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CAXEMIRA
Assassinato de separatista amplia tensão
PETER POPHAM
DO "THE INDEPENDENT", EM SRINAGAR
O assassinato do líder separatista Abdul Gani Lone é uma notícia
terrível para quem sonha com o fim do sofrimento na Caxemira.
Lone, que, há apenas quatro anos, dera boas-vindas a militantes islâmicos estrangeiros que vieram lutar contra o governo indiano, mudara o tom no último ano.
Ontem de manhã, na última entrevista de sua vida, ele disse: "Os
combatentes islâmicos têm seus próprios interesses. Eu os acolhi
em 1998 porque estavam sob
muita pressão. Mas, quando atacaram alvos na Índia, eu disse:
"Deixem-nos decidir nosso próprio destino. Essa luta é nossa'".
Ainda não se sabe quem o matou ontem, mas se sabe quem ganha com isso: linhas-duras na Índia, na Caxemira e no Paquistão.
Lone se opôs publicamente a
eles. Seu ato político mais corajoso foi ir a Dubai em dezembro se
reunir com líderes moderados
para achar formas pacíficas de lutar pela libertação da Caxemira.
Isso foi cavar sua própria cova.
Lone tinha quase 70 anos. Nos
anos 70, foi ministro da Educação
no governo estadual. Com a deterioração da situação na Caxemira,
ele se radicalizou e, em 1977, fundou o Partido da Conferência dos
Povos, que presidiu até morrer.
Nos anos 90, se convenceu de
que a separação era a única esperança da Caxemira. Ele nunca
adotou a luta armada, mas entendia a motivação dos que o fizeram. "Quando a Índia não dá espaço para o dissenso e força a população a obedecer à sua vontade,
acaba com as alternativas."
Em 1994, Lone levou seu partido à Conferência Hurriyat, que
abriga partidos separatistas operando na legalidade. É uma coalizão pouco inspiradora. Seus
membros se recusam a participar
de eleições estaduais e vivem em
um universo paralelo de seminários e entrevistas, exigindo um lugar à mesa para definir o futuro
da Caxemira enquanto a Índia diz
que não há nada para discutir.
Lone costumava explicar os detalhes da situação aos repórteres
que iam à sua casa em Srinagar
com um olhar feroz. Mas gradualmente construiu uma posição política muito corajosa: os militantes islâmicos estrangeiros têm de
partir; os caxemirianos têm de liderar sua própria libertação; as
disputas na Caxemira só podem
ser resolvidas com negociações.
Após 11 de setembro, seus apelos
por moderação ficaram mais claros e mais urgentes. Isso desagradou os linhas-duras do Hurriyat.
Sua morte é um triunfo -temporário, espera-se- para os que
crêem que a Caxemira deve atravessar mais rios de sangue para
chegar à sua terra prometida.
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