São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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RELIGIÃO

Martini é visto como liberal

Camisinha contra Aids é "mal menor", diz cardeal

DA ASSOCIATED PRESS

O cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo aposentado de Milão e que foi bem votado no conclave que escolheu o papa, no ano passado, declarou que as camisinhas constituem um "mal menor" no combate à Aids. Trata-se do mais recente clérigo de alto escalão a divergir da oposição feita pelo Vaticano à contracepção artificial.
O cardeal também sugeriu que até mesmo mulheres solteiras devem ser autorizadas a levar a termo uma gravidez com embriões congelados, se a alternativa for deixar os embriões morrerem nas clínicas de fertilidade. A igreja defende que qualquer procriação deve acontecer dentro do casamento, e o Vaticano também se opõe a muitos procedimentos de fertilidade assistida.
Martini, 79, que foi visto como alternativa liberal ao cardeal Joseph Ratzinger no conclave de 2005 que fez de Ratzinger o novo papa, concedeu uma grande entrevista ao semanário italiano "L'Espresso", em que falou sobre uma série de questões de bioética.
Ele respondeu a perguntas que lhe foram colocadas pelo cientista italiano Ignazio Marino, especialista em bioética e diretor do centro de transplantes do Jefferson Medical College, em Filadélfia. Marino perguntou ao cardeal como a igreja pode continuar a opor-se ao uso de camisinhas como meio de combater a difusão do HIV, especialmente quando se leva em conta que a doutrina oficial da igreja permite que se opte pelo menor de dois males em casos em que há vidas em jogo.
"Devemos fazer tudo para combater a Aids", respondeu Martini. "Com certeza, o uso da camisinha pode constituir um mal menor, em determinadas situações. Também existe a situação singular de um casal casado, um de cujos integrantes sofra de Aids. Essa pessoa terá a obrigação de proteger a outra, e a outra precisa ter condições de proteger-se."
Porém, observou Martini, uma coisa é optar pelo mal menor em tais casos, e outra inteiramente é a igreja promover publicamente o uso da camisinha.

Abstinência
Suas declarações ecoaram as de outros clérigos, incluindo o cardeal belga Godfried Danneels e o mexicano Javier Lozano Barragan, que já declararam que a camisinha pode ser aceita em alguns casos, como, por exemplo, quando uma mulher não pode rejeitar os convites sexuais de seu marido soropositivo.
Embora não exista nenhuma política oficial do Vaticano com relação ao uso da camisinha para proteger as pessoas contra a Aids, o Vaticano se opõe ao uso dela porque constitui uma forma de contracepção artificial. O papa reiterou a posição do Vaticano ainda em junho passado, quando disse a bispos africanos que a única maneira realmente segura de prevenir a difusão do HIV é praticar a abstinência.


Tradução de Clara Allain


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