São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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O NOVO PAPA

Cardeal liberal saiu na frente no conclave

Italiano Martini foi o mais votado na 1ª rodada, mas Ratzinger conquistou ampla maioria; curiosidades começam a vazar

DA REDAÇÃO

As informações sobre o que ocorreu na capela Sistina durante o misterioso conclave que elegeu como papa o cardeal alemão Joseph Ratzinger começaram a vazar ontem. O conservador venceu com ampla maioria, mas na primeira votação não foi o favorito.
Ratzinger, que foi eleito em apenas quatro escrutínios, não foi o cardeal que mais obteve votos na primeira votação, na segunda-feira à tarde. Na ocasião, foi superado pelo italiano progressista Carlo Maria Martini, que recebeu cerca de 40 votos. Martini, aos 78 anos e com mal de Parkinson, dificilmente venceria, mas os oponentes de Ratzinger, liderados pelos cardeais alemães Karl Lehmann e Walter Kasper, não conseguiram mobilizar apoio a um outro moderado. Na manhã seguinte, porém, os indecisos começaram a votar no alemão.
Alguns jornais levantaram a hipótese, não comprovada, de que tenha havido um pacto em torno do nome de Ratzinger, proposto pelo próprio Martini a fim de tentar evitar boatos sobre uma igreja dividida.
De acordo com os cardeais, Ratzinger obteve entre 95 e 107 votos, de um total de 115 -para ser eleito, bastavam 77. O vaticanista do jornal italiano "Il Messaggero", Orazio Petroselli, afirmou que "apenas sete votos não eram para ele". Alguns periódicos italianos afirmaram ontem que que o alemão obteve a maioria necessária ainda na manhã de terça-feira, mas teria pedido uma nova votação, que ocorreu na terça-feira à tarde, para confirmar a escolha.
Quando Ratzinger foi eleito, todos na capela aplaudiram, mas o escolhido permaneceu de cabeça baixa, sem se mover, dando a impressão de que poderia não aceitar a missão para a qual era indicado. "Todo mundo aplaudia e ele mantinha a cabeça baixa. Estava rezando", disse o cardeal britânico Murphy O'Connor.
Os cardeais latino-americanos, apontados como papáveis, não foram um obstáculo para a eleição de mais um europeu. "Muitos nomes de latino-americanos foram mencionados pela imprensa como papáveis. Mas na votação eles desapareceram", disse o cardeal chileno Francisco Errazuriz Ossa. Alguns eleitores disseram que as qualidades do cardeal alemão eram tão impressionantes, que não havia contestação. Seu desempenho após a morte de João Paulo 2º também despertou admiração entre os colegas.
Depois da eleição houve um brinde com champanhe, mas o novo papa bebeu apenas "um golinho, já que é abstêmio", afirmou o cardeal mexicano Javier Lozano Barragán.

Confusões
Em tom de brincadeira, fontes do Vaticano contaram que no momento em que os cardeais elegeram o papa e quiseram enviar ao mundo o famoso sinal, houve um problema com a chaminé a capela ficou cheia de fumaça.
"Foram necessárias duas tentativas para obter a fumaça branca, a chaminé não funcionava e a capela ficou cheia de fumaça", disse o cardeal holandês Adrianus Simonis, segundo o diário italiano "Corriere della Sera". "Por sorte não havia na capela nenhum especialista em história da arte", brincou o cardeal austríaco Christoph Schönborn, referindo-se aos afrescos restaurados de Michelangelo.
Quando a fumaça branca finalmente apareceu para os milhares de fiéis que esperavam na praça São Pedro, os sinos da basílica, que seriam tocados para evitar confusões em torno da cor do sinal, demoraram a balançar. Com a emoção, os cardeais esqueceram de avisar o responsável pelo novo aviso.


Com agências internacionais

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