferir em outros poderes do Estado, baseado no artigo 167 da Constituição. Como o consenso já estava formado, a moção foi aprovada com 60 votos a favor por volta das 13h.
Quispe diz que a ação dos deputados foi uma tentativa de responder à demanda do povo nas ruas, que exigia uma solução à crise política. Quando deixaram o Banco Central já havia dois mortos nos protestos. Segundo ele, a pressão popular foi a razão pela qual governistas se uniram à oposição.


Texto Anterior: Desta vez, índios pouco influíram na deposição
Próximo Texto: Artigo: O Equador e a crise sem fim
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.