São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governador diz buscar não-violência

DO ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN

O sequestro do governador do Departamento de Antioquia, Guillermo Gaviria, pelos guerrilheiros das Farc, há um mês, é parte da luta pelo fim do conflito, não o fundo do poço para a Colômbia, diz o governador em exercício, Eugenio Prieto Mesa, 39.
Gaviria foi levado enquanto participava de uma marcha pacifista pelo interior do Departamento. Ciente dos riscos que corria, deixou uma espécie de carta testamento, na qual indicava Prieto, então presidente do Instituto de Desenvolvimento de Antioquia, para ocupar o cargo vago. Pedia ainda ao governo para não ceder mediante as exigências da guerrilha, que quer a libertação de rebeldes presos para soltá-lo.
O governador em exercício recebeu a Folha para a entrevista que se segue. (RW)

Folha - O sequestro de um governador, o primeiro na história do conflito no país, é o fundo do poço?
Eugenio Prieto Mesa -
O Departamento de Antioquia é o que mais sofre as consequências do conflito. Aqui estão concentrados 35% do conflito, com a presença de todos os seus atores. Há uma disputa intensa entre esses grupos por domínio de território.
Antioquia está buscando caminhos diferentes, alternativas à saída militar. Enquanto todo mundo fala que a única solução é o conflito, nós pensamos que o caminho é a não-violência.
Por isso o governador resolveu fazer essa marcha em que foi sequestrado, mesmo sabendo os riscos que corria.

Folha - Mas ele não foi ingênuo, ao avisar por antecipação às Farc que faria uma marcha pela paz sem escolta pela região controlada pela guerrilha?
Prieto -
Na história, muitos líderes foram chamados de ingênuos, inoportunos, mas só quem se atreve a lutar consegue mudanças sociais, culturais e políticas.
Ele sabia do risco que corria, mas seu amor por Antioquia, sua convicção de que devemos buscar alternativas e sua crença na filosofia da não-violência fez com que buscasse atacar as causas estruturais da violência.

Folha - Se até o governador de Antioquia pode ser sequestrado, o que pode esperar a população do Departamento?
Prieto -
Quem é mais livre? As pessoas que se atrevem a buscar caminhos de reconciliação e diálogo, arriscando sua própria vida e sua liberdade para que no futuro possa haver uma possibilidade de paz neste país, ou nós, que ficamos aqui sentados sem fazer nada e que não podemos ir de um lado a outro com tranquilidade?
Isso pode aumentar a sensação de insegurança, mas não nos tira a esperança.

Folha - A situação de Antioquia hoje é pior do que a que vivia nos anos 1980, quando o narcotráfico tomava conta da região?
Prieto -
Mudaram um pouco os atores, mas o narcotráfico segue sendo o insumo fundamental do conflito. A violência não pode ser atribuída somente ao narcotráfico, há causas estruturais.



Texto Anterior: América Latina: Medellín é teste para favorito na Colômbia
Próximo Texto: Eleição colombiana motiva ação na fronteira, diz general brasileiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.