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Governador diz buscar não-violência
DO ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN
O sequestro do governador do Departamento de Antioquia, Guillermo Gaviria, pelos guerrilheiros das Farc, há um mês, é parte da luta pelo fim do conflito, não o
fundo do poço para a Colômbia, diz o governador em exercício,
Eugenio Prieto Mesa, 39.
Gaviria foi levado enquanto participava de uma marcha pacifista pelo interior do Departamento. Ciente dos riscos que corria, deixou uma espécie de carta
testamento, na qual indicava Prieto, então presidente do Instituto
de Desenvolvimento de Antioquia, para ocupar o cargo vago.
Pedia ainda ao governo para não ceder mediante as exigências da
guerrilha, que quer a libertação de rebeldes presos para soltá-lo.
O governador em exercício recebeu a Folha para a entrevista
que se segue.
(RW)
Folha - O sequestro de um governador, o primeiro na história do
conflito no país, é o fundo do poço?
Eugenio Prieto Mesa - O Departamento de Antioquia é o que
mais sofre as consequências do
conflito. Aqui estão concentrados
35% do conflito, com a presença
de todos os seus atores. Há uma
disputa intensa entre esses grupos
por domínio de território.
Antioquia está buscando caminhos diferentes, alternativas à saída militar. Enquanto todo mundo
fala que a única solução é o conflito, nós pensamos que o caminho
é a não-violência.
Por isso o governador resolveu
fazer essa marcha em que foi sequestrado, mesmo sabendo os
riscos que corria.
Folha - Mas ele não foi ingênuo,
ao avisar por antecipação às Farc
que faria uma marcha pela paz sem
escolta pela região controlada pela
guerrilha?
Prieto - Na história, muitos líderes foram chamados de ingênuos,
inoportunos, mas só quem se
atreve a lutar consegue mudanças
sociais, culturais e políticas.
Ele sabia do risco que corria,
mas seu amor por Antioquia, sua
convicção de que devemos buscar
alternativas e sua crença na filosofia da não-violência fez com que
buscasse atacar as causas estruturais da violência.
Folha - Se até o governador de
Antioquia pode ser sequestrado, o
que pode esperar a população do
Departamento?
Prieto - Quem é mais livre? As
pessoas que se atrevem a buscar
caminhos de reconciliação e diálogo, arriscando sua própria vida
e sua liberdade para que no futuro
possa haver uma possibilidade de
paz neste país, ou nós, que ficamos aqui sentados sem fazer nada
e que não podemos ir de um lado
a outro com tranquilidade?
Isso pode aumentar a sensação
de insegurança, mas não nos tira a
esperança.
Folha - A situação de Antioquia
hoje é pior do que a que vivia nos
anos 1980, quando o narcotráfico
tomava conta da região?
Prieto - Mudaram um pouco os
atores, mas o narcotráfico segue
sendo o insumo fundamental do
conflito. A violência não pode ser
atribuída somente ao narcotráfico, há causas estruturais.
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