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RELIGIÃO
Martini é visto como liberal
Camisinha contra Aids é "mal menor", diz cardeal
DA ASSOCIATED PRESS
O cardeal Carlo Maria Martini,
arcebispo aposentado de Milão e
que foi bem votado no conclave
que escolheu o papa, no ano passado, declarou que as camisinhas
constituem um "mal menor" no
combate à Aids. Trata-se do mais
recente clérigo de alto escalão a
divergir da oposição feita pelo Vaticano à contracepção artificial.
O cardeal também sugeriu que
até mesmo mulheres solteiras devem ser autorizadas a levar a termo uma gravidez com embriões
congelados, se a alternativa for
deixar os embriões morrerem nas
clínicas de fertilidade. A igreja defende que qualquer procriação
deve acontecer dentro do casamento, e o Vaticano também se
opõe a muitos procedimentos de
fertilidade assistida.
Martini, 79, que foi visto como
alternativa liberal ao cardeal Joseph Ratzinger no conclave de
2005 que fez de Ratzinger o novo
papa, concedeu uma grande entrevista ao semanário italiano
"L'Espresso", em que falou sobre
uma série de questões de bioética.
Ele respondeu a perguntas que
lhe foram colocadas pelo cientista
italiano Ignazio Marino, especialista em bioética e diretor do centro de transplantes do Jefferson
Medical College, em Filadélfia.
Marino perguntou ao cardeal como a igreja pode continuar a
opor-se ao uso de camisinhas como meio de combater a difusão
do HIV, especialmente quando se
leva em conta que a doutrina oficial da igreja permite que se opte
pelo menor de dois males em casos em que há vidas em jogo.
"Devemos fazer tudo para combater a Aids", respondeu Martini.
"Com certeza, o uso da camisinha
pode constituir um mal menor,
em determinadas situações. Também existe a situação singular de
um casal casado, um de cujos integrantes sofra de Aids. Essa pessoa terá a obrigação de proteger a
outra, e a outra precisa ter condições de proteger-se."
Porém, observou Martini, uma
coisa é optar pelo mal menor em
tais casos, e outra inteiramente é a
igreja promover publicamente o
uso da camisinha.
Abstinência
Suas declarações ecoaram as de
outros clérigos, incluindo o cardeal belga Godfried Danneels e o
mexicano Javier Lozano Barragan, que já declararam que a camisinha pode ser aceita em alguns casos, como, por exemplo,
quando uma mulher não pode rejeitar os convites sexuais de seu
marido soropositivo.
Embora não exista nenhuma
política oficial do Vaticano com
relação ao uso da camisinha para
proteger as pessoas contra a Aids,
o Vaticano se opõe ao uso dela
porque constitui uma forma de
contracepção artificial. O papa
reiterou a posição do Vaticano
ainda em junho passado, quando
disse a bispos africanos que a única maneira realmente segura de
prevenir a difusão do HIV é praticar a abstinência.
Tradução de Clara Allain
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