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ARTIGO
Nó libanês depende de paz Síria-Israel
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Pode ser mera coincidência
que o acordo no Líbano e o reinício das negociações entre Síria e Israel tenham sido anunciados no mesmo dia -ou uma
bem tramada composição diplomática para criar um duplo
impacto. O que não há como ignorar é a íntima relação entre
os dois processos.
Embora tenha se retirado do
Líbano em 2005, após 29 anos
de presença militar e domínio
político, a Síria ainda exerce
enorme influência no país.
Além de manter uma sólida
aliança com o grupo xiita Hizbollah, possui laços com o
Exército e conta até com um representante legal, o Partido
Nacionalista Social Sírio
(PNSS), que tem dois deputados no Parlamento.
Na semana passada, a reportagem da Folha comprovou
que bandeiras do PNSS tremulavam em áreas sunitas de Beirute tomadas a bala dias antes
pelo Hizbollah, que teve a ajuda de militantes armados do
partido pró-Síria na ação mais
grave de violência sectária desde a guerra civil (1975-1990).
Essa influência será peça fundamental de qualquer acordo
de paz entre Israel e Síria.
Para Israel, o fim do apoio sírio ao Hizbollah e o rompimento da aliança entre Damasco e
Teerã são consideradas condições básicas para um entendimento. Em troca, o governo israelense devolveria à Síria as
colinas do Golã, território ocupado em 1967.
Levada pela pressão internacional a se retirar do Líbano
após o assassinato do ex-premiê Rafik Hariri, em 2005, a Síria conseguiu manter um peso
político considerável no país
através de sua relação com o
Hizbollah, que ainda serve para
devolver a pressão em direção
a Israel. Uzi Arad, ex-diretor de
inteligência do Mossad, o serviço de espionagem israelense,
acha que as negociações só
avançarão se levarem em consideração todos esses atores,
sem esquecer o Irã.
"Qualquer tentativa de acordo entre Síria e Israel que mantiver o foco na questão territorial entrará em colapso rapidamente", disse Arad à Folha por
telefone, de Tel Aviv. "A aliança
da Síria com o Hizbollah e o Irã
torna a região instável, o que
inviabiliza um entendimento
que não desfaça essa conexão."
Arad lembra ainda que os
problemas domésticos enfrentados atualmente pelo premiê
israelense, Ehud Olmert, tornam ainda mais difícil a obtenção de progressos. Investigado
por suspeita de suborno, Olmert é impopular e, segundo
seus críticos, não tem legitimidade para fazer um acordo de
paz com a Síria.
"Assim que a retomada das
negociações foi anunciada, políticos tanto da direita como da
esquerda começaram a insinuar que é uma forma de Olmert desviar a atenção de seus
problemas domésticos", disse
Arad. "Provavelmente foi assim que boa parte do público
também recebeu a notícia."
Se a instabilidade no Líbano
é um fator central na negociação entre Síria e Israel, o acordo obtido em Qatar para resolver o impasse libanês também
sofreu influência da relação entre Damasco e Jerusalém. Um
dos temas mais espinhosos do
impasse político no Líbano, o
desarmamento do Hizbollah,
foi deixado de lado.
"O assunto foi levantado no
início das negociações", disse
de Beirute a analista Roula
Talj, recém-chegada de Doha,
onde acompanhou os cinco
dias de contatos mediados por
Qatar. "Mas a conclusão foi a
de que o desarmamento do
Hizbollah neste momento seria um presente para Israel."
Segundo ela, o assunto só será retomado após a conclusão
de um acordo de paz entre Israel e Síria, que deverá negociar também em nome do Líbano. Pelo que ouviu durante os
dias de negociação em Qatar,
Roula acha que as bases de um
acordo entre Síria e Israel já estão praticamente definidas,
restando detalhes sobre a definição da fronteira.
Ainda assim, o entendimento só deverá ser concluído no
próximo ano. De acordo com
Talj, o veto do governo Bush,
que acusa a Síria de apoiar a insurgência no Iraque, deve adiar
um desfecho. "O acordo provavelmente terá que esperar pelo
próximo morador da Casa
Branca", diz ela.
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