São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2008

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Israel e Síria anunciam volta à negociação

Conversas sobre paz, que ocorrem sob intermediação da Turquia, estavam suspensas desde 2000; teor ainda é incógnita

Primeiro-ministro de Israel consegue com o anúncio pôr em segundo plano ação da polícia que apura suposto crime eleitoral que cometeu


Menahem Kahana/France Presse
Soldados israelenses no Golã; Olmert acena com devolução a Damasco de colinas capturadas em 1967

DA REDAÇÃO

Os governos da Síria e de Israel anunciaram ontem, simultaneamente, que reiniciaram negociações de paz. Os contatos entre as duas delegações estão sendo intermediados em Ancara por diplomatas turcos, que também confirmaram a retomada das conversações interrompidas há oito anos.
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse "ser preferível negociar a disparar armas de fogo". Afirmou que os entendimentos serão "longos e complexos" e que poderiam terminar em "concessões difíceis" para seu país -menção à devolução à Síria das colinas do Golã, capturadas em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias e onde assentamentos judaicos hoje reúnem 17 mil colonos.
O chefe da diplomacia síria, Walid Moualem, disse à agência Reuters que, sem o compromisso israelense de desocupação daquele território, "nada poderíamos negociar".
Além da instituição de uma faixa desmilitarizada na fronteira existente antes de 1967, Israel também exigirá que a Síria retire o apoio a grupos islâmicos radicais que ameaçam sua segurança interna.
É uma referência ao Hamas -que, um ano e meio após vencer as eleições parlamentares palestinas de janeiro de 2006, assumiu o controle militar de Gaza- e ao Hizbollah, milícia xiita que controla o sul do Líbano e que, como partido político, negociou sua reintegração ao governo local.
A essas condições, de elaboração ainda embrionária, soma-se também a pressão israelense para afastar a Síria do incômodo Irã, do qual ela se tornou uma aliada preferencial.
A ditadura síria, dizem os analistas, teria uma oportunidade de reinserção no mundo árabe. Países sunitas como a Arábia Saudita recriminam o regime de Damasco por insuflar a ascensão da única potência regional xiita.
A Síria -e tudo isso num cenário ainda distante- também poderia se reaproximar dos EUA, que agora a consideram como integrante do "eixo do mal", por seu apoio material e logístico a grupos terroristas.

Frieza de Washington
A reação de Washington foi discreta. A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que o governo Bush "não está surpreso" e espera que as negociações se transformem num fórum que levantará suas preocupações, sobretudo o apoio sírio aos radicais da região.
É uma maneira indireta de dizer que não haverá apoio efusivo e que a questão poderá ser tratada em termos mais engajados apenas pelo sucessor de Bush, a partir de janeiro.
Segundo o jornal israelense "Haaretz", os EUA foram informados em detalhes da existência do esboço de negociação.
Entre os israelenses, a devolução do Golã não é consensual. Ao contrário, 51% se opõem, e só 32% a aprovam, segundo pesquisa em abril do Instituto Dahaf. Mas para o premiê Olmert o anúncio das negociações com a Síria chegam em bom momento, eclipsando o noticiário do depoimento que ele prestará amanhã no caso de corrupção eleitoral que pode obrigá-lo a renunciar ao cargo.
A reação mais contundente veio do deputado de oposição Yuval Steinitz. "O primeiro-ministro é tão corrupto que ele não está apenas aceitando dinheiro dentro de envelopes [para o caixa dois eleitoral]. Ele se dispõe agora a negociar o Golã e nossos interesses vitais."
A BBC diz que a negociação com a Síria foi para Olmert "um coelho providencial tirado da cartola diplomática".

Teor ignorado
O diálogo sírio-israelense foi rompido em 2000, aliás por desacordos em torno da devolução do Golã. No mês passado Olmert enviou carta ao ditador sírio, Bashar al Assad, propondo o reinício de contatos. Um dos ministros sírios, Buthaina Shaaban, disse em seguida existirem novas condições para o retorno à mesa de negociações.
Logo depois, e com o acordo prévio das duas partes, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, citou a predisposição de intermediar.
São desconhecidos os temas levantados nos primeiros encontros. Eles ocorrem em Ancara, num local não divulgado. Turquia, Israel e Síria concordam que por enquanto nenhuma declaração pública seria feita. Não há contatos diretos entre as delegações. Diplomatas turcos fazem a intermediação.
Dois dos mais próximos assessores de Olmert chegaram segunda-feira a Ancara e retornaram ontem a Jerusalém. São eles Yoram Turbovitz e Shalom Turjeman. A delegação síria é chefiada por Riad Daoudi, um influente diplomata.
Em Gaza, o porta-voz do Hamas, Ghazi Hamad, disse que as relações do grupo com a Síria são "intensas" e que não havia a expectativa de mudanças. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse esperar que os dois países atinjam a paz.


Com agências internacionais


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