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Faézé, sozinha e "despida", subverte lei islâmica e enfrenta preconceito
Farima Zafai/Folha Imagem
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A iraniana Faézé Mohamadi, sem véus |
DO ENVIADO A TEERÃ
Na república dos aiatolás,
mais perigoso do que morar sozinha é aparecer em público ou
em fotografias sem o "rousari"
e o mantô. Faézé Mohamadi,
30, faz os dois. Pelo primeiro, já
foi chamada de prostituta. Pelo
segundo, corre o risco de ser
presa. "Eu não ligo, pode publicar", diz ela à reportagem da
Folha, quando indagada se não
tem medo de aparecer em trajes ocidentais.
Quando a Revolução Islâmica derrubou o xá, ela tinha 3
anos. Aos sete, com o regime
cada vez mais duro, foi obrigada a seguir a "hijab". "Lembro
até hoje quando tive de ir à escola pela primeira vez com o
lenço na cabeça e o mantô cobrindo o corpo", conta. "Foi a
maior agressão que eu sofri."
Desde então, sempre que pode,
descumpre a lei com a qual não
concorda.
Não é a única regra que Faézé
não segue. Com a sua idade, já
tinha de estar casada -se não,
morando na casa dos pais. Solteira, vive sozinha num prédio
de cinco andares no centro de
Teerã, cidade onde nasceu.
Pior: recebe em casa amigos
homens que não são seus parentes de sangue e sem a presença de outra mulher, como
exige o islã. E os cumprimenta
dando a mão direita, deferência
reservada apenas ao marido.
Quando um vizinho a flagrou
fazendo isso, no corredor do
andar em que mora, ameaçou
chamar a polícia. Desconfiou
que poderia ser uma garota de
programa, crime que lhe custaria a vida e desgraçaria sua família. Pois foram estes que o
salvaram. Faézé pediu que seus
pais e quatro irmãos passassem
a visitá-la.
Ostensivamente, dia sim, dia
não. "Sempre que um deles vinha aqui, eu chamava um vizinho para conhecê-lo. Aos poucos, viram que eu tinha apoio
familiar e foram se acostumando. Hoje, quase não ouço desaforos no prédio."
Na rua é outra história. Não
que ela ouse sair sem as vestimentas. "Nunca vi uma mulher
de cabeça descoberta em Teerã", fala, achando graça da pergunta. "Vi uma, mas era louca."
É que, quando os colegas sabem que ela é solteira e mora
sozinha, acham que não há problema em tomar certas liberdades -como dar a mão a alguém
em público. Foi assim na ONG
em que a socióloga dá aula de
farsi (persa) para meninas
francesas. "Um deles veio me
perguntar o que havia de errado comigo."
(SD)
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