São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2011

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Gaddafi usa escudo humano, diz brasileiro

Fotógrafo afirma que em Misrata rebeldes estão cercados pelas forças do ditador da Líbia, e a Otan, impotente

André Liohn foi quem reconheceu corpos dos colegas britânico e americano mortos anteontem no conflito

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

As operações aéreas da Otan (a aliança militar ocidental) na Líbia tornou-se impotente para romper o cerco do ditador Muammar Gaddafi às forças rebeldes no oeste do país, que já pedem o envio de uma força internacional por terra.
O testemunho é do fotógrafo brasileiro André Liohn, que, há duas semanas, registra os combates em Misrata, trabalhando para a ONG Human Rights Watch.
Liohn divulgou, em sua página no Facebook, a morte anteontem do fotógrafo britânico Tim Hetherington (indicado ao Oscar pelo documentário "Restrepo", de 2010) e do americano Chris Hondros, atingidos por morteiros disparados por governistas. "Chegaram mortos ao hospital", disse ele, que fez o reconhecimento dos corpos.
Única cidade do oeste controlada por rebeldes, Misrata está sob intensos ataques há dois meses. O cerco resultou na morte de centenas de pessoas, grande parte civis.
Liohn, 36, chegou a Misrata pelo mar. Para driblar o bloqueio terrestre de Gaddafi, embarcou num pesqueiro, em que fez a travessia de 40 horas de Benghazi, no leste, até Misrata.
Encontrou uma situação bem diferente da que presenciara no leste do país, região sob controle dos insurgentes anti-Gaddafi.
Em Misrata os rebeldes estão cercados. "É uma guerra urbana, e isso neutralizou a ação da Otan, que não pode bombardear as forças do Gaddafi sem atingir civis."
Liohn conta que acompanhou um grupo de rebeldes no resgate de duas famílias que eram mantidas há dois meses como escudos humanos por soldados líbios em Misrata, num local onde tanques estavam posicionados.
Além de escudos humanos, as forças de Gaddafi também têm utilizado bombas de fragmentação, banidas por diversos países, relata Liohn. Ele diz ter fotografado cartuchos do armamento.
O fotógrafo conta que o tratamento amigável que recebia dos rebeldes por ser brasileiro esfriou depois que o Brasil se absteve na votação que aprovou no Conselho de Segurança da ONU a ação aérea contra Gaddafi.


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