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Israel e Síria anunciam volta à negociação
Conversas sobre paz, que ocorrem sob intermediação da Turquia, estavam suspensas desde 2000; teor ainda é incógnita
Primeiro-ministro de Israel
consegue com o anúncio pôr
em segundo plano ação da
polícia que apura suposto
crime eleitoral que cometeu
Menahem Kahana/France Presse
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Soldados israelenses no Golã; Olmert acena com devolução a Damasco de colinas capturadas em 1967
DA REDAÇÃO
Os governos da Síria e de Israel anunciaram ontem, simultaneamente, que reiniciaram
negociações de paz. Os contatos entre as duas delegações estão sendo intermediados em
Ancara por diplomatas turcos,
que também confirmaram a retomada das conversações interrompidas há oito anos.
O primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, disse "ser
preferível negociar a disparar
armas de fogo". Afirmou que os
entendimentos serão "longos e
complexos" e que poderiam
terminar em "concessões difíceis" para seu país -menção à
devolução à Síria das colinas do
Golã, capturadas em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias e
onde assentamentos judaicos
hoje reúnem 17 mil colonos.
O chefe da diplomacia síria,
Walid Moualem, disse à agência Reuters que, sem o compromisso israelense de desocupação daquele território, "nada
poderíamos negociar".
Além da instituição de uma
faixa desmilitarizada na fronteira existente antes de 1967,
Israel também exigirá que a Síria retire o apoio a grupos islâmicos radicais que ameaçam
sua segurança interna.
É uma referência ao Hamas
-que, um ano e meio após vencer as eleições parlamentares
palestinas de janeiro de 2006,
assumiu o controle militar de
Gaza- e ao Hizbollah, milícia
xiita que controla o sul do Líbano e que, como partido político,
negociou sua reintegração ao
governo local.
A essas condições, de elaboração ainda embrionária, soma-se também a pressão israelense para afastar a Síria do incômodo Irã, do qual ela se tornou uma aliada preferencial.
A ditadura síria, dizem os
analistas, teria uma oportunidade de reinserção no mundo
árabe. Países sunitas como a
Arábia Saudita recriminam o
regime de Damasco por insuflar a ascensão da única potência regional xiita.
A Síria -e tudo isso num cenário ainda distante- também
poderia se reaproximar dos
EUA, que agora a consideram
como integrante do "eixo do
mal", por seu apoio material e
logístico a grupos terroristas.
Frieza de Washington
A reação de Washington foi
discreta. A porta-voz da Casa
Branca, Dana Perino, disse que
o governo Bush "não está surpreso" e espera que as negociações se transformem num fórum que levantará suas preocupações, sobretudo o apoio sírio
aos radicais da região.
É uma maneira indireta de
dizer que não haverá apoio efusivo e que a questão poderá ser
tratada em termos mais engajados apenas pelo sucessor de
Bush, a partir de janeiro.
Segundo o jornal israelense
"Haaretz", os EUA foram informados em detalhes da existência do esboço de negociação.
Entre os israelenses, a devolução do Golã não é consensual.
Ao contrário, 51% se opõem, e
só 32% a aprovam, segundo
pesquisa em abril do Instituto
Dahaf. Mas para o premiê Olmert o anúncio das negociações com a Síria chegam em
bom momento, eclipsando o
noticiário do depoimento que
ele prestará amanhã no caso de
corrupção eleitoral que pode
obrigá-lo a renunciar ao cargo.
A reação mais contundente
veio do deputado de oposição
Yuval Steinitz. "O primeiro-ministro é tão corrupto que ele
não está apenas aceitando dinheiro dentro de envelopes
[para o caixa dois eleitoral]. Ele
se dispõe agora a negociar o Golã e nossos interesses vitais."
A BBC diz que a negociação
com a Síria foi para Olmert "um
coelho providencial tirado da
cartola diplomática".
Teor ignorado
O diálogo sírio-israelense foi
rompido em 2000, aliás por desacordos em torno da devolução do Golã. No mês passado
Olmert enviou carta ao ditador
sírio, Bashar al Assad, propondo o reinício de contatos. Um
dos ministros sírios, Buthaina
Shaaban, disse em seguida existirem novas condições para o
retorno à mesa de negociações.
Logo depois, e com o acordo
prévio das duas partes, o primeiro-ministro turco, Recep
Tayyip Erdogan, citou a predisposição de intermediar.
São desconhecidos os temas
levantados nos primeiros encontros. Eles ocorrem em Ancara, num local não divulgado.
Turquia, Israel e Síria concordam que por enquanto nenhuma declaração pública seria feita. Não há contatos diretos entre as delegações. Diplomatas
turcos fazem a intermediação.
Dois dos mais próximos assessores de Olmert chegaram
segunda-feira a Ancara e retornaram ontem a Jerusalém. São
eles Yoram Turbovitz e Shalom
Turjeman. A delegação síria é
chefiada por Riad Daoudi, um
influente diplomata.
Em Gaza, o porta-voz do Hamas, Ghazi Hamad, disse que as
relações do grupo com a Síria
são "intensas" e que não havia a
expectativa de mudanças. O
presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse esperar que os dois
países atinjam a paz.
Com agências internacionais
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